Jornal Correio Braziliense

Cidades

Portador de doença rara, jovem conta com amigos em luta contra prognóstico


A solidariedade invadiu a casa simples, de chão batido, no Paranoá. Mudou a rotina de cada um dos integrantes da família que divide o espaço simples, onde conforto é sinônimo apenas de estar perto um do outro. Em três dias, a vida de Leonardo Pereira Pompeu, 16 anos, se transformou, com a ajuda de desconhecidos. O adolescente nasceu com uma doença rara, amiotrofia espinhal progressiva, enfermidade genética que causa atrofia nos músculos. Atualmente, Leonardo pesa 21kg. Em 16 de novembro de 2011, o Correio publicou uma reportagem sobre o rapaz.

O jornal relatou as dificuldades vividas pelo garoto; mostrou, na escola em que ele estuda, o esforço dos colegas e professores, responsáveis por uma campanha de arrecadação de dinheiro destinado à compra de uma cadeira de rodas motorizada, objetivo que, à época, não havia sido atingido; e apresentou ao leitor, principalmente, as marcas maiores da personalidade de Leonardo: força de vontade e capacidade de superação. Dezenas de pessoas se sensibilizaram com a história do garoto do Paranoá.

Nos dias seguintes à publicação, o telefone divulgado não parou de tocar. A conta bancária começou a receber doações de gente anônima. Depois de 78 horas, Leonardo tinha mais de R$ 15 mil. O suficiente para comprar a cadeira de rodas motorizada, com todas as adaptações indicadas pelo médico. Duas semanas após reportagem, o estudante saiu da loja com a cadeira nova. ;Eu não imaginava que as pessoas se importassem tanto assim com os outros. Conheci a bondade. Me emocionei muito com cada uma das ligações de gente querendo conhecê-lo, dar uma palavra de força;, disse a mãe de Leonardo, a dona de casa Luzinete Pereira da Silva, 54 anos.


Os doadores, na verdade, ofereceram algo além de dinheiro à família, conta ela. ;As pessoas vieram pessoalmente vê-lo. Prometeram mandar livros, doaram fraldas (ele não consegue ir ao banheiro sozinho). Uma senhora disse: ;Não tenho posses, mas rezarei muito por vocês;. Tudo isso mudou a nossa vida e tocou nosso coração.; Leonardo é pura felicidade. Sente-se confiante e seguro. ;Tudo é melhor agora. Eu agradeço muito;, afirma o jovem.

Internações
Os movimentos abandonaram o corpo de Leonardo aos poucos. Aos 5 anos, ele perdeu o equilíbrio enquanto andava. Depois disso, nunca mais moveu as pernas sozinho. Em 2005, retirou parte do pulmão, para diminuir a incidência de doenças. Em 2008, devido a uma infecção generalizada, o rapaz morou durante seis meses no hospital. No ano seguinte, médicos o dispensaram do tratamento, por considerá-lo paciente terminal. Apesar de definições cruas e frias como essa, Leonardo não se deixou levar pelo desânimo. Estudou durante as internações. Não reprovou nenhuma vez. E sobreviveu às piores expectativas.

A cadeira de rodas motorizada pesa 130kg. Atinge os 25km/h. Significa independência, uma vida completamente nova, sem tantas limitações. Leonardo já apostou até corrida no shopping, sentado nela. ;Fico de olho nele, o menino só quer correr;, preocupa-se a mãe. ;Eu ando para todo lugar. Sou livre;, comemorou Leonardo.

Executar ações corriqueiras para quem tem saúde perfeita é a realização de um sonho para o menino. Leonardo já pode buscar um copo de água sozinho. Colabora com as tarefas domésticas. Fica ao lado da mãe, enquanto ela cozinha, pronto para alcançar-lhe qualquer utensílio necessário. Liga e desliga a televisão, apaga e acende as luzes. Sai quando quer para brincar com os cachorros no quintal.

Também seguirá sem a ajuda de ninguém até o colégio, se quiser. Lá, encontrará centenas de pessoas felizes com sua conquista. Sensibilizados pela necessidade do colega, alunos do Centro Educacional Darcy Ribeiro, onde ele estuda, fizeram campanha para arrecadar dinheiro e comprar a cadeira especial. Anualmente, o colégio promove um evento chamado Festival da Paz. Uma das atividades consiste em destinar doações a entidades carentes. Em 2011, os estudantes fizeram diferente: escolheram ajudar Leonardo. Bateram de porta em porta em busca de ajuda e conseguiram arrecadar R$ 5 mil.

Persistência
Antes da compra do artefato motorizado, era Luzinete quem empurrava a cadeira de rodas manual, desde quando o menino perdeu quase todos os movimentos dos membros superiores, em 2008. A mãe vive em função do filho. O pai de Leonardo é motorista de ônibus. Seu salário não sobra para despesas além de aluguel e alimentação.

Desde o nascimento, Leonardo briga contra prognósticos pessimistas e supera limitações físicas em busca de uma rotina normal. Com a cognição totalmente preservada, vai cursar o 3; ano do ensino médio. Destaca-se como aluno modelo. Quer ser advogado ou profissional da área de informática. Ainda não decidiu. ;Quero me formar na faculdade, ter minha profissão e fazer tudo que as pessoas fazem;, anseia. Desistir não faz parte dos planos de Leonardo.