Dados da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres mostram que, assim como *, 1.333 vítimas relataram algum tipo de violência por parte de um conhecido, do marido ou do namorado. Do total, 728 denunciaram a agressão física e, outras 11, a violência sexual. As demais foram submetidas a cárcere privado, violência moral, psicológica e patrimonial.
O Distrito Federal ocupa 1; lugar no ranking de denúncias feitas pelo Disque 180, com 792 atendimentos para cada grupo de 100 mil mulheres. Ao todo, a Central de Atendimento das Mulheres recebeu 10.632 ligações. A média é de 35 por dia e pelo menos uma mulher é agredida a cada hora. ;A violência é uma coisa progressiva e começa com ciúme, com injúrias, ameaças, lesão corporal, até se concretizar em um homicídio;, explica a titular da Deam, delegada Ana Cristina Melo. Em 2011, a delegacia especializada registrou 3.171 ocorrências de violência contra a mulher. Em 2012, 162.
A secretária de Políticas para Mulheres do DF, Olgamir Amâncio, argumenta que o GDF tem se esforçado no sentido de dar visibilidade à violência e na promoção de uma nova cultura de respeito às mulheres, ainda na formação escolar. ;Temos essa vertente e também a de fortalecer e ampliar os abrigos, os núcleos de atendimento à violência e o apoio psicológico e jurídico;, disse. Olgamir avalia que a sociedade ainda é machista e costuma olhá-las sob o ponto de vista do preconceito. ;O fato de a mulher se comportar de uma maneira é colocado como justificativa do autor para praticar a violência. E as próprias vítimas acabam ficando com vergonha de relatar a agressão;, explicou a secretária.
Olgamir revela que policiais militares, civis, servidores de hospitais e de toda a rede pública têm recebido treinamento e palestras para saber como tratar vítimas de violência doméstica e contribuir para a diminuição desse tipo de crime. ;O pessoal da saúde tem por obrigação notificar a delegacia quando uma mulher chega vítima de violência e, muitas vezes, isso não é feito;, destacou.
Ameaças anteriores
Ana Cléa de Sousa Nascimento, 23 anos, trabalhava empacotando lanches em uma lanchonete pertencente à rede Giraffas no centro de Taguatinga. Por volta das 14h de sábado, ela foi morta pelo ex-companheiro nos fundos do estabelecimento. Segundo amigos da vítima, o casal estava separado havia 10 dias. Cláudio Rodrigues Mourão, 32 anos, também prestava serviços para a rede, por isso, funcionários não estranharam a presença dele no ponto comercial. O autor, que não fugiu da cena do crime, foi preso em flagrante e irá responder por homicídio duplamente qualificado. Ontem, por volta de 12h30, ele foi transferido à carceragem da Delegacia de Polícia Especializada (DPE).
O Correio conversou com um dos irmãos de Ana Cléa, o carpinteiro Francisco das Chagas Monteiro Sousa, 35 anos. Segundo ele, a jovem havia contado a amigos que Cláudio havia feito ameaças. Mesmo assim, não teria registrado ocorrência contra ele. ;Ela não falou diretamente para mim, mas a outras pessoas. Eu não conhecia muito o sujeito, não sabia que era capaz disso. Estamos todos desesperados. Pelo menos, conseguimos passar Natal e ano-novo com nossos familiares;, emendou.
Corpo liberado
Por volta das 14h de ontem, o corpo da jovem foi liberado do Instituto de Medicina Legal (IML). No fim do dia, por volta das 18h, ele foi encaminhado, de carro, para a cidade natal dela ; Amarante, no estado do Piauí, a mais de 1,5 mil quilômetros do DF. Nela, residem o pai e a mãe de Ana Cléa. O enterro tem previsão para acontecer amanhã, por volta das 10h. A jovem morava em Ceilândia com duas irmãs.
Segundo um funcionário da lanchonete, que não quis ser identificado, os colegas de Ana planejam viajar para acompanhar o enterro, mas não têm certeza se poderão se ausentar do trabalho. O estabelecimento comercial ficou aberto ontem. O caso é investigado pela 12; DP (Taguatinga Centro).
PALAVRA DE ESPECIALISTA ; É preciso integração
;A violência contra a mulher e as crianças tem sido lastimável. Existem múltiplas razões que levam a mulher a retirar a queixa sobre o violador, como emocionais, afetivas e sociais. Muitas delas, de alguma forma, dependem dos recursos do companheiro para se manter, mas a dependência também está associada a questões sociais, afetivas e culturais. Às vezes, o homem se acha no direito de fazer com ela o que bem entender e tratar a mulher como objeto.
Nós avançamos muito no sentido de dar visibilidade a essa violência e isso faz parte de uma construção social, por meio dos movimentos feministas que estão reagindo, colocando as mulheres num patamar de igualdade com os homens. Mas precisamos apressar o passo para colocar em prática os nossos direitos. Temos uma legislação mais justa, no entanto, precisamos de políticas articuladas de maneira intersetorial. Ou seja, é necessário que a saúde converse com a educação, a cultura, a política e, assim por diante, para atender as demandas dessas mulheres. O processo de fortalecimento dos direitos ainda está muito vagaroso. A mulher precisa tomar consciência da importância dela na sociedade para desconstruir essa relação subserviente e passiva.;
Maria Lúcia Leal é coordenadora do Violes, grupo de pesquisa ligado à Universidade de Brasília (UnB)