Jornal Correio Braziliense

Cidades

Brasiliense passa os dias registrando em fotografias espécies de pássaros

Quando criança, Álvaro César de Araújo gostava de sair com o pai para caçar. Adulto, descobriu aventura muito mais interessante: conhecer de perto e fotografar os pássaros. É o que faz no Condomínio RK, onde vive


Quando o pai saía para caçar, o brasiliense Álvaro César de Araújo o acompanhava nas embrenhadas pelo mato. O menino aproveitou as saídas e desenvolveu uma paixão diferente. No lugar de abater animais, aprendeu a admirá-los. As aves ganharam atenção especial: desde os seis anos, o menino centrou seu foco nelas. Além de ler sobre os pássaros, aprendeu a observá-los e, mais tarde, passou a pintá-los em telas. Há três anos, após formar-se em letras e trabalhando como representante comercial, Álvaro resolveu embarcar na aventura de fotografar a vida dos pássaros regionais. Pegou dicas com os amigos e deu os primeiros cliques no Condomínio RK, em Sobradinho, onde vive com a família.

Hoje, aos 47 anos, Álvaro aprendeu a disparar flashes e lançou, nesta semana, o primeiro livro com fotografias e informações das espécies de pássaros encontradas no condomínio. Em três anos de pesquisa, registrou 60 diferentes aves somente na área do RK, que tem 148,88 hectares. No catálogo publicado esta semana, 48 delas estão representadas. ;Tudo começou da sacada da minha casa. Vi muitos pássaros no cheflerão comendo frutinhas e os fotografei. Depois, fui andando pelo condomínio atrás de mais espécies.;

Para fotografar, Álvaro segue um ritual: procura sair no início da manhã ou no fim da tarde, veste a roupa camuflada, pega o aparelho de som e a inseparável câmera Canon 7D. A aparência lembra a de um Indiana Jones do cerrado. Mas Álvaro garante que, graças à parafernália, consegue registrar as mais diversas espécies de pássaros. Embrenhado no mato próximo à sua casa, encontra lagoas e cachoeiras e liga o aparelho para reproduzir o ruído que imita o som das espécies. Aparato pronto, Álvaro precisa de sorte e paciência para conseguir o retrato desejado. ;No começo, eu fotografava qualquer espécie. Hoje, seleciono mais;, conta.

Entre os exemplares fotografados, o mais raro que ele conseguiu localizar foi o beija-flor-de-topetinho-vermelho, um dos menores encontrados na fauna brasileira. Álvaro encontrou o pequeno pássaro em uma árvore chamada laranjinha-do-cerrado, na porta de uma casa no Condomínio RK. O achado levou profissionais que trabalham diretamente com a natureza a procurá-lo. ;Perguntam se eu sou biólogo, aí digo que sou um biólogo amador.;

A variedade de aves é tamanha que, para identificar as fotografadas, o brasiliense precisa acessar informações em um banco de dados na internet, no estilo da Wikipédia. O wikiaves tem no acervo 407.819 fotos, 25.339 sons e 1.731 espécies registradas. Cerca de 9 mil apaixonados por aves dividem as experiências e informações sobre os animais.

Exposição
No Condomínio RK, vivem cerca de 8 mil pessoas, distribuídas em 1.850 casas. Dentro do conjunto residencial, há uma área de nascente e uma lagoa próxima às casas. É na área verde que a maioria dos pássaros foi encontrada. Antes da publicação do livro, Álvaro expôs as fotos para os moradores e conta que várias vezes ouviu comentários do tipo ;eu nunca vi isso aqui;. E ele respondia: ;É porque você não tem o hábito de observar os pássaros;. As 3 mil publicações foram distribuídas para os moradores do RK.

Assim como um bom colecionador, Álvaro segue em busca de pássaros mais raros. Os demais já estão no seu álbum de fotos. O novo desafio é encontrar a sanã-de-cara-ruiva, espécie ameaçada por causa da perda de habitat. O representante comercial foi convidado por uma bióloga para essa missão. ;O melhor de fotografar pássaros é passar a mensagem de que a natureza precisa ser preservada porque tem muitas coisas belas. A dificuldade de encontrar certas espécies mostra que elas estão raras e precisam de cuidado;, conclui.



Algumas espécies

Anu-branco
Nome científico: Guira guira
Tamanho: 38 cm
Presente em quase todo o Brasil, exceto em parte da Amazônia. Tem corpo franzino, cauda comprida, graduada e com fita preta. Branco-amarelado, tem bico forte e curvo, na cor laranja (cinzento no indivíduo imaturo). Machos e fêmeas apresentam as mesmas características físicas, andam sempre em bandos e são sociáveis.

Choca-de-asa-vermelha
Nome científico: Thamnophilus torquatus
Tamanho: 14 cm
Pode ser encontrado no centro do Brasil e no Nordeste. A penugem do macho é preta, e a fêmea apresenta o peito liso. Ave raramente encontrada.

Tico-tico-de-bico-amarelo
Nome científico: Arremon flavirostris
Tamanho: 16 cm
Também conhecido como tico-tico-do-mato e tico-tico-do-mato-de-bico-amarelo. É encontrado em boa parte do Centro-Oeste, sempre no interior das florestas. O laranja forte do bico forma um contraste com o negro da cabeça. As costas são cinzas, com asas esverdeadas, e o encontro dos dois é amarelo, daí a origem do nome. O macho tem a cabeça e o peito coloridos de preto e branco, dorso verde e bico amarelo-avermelhado.