Uma nova modalidade de crime contaminou a internet e vem fazendo vítimas todos os dias. O furto de milhas ; pontos dos programas fidelidade das empresas aéreas ; chama atenção pela simplicidade da execução e pelo tamanho do estrago que causa. Basta um descuido do consumidor para que o benefício, acumulado pelo uso do cartão de crédito ou pela quantidade de voos feitos, caia na mão de estelionatários. Muitas vezes, o fato só é percebido na hora de usar os créditos, o que acaba estragando os planos de viagem, ou, ao menos, tornando o passeio muito mais caro do que deveria.
As empresas aéreas não conseguem reagir com a energia necessária para combater o crime. Fazem um ou outro alerta aos usuários. No fim, acabam reembolsando quem foi prejudicado, depois de vários dias e muita insistência por parte dos passageiros. A Polícia Civil do Distrito Federal não descarta que a ação seja orquestrada por quadrilhas e garante que as investigações estão adiantadas e há alguns criminosos na mira.
O golpe chega por e-mail, que reproduz mensagem, logomarca e fotos que em nada diferenciam do padrão da home page da companhia. Ao garantir vantagens ou requisitar a atualização do cadastro, o hacker, que enviou o vírus, induz o usuário a digitar o nome e a senha de acesso. Logo que os dados são informados, ele consegue trânsito livre para marcar viagens de terceiros, esvaziando em minutos, todo o benefício que havia na conta do cliente da companhia.
Mudança de planos
A socióloga Lenita Turchi, 60 anos, conhece o problema a fundo. ;Eu tinha perto de 170 mil milhas na TAM. Passei algum tempo pensando em gastá-las para passar o fim do ano em Portugal;, conta. No dia em que tentou emitir a passagem, a desagradável surpresa: no saldo de pontos havia apenas 3 mil milhas. ;Fiquei muito assustada e passei uma tarde tentando me comunicar com a empresa. No fim, me disseram que eu havia emitido bilhetes de cortesia para outras pessoas em novembro;, recorda.
A primeira medida que conseguiu tomar foi a de cancelar os trechos marcados. ;Ocorre que para suspender o bilhete é preciso pagar uma multa e eles cobraram isso de mim, o que é mais absurdo ainda. Já os voos que haviam saído em dias anteriores me deram mais trabalho. Depois de muita briga, consegui recuperar alguma coisa e voltei a ter algo como 120 mil pontos. Apesar de a companhia ter devolvido, eu perdi a viagem;, lamenta. Sem intenção de tirar do bolso o dinheiro para pagar o bilhete internacional, Lenita adiou os planos.
A socióloga não descarta a possibilidade de ter aberto e clicado em alguma mensagem falsa. ;Mas a companhia perde a credibilidade, porque eu não sabia dessa possibilidade;, afirma Lenida. Interessada no assunto, ela começou a notar alguns cartazes fixados nas ruas da cidade com o anúncio de compra e venda de milhas. Para encontrar quem faça esse tipo de negócio, não é preciso sair de casa. Pela internet, diversos sites, com nomes desconhecidos, oferecem o serviço de aquisição de milhagens de todas as companhias aéreas e prometem pagar, em média, R$ 300 a cada 10 mil pontos. Além de remunerar quem não vai usar o benefício, as falsas empresas virtuais prometem ainda de emitir passagens a preços mais baixos.
Recomendações
O delegado-chefe da Delegacia de Falsificações e Defraudações de Brasília (DEF), Júlio César de Oliveira Silva, alerta para os cuidados necessários ao fechar acordos com firmas que atuam na internet. ;Há uma chance real de essas empresas fazerem tanto o serviço legal, de comprar e vender as milhas de pessoas interessadas nessas transações, como de usarem artifícios ilegais, que furtam as milhas por meio de vírus.; Segundo ele, caso os envolvidos sejam alcançados pela polícia, eles serão denunciados pelo crime de estelionato, que prevê pena de um a cinco anos de reclusão. A mesma punição recairá sobre os compradores que participam do esquema, que responderão por aquisição fraudulenta.
O crime, segundo ele, tem ocorrido em outros estados. No Distrito Federal, ganhou força no fim do ano passado. ;Não podemos descartar que seja ação de uma quadrilha. Investigamos, especificamente, três casos. Estamos na iminência de prender alguns dos responsáveis;, completa.
Conforme o delegado, em algumas situações, o vírus se instala no computador e não é necessário digitar a senha ou aceitar a oferta, porque, depois de instalado, o programa submete todos os dados digitados até em páginas oficiais ao hacker.
Débora Cristina Guimarães Pimentel, 52 anos, aposentada, acredita que esse tenha sido o caso dela. ;Não foi desatenção, tenho certeza que não confiei em uma proposta qualquer;, diz. Ela conta que, ao reclamar das 70 mil milhas que desapareceram, funcionários da companhia chegaram a dizer o nome de quem havia embarcado usando os pontos à sua revelia. A solução do caso levou meses. ;Eu cheguei a desistir de correr atrás, porque me deu muito trabalho. Mas, um certo dia, me ligaram para dizer que haviam devolvido meus pontos. Entrei no site da companhia e gastei todo o crédito, porque não pretendo mais passar por esse aborrecimento.;
Dicas
As empresas aéreas costumam personalizar as mensagens e chamar cada usuário pelo nome. Desconfie ao receber um e-mail que começa com a expressão ;caro cliente;.
Verifique sempre quem é o remetente. Os e-mails virais chegam com nomes estranhos, criados apenas para cometer o delito.
Ao abrir a mensagem, desconfie das informações. Consulte a página oficial da empresa antes de clicar em promoções que chegam por e-mail.
Se o conteúdo do texto o direcionar para uma nova página, cheque qual é o endereço do site que vai aparecer no navegador.
Instale antivírus no computador. Saiba que ele não impede todos os tipos de golpes, então não baixe a guarda.
Evite fazer compras de passagens em empresas desconhecidas, que garantem ofertas muito vantajosas ou pedem cadastro com nome de usuário e senha dos programas de fidelidade.
Ao notar a menor alteração na sua conta, entre em contato com a companhia aérea.
Tenha o hábito de fazer alterações nas senhas de acesso. Não é recomendado usar sequência numérica ou informações comuns, como data de aniversário.
Especialistas recomendam que se façam códigos de acesso diferentes para contas distintas, de modo a dificultar a possibilidade de o hacker movimentar todas as contas da pessoa.
Se tiver dúvidas, entre em contato com a empresa aérea antes de efetuar transações que não são costumeiras.