A situação caótica dos ônibus do Entorno explica em parte a causa dos acidentes frequentes no trajeto para o Distrito Federal. Empresas sem nenhuma responsabilidade submetem os usuários a um martírio diário. Problemas como assentos danificados, superlotação, pneus carecas e sujeira fazem parte da rotina de quem depende de ônibus nas cidades vizinhas ao DF. A má prestação dos serviços fez com que fiscais da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) aplicassem cerca de mil multas em 2011. Uma volta pelos terminais rodoviários do Entorno revela o descaso com a população.
No de Planaltina de Goiás, é notória a insatisfação dos passageiros. ;Os pneus são carecas, chove dentro dos ônibus e os bancos não têm estofados ou estão sempre quebrados. E a situação só piora a cada dia;, reclama Davi Medeiros Dias, 41 anos. ;Uma vez, o ônibus quebrou e só fui chegar em casa às 2h, quando o normal é às 23h30;, conta o auxiliar de serviços gerais. ;É quase impossível andar sentado. Os ônibus estão sempre superlotados. A gente tem medo de andar nesse tipo de transporte;, desabafa a vendedora Adnilda Rosária Santos, 36 anos.
O motorista de um coletivo que faz o trajeto Entorno;Distrito Federal conta que os problemas são recorrentes e antigos. ;A gente trabalha no nosso limite. Não temos nenhuma estrutura para carregar esses passageiros com segurança, mas não podemos reclamar. Senão, ficamos sem emprego;, contou o funcionário, que prefere não se identificar.
O administrador da Rodoviária de Planaltina de Goiás, José de Souza Guirra, disse que dificilmente a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) vai até a região para fiscalizar o serviço. ;Se vieram aqui duas vezes no ano passado, foi muito. Esses ônibus estão em péssimas condições, e muitos motoristas são despreparados. Os passageiros precisam ser respeitados;, afirmou José. Segundo ele, duas empresas atendem a população da cidade. ;São cerca de 130 ônibus, mas apenas uns 20 são novos. Alguns têm até 20 anos de uso.; A ANTT informou que 21 servidores fazem a fiscalização no DF e no Entorno.
Falta de manutenção
Os próprios funcionários denunciam a falta de zelo dos empresários do ramo. Um rodoviário que trabalha há mais de 15 anos na linha Plano Piloto;Águas Lindas (GO) revelou que a documentação do ônibus dirigido por ele diariamente está atrasada há mais de 10 anos. ;Quando a ANTT chega, a orientação é esconder os carros;, disse. O mesmo rodoviário conta que, devido ao barulho do motor, ele é obrigado a usar um protetor de ouvido. ;Não tem condição alguma de trabalho. Os ônibus não têm freio, só param na marcha. Nós carregamos vidas, e a empresa só quer saber de dinheiro.;
O preço da passagem, que pode chegar a R$ 4,85, também é outra reclamação frequente. O eletricista Pascoal Souza, 45 anos, mora em Planaltina de Goiás e paga R$ 9 diariamente. Ele procura a linha mais barata, que custa R$ 3,50. No entanto, é difícil encontrá-la. ;Ela é nova e não roda muito;, explicou. Pascoal é recém-contratado e a empresa paga o transporte, mas, em quase dois anos sem carteira assinada, tirava o valor do próprio bolso. ;Todas as linhas são péssimas e caríssimas. Entra água pelos vidros e, por falta de manutenção, estamos sujeitos a isso;, reclamou.
Memória
6 de maio de 2009
Três pessoas morreram e 48 pessoas ficaram feridas em um acidente na BR-020, no trecho que liga Sobradinho a Planaltina, em frente ao Condomínio Nova Colina.A colisão ocorreu entre um ônibus da Novo Horizonte e da Viplan, que teria entrado na frente do outro depois de pegar um passageiro na parada de ônibus.
17 de maio de 2010
Um menino de 8 anos morreu atropelado após cair de um ônibus escolar em condições precárias de uso. O acidente ocorreu entre Brazlândia e Monte Alto, a cerca de 45km de Brasília. A inspeção feita no veículo identificou bancos soltos e alguns sem cinto de segurança. O ônibus foi fabricado em 2004, e o documento da empresa contratada pela prefeitura estava vencido havia seis meses.
19 de agosto de 2011
Um ônibus da empresa Rápido Brasília se envolveu em um acidente na altura de Sobradinho, que resultou na morte de quatro pessoas. O motorista do veículo, Wilson Augusto da Costa, 44 anos, fazia a primeira viagem da noite quando perdeu o controle do veículo. O acidente teria sido provocado após a barra de direção do veículo quebrar. O ônibus tinha 11 anos de uso.
Colaboraram Roberta Abreu e Mara Puljiz