Jornal Correio Braziliense

Cidades

Ao defender líder de igreja em Samambaia, fiéis falam em complô

O pastor Manoel Teoplício de Souza Ribeiro conquistava a confiança dos fiéis e depois abusava das filhas deles. Os crimes ocorriam dentro da casa do religioso, onde ele, até ser preso, morava com a mulher e os três filhos, duas meninas e um garoto. Mas o poder de convencimento do pastor Téo era tão grande que ele teve apoio de muitos frequentadores da igreja, mesmo após as denúncias das seis vítimas se tornarem pública e a condenação a 50 anos de cadeia.

Alguns fiéis defendem o pastor de forma fervorosa. ;Ele é uma boa pessoa. Até hoje, eu não acredito nisso tudo. Eu frequento essa igreja há 12 anos, e ele era pastor desde aquela época. Ajudou a fundar o local;, afirma Bertulino Benício Ferreiro, 78 anos. O marceneiro acredita tanto na inocência do religioso que foi ao Complexo Penitenciário da Papuda visitá-lo. ;Estive lá assim que ele foi preso. Ele estava muito abalado e sempre negou tudo;, conta.

Assim como ele, muitos seguidores do líder tentam convencer vizinhos de Samambaia da suposta injustiça cometida contra ele. E, pior, hostilizam as famílias das meninas abusadas. ;A gente tem que falar sobre o assunto baixo, pois muitas pessoas aqui nos condenam e falam que ele é inocente. Essa sentença mostra que as vítimas são as meninas;, lamenta a mãe de uma das garotas, hoje com 14 anos.

[SAIBAMAIS]A policial civil Patrícia Domingues esteve à frente das investigações e contou que uma das dificuldades em prosseguir com a denúncia do pedófilo foi lidar com uma acusação contra um líder religioso, muito querido entre os seguidores. ;Tivemos empecilhos até com algumas mães, que não acreditavam nas filhas. Trabalhamos muito para conquistar a confiança delas;, revela. Todas as meninas se submeteram a exames de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML). Os depoimentos foram colhidos por psicólogas da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

Para o delegado Mauro Aguiar, que na época da investigação era titular da 26; Delegacia de Polícia (Samambaia), a condenação do pastor é consequência de uma investigação emblemática. ;Todas as pessoas ouvidas foram muito precisas e não deixaram dúvidas. Tudo o que foi apurado pela polícia se confirmou na Justiça, e o resultado é reconhecido com a condenação;, ressalta. ;Ele fazia massagens e molestava as partes íntimas das crianças e falava que, desse jeito, estava tirando o diabo do corpo delas. Dizia ainda que os toques fariam delas mulheres mais férteis;, lembra.

Recurso

A defesa do pastor recorreu da condenação estipulada pelo juiz Romero Brasil de Andrade, da Primeira Vara Criminal de Samambaia. Mesmo assim, o preso não terá direito a aguardar novo julgamento em liberdade. Como alguns frequentadores da Assembleia de Deus Comadeplan, o advogado José Abel do Nascimento Dias e a família do acusado acreditam na inocência dele. ;O que queremos é a absolvição. Caso eu não consiga, tentarei diminuir, ao máximo, essa condenação.;

Desde o início das investigações, a tese da defesa é de que as famílias das vítimas armaram um complô contra Téo. ;Isso tudo foi feito por uma das mães, que tinha a intenção de galgar cargos na igreja sem seguir a doutrina ensinada pelo pastor;, acusa o advogado. Dias alega ainda que as vítimas foram ouvidas na DPCA sem a presença de um representante jurídico do condenado. Hoje, o pastor Téo está recluso na Papuda com outros presos condenados por crimes semelhantes aos dele, além de mantido em separado dos demais.

A Comadeplan funciona no mesmo local, na Área Especial da QR 615 de Samambaia. No entanto, o templo não leva mais o nome na fachada, toda pintada de branco. Vizinhos do prédio contam que, dos 60 antigos fiéis, apenas 12 continuam a frequentar o templo após a prisão do pastor. Hoje, com um novo líder, são 40. O Correio esteve no local e tentou falar com os responsáveis, mas ninguém nem sequer atendeu aos chamados da reportagem.