Jornal Correio Braziliense

Cidades

Descontos de até 70% levam milhares de consumidores aos shoppings da cidade

Parece véspera de Natal, mas não é. Nos últimos dias, os shoppings do Distrito Federal têm ficado cheios de consumidores olhando vitrines e carregando sacolas, atraídos pelas promoções após a festividade que são tradição no comércio. Os corredores lotam principalmente na hora do almoço, quando muita gente dá uma escapada do trabalho para ir às compras. Cartazes anunciam descontos de até 70%, em um esforço dos lojistas para desovar itens do estoque que tiveram giro pequeno em dezembro. Os eletrônicos e os eletrodomésticos da linha branca ; esses últimos, com a vantagem da redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) além de estarem em oferta ; estão entre os artigos mais procurados.

De acordo com dirigentes dos shopping centers da cidade, a realização das promoções pós-Natal é uma decisão autônoma de cada loja. Geralmente, as liquidações em bloco e com divulgação institucional feitas pelos centros de compras começam após fevereiro, quando as pessoas retornam das viagens de férias e carnaval. Somente um shopping da cidade está promovendo um saldão geral neste mês, entre amanhã e o dia 8. ;É uma antecipação. Significa que (os lojistas) não venderam tudo que queriam;, afirma Adelmir Santana, presidente da Federação do Comércio de Bens, Turismo e Serviços do Distrito Federal (Fecomércio-DF).

Segundo Santana, os estabelecimentos optam por colocar artigos em oferta porque necessitam de dinheiro em caixa para quitar compromissos. ;É uma forma de aumentar o capital de giro. Eles estocam em grande quantidade e nem sempre sai tudo. Para o cliente, é uma boa oportunidade para compra;, pondera Santana. Ele diz ainda não ter números fechados sobre o desempenho do comércio local no Natal de 2011. A Fecomércio-DF havia previsto incremento de 6,32% nas vendas. No país, os resultados ficaram abaixo do esperado.



Bons negócios
O advogado José Geraldo Tardin, especialista em direito do consumidor e presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), concorda que o momento é bom para fechar bons negócios. ;É uma ótima época para adquirir principalmente eletrodomésticos;, diz. Mas Tardin alerta que é preciso tomar cuidado para não cair em armadilhas como a do endividamento ou a do desconto de mentirinha (veja quadro).

Paciência
Cientes de que janeiro é o mês das ofertas, muitos consumidores evitam os centros de compras em dezembro e deixam para gastar dinheiro somente depois das festas natalinas. É o caso do funcionário público João Tavares, 40 anos. ;Me segurei durante o Natal. Olhei algumas vitrines, mas não comprei nada;, contou.

Ontem, a estratégia mostrou-se válida. João comprou presentes para conhecidos e um sapato para si, tudo mais barato do que em dezembro. O calçado, por exemplo, caiu de R$ 69 para R$ 40. ;Tenho que me controlar, porque ainda tem IPTU e IPVA para pagar;, brincou o funcionário público.

O estudante Kelson Ribeiro, 23 anos, foi outro a ir para casa contente por ter feito uma boa compra. Ele se tornou dono de uma tevê LCD 24;; ao preço de R$ 699, R$ 200 a menos do que o preço cobrado em meados de dezembro. ;Era uma das últimas. Tive sorte, resolvi deixar passar as festas e o estoque não acabou;, disse.

De acordo com os lojistas, é comum os clientes aguardarem pacientemente as promoções pós-Natal. ;Tem pessoas que vêm aqui, olham o produto que querem e já avisam que vão voltar quando o preço cair;, conta Edineide de Sousa, vendedora de uma loja de sapatos. Ronan Vieira Lima, gerente de outro estabelecimento que vende calçados, relata que o movimento deste mês de janeiro está quase tão grande quanto o de dezembro.

No comércio de rua da cidade, o fluxo de consumidores não é tão intenso. Segundo Antônio Augusto de Moraes, presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) as promoções nessas lojas são pontuais. ;As que mais aderiram foram as que vendem eletrodomésticos e móveis. As restantes vão investir mais pesado a partir de fevereiro. Essa é uma época em que a cidade fica mais vazia, e elas não conseguem atrair o mesmo volume de gente que um shopping;, comenta.

Aquém da expectativa
As vendas de Natal ficaram abaixo das expectativas neste ano no cenário nacional, segundo pesquisa da Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping (Alshop). Com alta de 5,5% ante o vendido no ano passado, o Natal de 2011 ficou a 1 ponto percentual de atingir o crescimento de 6,5% que havia sido estimado pelos donos de lojas de shoppings do país. O crescimento das vendas foi divulgado no último 26 de dezembro. Para o cálculo, foram ouvidas 150 empresas. Juntas, elas têm cerca de 6,4 mil lojas em centros comerciais de todo o país.

Fique atento

; Cuidado com o endividamento. Não compre uma quantidade imensa de artigos só porque estão em promoção. Leve o que você precisa.

; Antes de sair, faça uma pesquisa de preços. A internet é uma boa ferramenta para ajudá-lo. Outra boa ideia é ter à mão os folhetos com anúncios de preços, pois o comerciante tem que cumprir as condições divulgadas.

; Observe se os descontos são reais, comparando os preços com os de produtos semelhantes. Algumas lojas aumentam demais os valores e anunciam um abatimento fictício.

; Atenção a defeitos nos artigos em promoção. Experimente a roupa ou sapato, teste o computador ou ferro de passar antes de levar para casa. Lembre-se que os comerciantes não trocam produtos em oferta, exceto por eletrodomésticos e eletroeletrônicos que estão na garantia.

; Em se tratando de eletrônicos e móveis de mostruário, o cuidado deve ser redobrado. É comum esses produtos terem pequenos defeitos, como arranhões e manchas. Os vícios devem ser informados ao consumidor e constar na nota fiscal. Assim, se surgirem novos problemas o consumidor pode exigir o reparo no prazo da garantia.

Memória
Alta prevista de 6,32%

Neste fim de ano, pesquisa realizada pela Fecomércio-DF revelou estimativa de crescimento de 6,32% nas vendas de Natal de 2011, na comparação com a mesma época em 2010. Os comerciantes ficaram animados com projeção feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de que o pagamento do 13; injetaria R$ 4,8 milhões na economia local, R$ 700 milhões a mais do que no ano retrasado. Mas o movimento nos centro comerciais e ruas não correspondeu às expectativas e só cresceu significativamente nos últimos dias antes da celebração. A Fecomércio ainda não divulgou um balanço dos resultados.