Se 1957 foi o ano em que tudo parecia improvável e 1958 foi o ano em que o impossível parecia bastante provável, 1959 foi o ano da ;última arrancada;, como declarou Íris Meinberg, diretor financeiro da Novacap, logo depois das festas natalinas. Nem a morte trágica de Bernardo Sayão, em 15 de janeiro de 1959, desanimou Juscelino Kubitschek, Israel Pinheiro e os demais. A cidade em construção parou por dois dias, para assimilar a notícia de que uma árvore havia abatido o engenheiro no meio da floresta e dele se despedir.
Todo o calendário das obras foi severamente mantido. Em 1; de fevereiro, Juscelino, dona Sarah e as filhas, Márcia e Maria Estela, desciam em Açailândia (no Pará) para participar da cerimônia que marcou o encontro das frentes de trabalho sul e norte da Rodovia Belém-Brasília. Era por ela que Bernardo Sayão trabalhava e esperava. JK levou para o meio da Floresta Amazônica boa parte do alto escalão do governo. O ministro da Guerra, Teixeira Lott; o chanceler Negrão de Lima, o ministro da Educação, Clóvis Salgado, dois embaixadores europeus e um latino-americano.
As obras do Congresso Nacional já haviam começado quando a Revista Brasília, o órgão oficial de informação sobre as obras da cidade, publicou o detalhamento do projeto do palácio legislativo. Por várias vezes, Oscar Niemeyer declarou ser essa a sua criação preferida em Brasília. O arquiteto procurou uma solução que refletisse a independência de cada uma das casas, Câmara e Senado, mas que estivessem juntas num só edifício para ;dar solução mais racional e econômica ao problema;. Ao mesmo tempo, procurou um efeito monumental ao conjunto de tal modo ;capaz de dominar, como desejável, as demais construções da cidade;.
O movimento das máquinas já havia levantado o chão para receber as duas cúpulas e as duas torres do Congresso Nacional. Na topografia original, ali havia uma descida considerável que levava ao Rio Paranoá. Com a terra retirada do cruzamento dos Eixos, para dar lugar à Rodoviária, levantou-se o terreno para que pudesse receber o Congresso e a Esplanada.
Elevando-se o declive, foi possível cumprir o objetivo plástico que Lucio Costa e Niemeyer desejaram, situando as duas cúpulas ;em monumental esplanada onde suas formas se destacam como verdadeiros símbolos do Poder Legislativo;. Finalmente, ;ao fundo, contrariando a linha horizontal da Esplanada, erguem-se os blocos administrativos, que são os mais altos de Brasília;, descreveu o arquiteto.
Nada, na nova capital do país, era gratuito. A cidade e seus palácios preexistiram em sonho, em expedições científicas, em preceitos urbanísticos e em cálculo estrutural. A obra do Congresso Nacional foi uma das de mais difícil execução, com grave risco para os operários, muitos deles mortos em quedas das duas torres. O ;28; virou símbolo dos acidentes de trabalho acontecidos durante a construção da nova capital.
Nada, nem a morte de Bernardo Sayão nem a dos operários nem a implacável campanha da oposição, fez Juscelino recuar da decisão de mudar a capital ainda no seu governo. Nem mesmo o episódio acontecido no carnaval de 1959, que ficou conhecido como o massacre da Pacheco Fernandes, alterou o calendário das obras. Para o engenheiro Jofre Mozart Parada, em entrevista ao Correio Braziliense, na década de 1970, não havia como desistir de Brasília, e a razão não era apenas a determinação de JK. Os milhares de brasileiros que chegavam, incessantemente, selaram o projeto de transferência da capital.
;Arquitetonicamente, um prédio como o do Congresso Nacional deve ser caracterizado pelos seus elementos fundamentais. Os dois plenários são no caso esses elementos, pois neles é que se resolvem os grandes problemas do país. Dar-lhes maior ênfase foi o nosso objetivo plástico, situando-os em monumental esplanada onde suas formas se destacam como verdadeiros símbolos do Poder Legislativo. Ao fundo, contrariando a linha horizontal da Esplanada, erguem-se os blocos administrativo, que são os mais altos de Brasília;
Oscar Niemeyer
LINHA DO TEMPO 1959
15 de janeiro ; Entre as localidades de Imperatriz, no Maranhão, e Guamá, no Pará, a 30km da fronteira dos dois estados, o engenheiro Bernardo Sayão foi atingido, às 13h, por uma árvore, que alcançou o jipe de inspeção.
24 de janeiro ; Juscelino inaugura a Usina de Cachoeira Dourada, sobre o Rio Paraíba, na fronteira de Minas com Goiás.
1; de fevereiro ; Juscelino, dona Sarah, Márcia e Maria Estela participam, em Açailândia (PA), das comemorações do fim do desmatamento da Rodovia Belém-Brasília, com o encontro das turmas que saíram do Norte com as que saíram do Sul.
28 de fevereiro ; A cúpula do Senado está pronta e a da Câmara está sendo armada. As duas torres do Congresso já estão no sexto pavimento. Dos 11 ministérios, quatro estão com a estrutura metálica completamente montada. A pavimentação das vias está concluída.
2 de abril ; O presidente do Banco do Brasil, Sebastião Paes de Almeida, anuncia para dentro de um mês o início das obras da sede do Banco do Brasil no Setor Bancário Sul.
13 de abril ; Chega ao Rio, trazida pelo navio português Vera Cruz, a imagem de Nossa Senhora de Fátima destinada à Igrejinha.
24 de abril ; Juscelino recebe, no Palácio das Laranjeiras, a imagem de Fátima.
2 de maio ; Saem do Rio em direção a Brasília 1,5 mil exemplares de peixes a serem lançados no novo lago. A seleção das espécies foi feita pela Divisão de Caça e Pesca do Ministério da Agricultura.
13 de maio ; O presidente Juscelino recebe, no aeroporto de Brasília, a imagem de Nossa Senhora de Fátima.
5 de junho ; Em construção o Hospital Distrital de Brasília, com capacidade para 260 leitos. É a primeira unidade da rede hospitalar do novo Distrito Federal.
22 de junho ; Inaugura-se o primeiro bloco de superquadra, obra do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários.