Há uma semana, o Correio Braziliense se despediu de um de seus colaboradores fundamentais. A Redação amanheceu cinza, como o dia chuvoso que chegou com a triste notícia. Repórteres, diagramadores, editores e outros funcionários, acostumados a informar a dor dos outros, estamparam nas páginas do jornal o adeus ao editor de arte João Bosco Adelino Almeida. Amigo de toda a redação e profissional dedicado, Bosco morreu, aos 47 anos, após sofrer um infarto, na madrugada do dia 22.
Hoje, familiares e amigos prestam mais uma homenagem a Bosco, como ele era conhecido. A missa de sétimo dia está marcada para as 19h, na Igreja Santa Terezinha, no Cruzeiro Novo. A celebração ocorrerá na paróquia que Bosco frequentava aos domingos, ao lado da mulher, Maria Cristina da Silva, 42 anos, e dos três filhos.
João Bosco deixou São Bentinho, na Paraíba, em 1973, rumo a Brasília, com apenas 9 anos. Ele era o caçula de 24 irmãos. Veio para morar com a irmã Francisca Almeida Felinto, hoje com 62. Foi ela quem assumiu a responsabilidade deixada pela mãe, que morreu quando Bosco tinha dois anos. ;Ele vivia com um sorriso estampado no rosto. Em janeiro, viajamos juntos para nossa terra. Foi como uma despedida. Contamos piadas, tomamos banho de açude. Ele amava o Nordeste, o trabalho e, acima de tudo, a mulher e os filhos, por quem seria capaz de dar a vida;, disse Francisca.
O paraibano começou a trabalhar cedo, aos 15 anos, como office-boy. Sonhava construir uma vida melhor. Tinha pressa de conquistar independência. Prestou serviços ao extinto jornal Correio do Brasil. Em 1; de abril de 1991, Bosco assinou contrato com o Correio Braziliense, para ser diagramador. Foi também chefe de diagramação e subeditor de arte, antes de assumir a chefia de 41 ilustradores, diagramadores e infografistas.
A dedicação e o talento lhe renderam prêmios. Foram dois Esso, o mais importante reconhecimento do jornalismo brasileiro, na categoria Primeira Página: um em 2005 e outro em novembro deste ano. Com a equipe, acumulou ainda diversos reconhecimentos da Society for News Design (SND), premiação internacional considerada o Oscar da diagramação e arte em periódicos. Bosco esteve à frente das duas últimas reformas gráficas do jornal e de outros vitoriosos projetos dos Diários Associados.
A história da evolução gráfica recente do Correio está ligada à trajetória profissional de João Bosco. À época da comemoração dos 50 anos dos Diários Associados, ele falou sobre o tema. ;O maior upgrade que tivemos com essa otimização do Parque Gráfico foi poder usar cores. A estrutura desses equipamentos foi fundamental na conquista de todos os prêmios que temos. E não são poucos os reconhecimentos: recebemos quase 90 vezes o The Society News Design e também ganhamos o Esso de primeira página, só para citar alguns exemplos;, afirmou, na ocasião.
O diretor de Comercialização e Marketing do Correio, Paulo César Marques, ressaltou o comprometimento de Bosco com a empresa. ;Ele era apaixonado pelo que fazia. Estava sempre disponível para o trabalho, com boa vontade e muito talento. Nunca vi o Bosco bravo. Tudo isso é motivo de muita admiração. Bosco é inesquecível;, afirmou o diretor. O editor é lembrado pelos colegas como um apaixonado por futebol. ;Só tinha discussão quando o assunto era o Flamengo (time do coração de Bosco). Mas tudo com muito bom humor e respeito, sempre;, relatou Marques.
Herói
Bosco era casado há 23 anos. Deixou três filhos: Kelly, 23 anos, Heloísa, 18, e Guilherme, 11. Dedicou os últimos meses de vida aos cuidados com um irmão que faz tratamento contra o câncer. ;Ele era um ser incrível. O melhor pai do mundo, aquele pai que não sabia brigar com os filhos; os filhos vinham em primeiro lugar em tudo. Ganhei um bilhete premiado quando me casei com ele. Um marido atencioso, preocupado. Um homem simples no comer, no vestir. Ele ia à Paraíba a cada início de ano para levar roupas, sapatos e tudo mais que pudesse, como doação;, lembrou a mulher, Maria Cristina.
Bosco gostava de cozinhar para a família. Para agradar, preparava bacalhau. Mas preferia sabores mais simples. ;O prazer dele era ver as pessoas felizes;, lembrou a filha mais velha, Kelly. Ela se espelhou no pai para escolhas profissionais. Atualmente, é repórter do caderno de Cidades. ;Perdi muito mais que um pai. Perdi um amigo, um conselheiro, um exemplo, um herói. Perdi uma das melhores partes de mim. O Bosco foi um homem que viveu com toda a simplicidade e o amor de um ser humano humilde e bondoso. A ele, todo o meu amor e respeito.; Com talento e generosidade, Bosco fez da vida a sua maior arte.
Missa
Missa de sétimo dia de João Bosco
Hoje, às 19h.
Local: Igreja Santa Terezinha ; Quadra 801, Cruzeiro Novo,
próximo ao Terraço Shopping.