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Polícia mobiliza 5 unidades para localizar assassino de delegado aposentado

Cinco unidades da Polícia Civil do Distrito Federal estão mobilizadas para localizar o assassino do delegado aposentado Elly Cordeiro dos Santos, 75 anos. O investigador morreu a golpes de enxada e a pedradas na tarde da última segunda-feira, na chácara onde morava com a mulher, em Brazlândia. A investigação está sob a responsabilidade da 18; Delegacia de Polícia, que trabalha com a hipótese de latrocínio (roubo com morte).

O principal suspeito do crime é um desconhecido que ofereceu os serviços de caseiro horas antes de Elly ser morto. Dois suspeitos de participação no delito estão presos e um adolescente, apreendido. O aposentado aparece como o segundo delegado assassinado no DF em dois meses (leia Memória). Ontem à tarde, cerca de 300 pessoas, além de diversas autoridades, acompanharam o enterro do investigador no Cemitério Campo da Esperança. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, acompanhou a cerimônia.

Elly era padrasto do administrador de Brazlândia, José Bolivar da Rocha, e morava no Incra 7, com a mulher, Cristina Rocha, 62 anos. A vítima procurava um caseiro e, por volta das 9h de segunda-feira, um homem chegou ao local oferecendo o serviço. Disse que havia sido indicado por um casal de amigos de Elly. Os vizinhos, porém informaram à polícia que não fizeram tal indicação. ;Ele confiava nas pessoas. Aceitou a mão de obra e pediu que o homem colocasse brita na entrada da casa, que está encoberta de lama;, disse Osório Rocha, 50, cunhado da vítima.

A mulher de Elly e um amigo da família tiveram contato com o principal suspeito horas antes do crime. ;Ele foi levar a esposa na parada de ônibus e chamou esse homem para ir com ele. No caminho, deram carona para um amigo da família. Eles dois fizeram o retrato falado;, informou o delegado adjunto da 18; DP, Fernando Cocito.

Por volta das 11h de segunda-feira, Cristina ligou para o marido. Ele contou que havia preparado o almoço e ofereceria comida para o novo empregado. Depois disso, o casal não se falou mais. Quando ela chegou em casa, às 18h30, encontrou o portão da residência aberto e o marido caído de costas para o chão, sem vida. O criminoso fugiu com a caminhonete Mahindra, uma pistola calibre .380 e um aparelho celular, todos pertencentes à vítima. ;Um morador da região viu a pessoa fugindo com o veículo, em alta velocidade, por volta das 12h, e estranhou, pois o meu cunhado não corria;, contou Osório.

Força-tarefa
A Mahindra do delegado aposentado foi localizada por policiais militares às 22h na QNN 5, em Ceilândia. O veículo estava em poder de um adolescente de 15 anos, apreendido por receptação. O jovem indicou à polícia o suposto responsável pelo repasse do veículo. Esse último, além de outro suspeito, estão presos. ;Eles, provavelmente, não têm relação com a execução do delegado, mas, sim, com a receptação do veículo. Vamos esperar o resultado da perícia para confrontar as versões com os laudos técnicos;, explicou o delegado Cocito.

Participam das buscas ao autor do crime investigadores da 18; DP, da Delegacia de Repressão a Roubos (DRR), da Divisão de Repressão a Sequestro (DRS), da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) e da Divisão de Inteligência Policial (Dipo).

Perfil
Elly Cordeiro dos Santos, 75 anos
Natural de Mimoso do Sul, no Espírito Santo, Elly ingressou na Polícia Civil do Distrito Federal como agente auxiliar de polícia, em julho de 1961. Quinze anos depois, assumiu o cargo de delegado. O investigador passou pela 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte), pela 3; DP (Cruzeiro Velho), pela Delegacia de Roubos e Furtos e pelos postos policiais da 15; DP (Ceilândia Centro) e da 19; DP (P Norte). Em agosto de 1987, após 26 anos na polícia, Elly aposentou-se. Desde então, morava em uma chácara, com a mulher, no Incra 7, em Brazlândia. Segundo familiares, a vítima comprou o local, pois gostava de se manter afastada da movimentação da cidade. Era um grande defensor da natureza e, sempre que viajava, comprava mudas para plantar no terreno.

Adeus a investigador



Cerca de 300 pessoas, entre familiares, amigos e colegas de profissão de Elly Cordeiro dos Santos, lotaram ontem a capela 7 do Cemitério Campo da Esperança para se despedir do delegado aposentado. Estiveram presentes o governador do DF, Agnelo Queiroz, o vice-governador Tadeu Filippelli, o diretor-geral da Polícia Civil, Onofre de Moraes, o diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), Mauro Cézar Lima, o chefe da Casa Militar, coronel Rogério Leão, entre outros representantes do GDF. Sem falar com a imprensa, Agnelo acompanhou o velório e o cortejo. Muito abalado, o enteado da vítima, o administrador regional de razlândia, Bolivar Rocha, também não se manifestou.

O enterro ocorreu por volta das 17h30, com uma cerimônia simples, discreta e emocionada. Sobre o caixão, um painel com fotos do ex-delegado fazia uma última homenagem. Amparada, a mulher de Elly, Cristina Rocha, acompanhou o trajeto do cortejo. ;Ele era alegre e extrovertido. Mudou-se para a chácara porque já não gostava mais de morar na cidade, de trabalhar com segurança pública. O ideal dele era, depois de se aposentar, morar no sítio para passar o tempo. Só saía de lá para resolver assuntos de suma importância;, contou o sobrinho, o militar Márcio Rocha, 26 anos. ;Toda a família está desesperada. Foi uma covardia muito grande, ele (assassino) foi com o intuito de matar mesmo.;

Quando conheceu Elly, em 1977, o atual diretor-geral da Polícia Civil exercia a função de agente. ;Ele sempre foi um delegado muito trabalhador. O que temos dele são bons exemplos de honestidade e de trabalho. Ele desempenhou com honradez todo o período em que esteve à frente da Polícia Civil;, disse o delegado Onofre. Ele garantiu que o crime será apurado de forma rigorosa. ;Nós estamos com várias unidades trabalhando desde ontem (segunda-feira) de forma ininterrupta para desvendar esse caso o mais rápido possível;, afirmou.

O diretor do DPE, Mauro Cézar, se mostrou abalado com a violência contra Elly. ;Ele era um delegado compromissado em combater o crime, que não se curvava perante os criminosos. Era um grande referencial na Polícia Civil;, comentou ele, que teve Elly como o primeiro delegado na época em que atuava como agente da 19; DP. Segundo Cézar, todo o departamento está envolvido para buscar uma resposta imediata para o homicídio e outros casos de violência no DF. ;Temos que pedir que a sociedade denuncie cada vez mais no 197 (Disque-Denúncia) para coibirmos o máximo de crimes.

Infelizmente, Brasília não está imune à criminalidade;, lamentou.