O comércio varejista do Distrito Federal encerrou 2011 no azul. A Pesquisa Conjuntural divulgada ontem pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF) apontou crescimento acumulado nas vendas de 17,7% de janeiro a dezembro do ano passado. Apesar de o resultado ter sido positivo, em 2010 houve incremento bem mais significativo no faturamento em igual período, de 39,3%. Na avaliação do setor, a desaceleração detectada se deve ao fato de o ano retrasado ter sido atipicamente aquecido para a economia brasileira e à posição de cautela adotada pelos consumidores frente à atual ameaça de crise.
Além do resultado anual, o levantamento mostrou que o faturamento no mês de Natal ficou abaixo das expectativas dos empresários. Na comparação de dezembro último com a mesma época de 2010, as vendas caíram 1,23%. Os lojistas do Distrito Federal não contavam com a queda, como esperavam que houvesse crescimento na comparação com o ano anterior. Uma enquete aplicada pela Fecomércio-DF, em novembro último, revelou que eles apostavam em negócios 6,32% maiores para a data festiva (veja Memória).
O vice-presidente da entidade, Miguel Setembrino, admite que o período natalino foi fraco, e diz que os clientes tiveram um comportamento cauteloso. ;Está todo mundo com receio, pois não se fala em outra coisa a não ser em crise. Isso acaba influenciando as pessoas;, comenta.
Para Setembrino, o cuidado do consumidor pode ser medido observando a proporção de pessoas que optaram pelas compras à vista em dezembro no DF. A Pesquisa Conjuntural da Fecomércio mostrou que 70,73% das pessoas preferiram essa forma de pagamento ao crédito. ;Isso caracteriza muito bem que o comprador está consciente, não está adquirindo na base da emoção. A gente não sabe até que ponto seremos atingidos (pela crise) e o cliente quer evitar todo tipo de dívida;, declarou.
Otimista, ele prevê uma retomada da disposição do consumidor em comprar para este ano. ;O próprio governo deu o sinal, abaixando em 0,5 ponto percentual os juros;, comentou, referindo-se à última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na qual houve redução de 11% para 10,5% na Selic, taxa básica de juros da economia.
Viagens
Gerente de uma loja de roupas em um shopping da cidade, Sandra Sales Batista representa um dos segmentos do varejo mais demandados pelos clientes no último Natal. De acordo com o levantamento da Fecomércio-DF, as vendas do vestuário saltaram 42,8% entre novembro e dezembro de 2011, desempenho satisfatório, mas inferior à alta de 64,74% cravada em igual época de 2010.
Na opinião de Sandra, não foi somente o temor do endividamento e da crise que levou à desaceleração dos negócios em dezembro do ano passado. ;Muita gente viajou para fora e o comércio sofreu um pouco. O dólar estava a um preço atraente e diversos clientes compraram seus presentes no exterior;, relata. A gerente diz que o ano passado como um todo foi ;bom; em matéria de vendas. ;Mas poderia ter sido melhor;, destaca.
O consultor de varejo Alexandre Ayres, da Neocom, afirma que a competição das viagens e as aquisições no exterior são características de um cenário em que a capacidade financeira das famílias se ampliou e o acesso ao lazer se tornou mais difundido. ;Quando o poder aquisitivo do consumidor sofre a competição de segmentos diferentes, caso do comércio e do turismo, pode ocorrer de um canibalizar o outro. Como fazer compra no exterior é mais interessante, essa situação pode ter causado a queda no faturamento dos lojistas;, avalia.
Memória
Abaixo da expectativa
Pesquisa realizada pela Fecomércio-DF revelou estimativa de crescimento de 6,32% nas vendas de Natal de 2011, na comparação com a mesma época em 2010. Os comerciantes ficaram animados com a projeção feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de que o pagamento do 13; injetaria R$ 4,8 milhões na economia local, R$ 700 milhões a mais do que no ano retrasado. Mas o faturamento não correspondeu à expectativa. No cenário nacional, o volume de negócios cresceu, porém também ficou abaixo do esperado. A Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping (Alshop). informou que houve alta de 5,5% ante as vendas de 2010, resultado 1 ponto percentual inferior ao crescimento de 6,5% que havia sido estimado pelos donos de lojas de shoppings do país.