Jornal Correio Braziliense

Cidades

Maus serviços, falsos sites e arapucas estrangulam o bolso do consumidor

Quando o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) vira sinônimo de perda de tempo e os órgãos de defesa do consumidor, simplesmente, não têm como agir, o arrependimento pela compra de um produto ou contratação de um serviço acaba se transformando em caso de polícia. Há vária armadilhas no mercado que, apesar de comuns, são responsáveis pela piora das estatísticas das relações de consumo no país. Histórias de espera, de descaso e de descompromisso que podem servir de alerta tanto para os futuros clientes, quanto para as autoridades.

São sites falsos, jogos de perguntas e respostas, pelo telefone, que prometem prêmios para quem aguentar passar pelo questionário ; pagando o altíssimo custo da ligação. Além das empresas de prestação de serviços, com sedes físicas, que cuidam tão mal das instalações e do atendimento, que transformam uma compra em um pesadelo.

Risco das compras pela internet

Basta ligar o computador para perceber que é quase impossível dimensionar o mundo do consumo on-line. São milhares de páginas de lojas e marcas que vendem e oferecem nas estantes virtuais absolutamente qualquer coisa. Para ajudar a comparar preços, muitas pessoas fazem uso de sites de busca que servem para comparar os preços entre o que há disponível na web e apresentar qual a escolha mais vantajosa. O risco está em acreditar nessas opções, mais baratas, como se fossem também seguras, apenas por constarem no ranking.

Outro problema é confiar apenas em publicidades, sem fazer um levantamento rápido sobre as reclamações registradas contra a firma e o tempo de resposta. Algumas empresas, que continuam ativas na web, são explicitamente mal-intencionadas. Tanto que não têm canal para atendimento, nem mesmo telefones. Outras, quando indicam o número, ele simplesmente não existe ou não atende.

Na última semana, a Fundação Procon de São Paulo oficializou uma denúncia ao Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), na qual lista 29 sites que acumulam denúncias de consumidores por irregularidades. Além de não entregarem os produtos adquiridos, nenhum responsável foi encontrado nos endereços oficiais das empresas. O levantamento servirá para início da investigação das companhias de e-commerce e para denunciar criminalmente os responsáveis.

O diretor executivo em exercício da Fundação Procon, Carlos Coscarelli, lamenta que a medida seja necessária. ;Tentamos contato, inclusive por correspondência, e não obtivemos retorno. Alguns ainda estão no ar oferecendo produtos e podem continuar lesando consumidores desavisados;, diz.

Canetas especiais

O aposentado Francisco da Penha Vieira, 68 anos, viu a propaganda de um site que vendia canetas especiais, chamadas de Smart Pen, capazes de tirar pequenos arranhões em carros. Para motivar os clientes, o anúncio informava que as compras realizadas até um determinado horário, pelo site Gigashopping, dariam direito a uma segunda caneta como brinde.

Entusiasmado com a oferta, ele decidiu pagar as 12 parcelas de R$ 20 e ficou esperando a encomenda. ;Mas as canetas nunca chegaram;, diz, desolado, Francisco Vieira. Quando concluiu todos os pagamentos, ele percebeu que dificilmente seria atendido. ;Eu acho que mais gente deveria ser responsabilizada por problemas como esse;, acrescenta. A empresa Gigashopping foi procurada diversas vezes pelo Correio e não respondeu a nenhuma das solicitações feitas pelo Grita do Consumidor, em nome do aposentado.

Oswaldo Moraes, diretor do Procon-DF, recomenda que, em casos como esses, o consumidor busque a ajuda da polícia. ;Ninguém conseguirá intermediar uma solução, porque o intuito da companhia é o de enganar o consumidor. É preciso procurar a Delegacia do Consumidor (Decon) e a de Defraudações (DDEF). Eles poderão fazer diligências, localizar o responsável e aplicar a punição adequada;, explica.

Para evitar a cilada, Oswaldo recomenda precaução. ;Priorize as empresas que têm endereço fixo no país, pesquise a idoneidade, confira o CNPJ no site da Fazenda, ligue para o Procon, saiba se constam reclamações, se são muitas e se foram resolvidas.;