Os moradores do Engenho das Lajes, no Gama, continuam convivendo com os constantes alagamentos na região. Pelo menos cinco famílias tiveram que deixar as casas construídas ao redor da rodovia BR-060 para morar com parentes ou em locais emprestados por amigos e outras 10 estão ameaçadas. Elas sofrem com a obra inacabada da pista que liga Brasília a Goiânia (GO). A construção do viaduto começou há dois anos com a promessa de melhorias no tráfego da região, mas, em dezembro de 2010, as manilhas de escoamento de água foram fechadas com brita. E os donos dos imóveis ao redor delas começaram a sofrer as consequências. Em novembro deste ano, 25 famílias foram prejudicadas por uma forte chuva. Há exatos 30 dias, 80 pessoas fizeram uma manifestação para pedir providências.
O pedreiro Ivonilson Araújo Almeida, 43 anos, mora de favor há quase dois meses. A residência dele foi uma das mais afetadas. Pai de cinco filhos, ele saiu de casa em meados de novembro para morar, inicialmente, em uma igreja, localizada a cerca de um quilômetro de onde vivia. Agora, depende da caridade de amigos. ;Estou aqui na casa do primo de um amigo. É tudo improvisado. Não tem água, luz, nada. Meus filhos tomam banho na casa de parentes. Está difícil. Graças a Deus, temos amigos;, disse. Ivonilson demorou 10 anos para juntar dinheiro e comprar seu imóvel. ;Trabalhei muito. Não é fácil juntar recursos quando se ganha um salário mínimo (R$ 545) e tem cinco filhos. Mas consegui erguer minha casa. Tenho esperança de voltar;, afirmou.
Ele perdeu geladeira, cinco armários, eletrodomésticos, colchões, sofá e ainda terá que trocar o piso que descolou e rachou por causa da água acumulada. Quase todos os dias, Ivonilson ou um dos filhos vão até o local para resgatar algo que ficou para trás ou checar a situação da residência. ;Desde abril, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) promete fazer o sistema de escoamento, mas até agora não vi nada. No início, pensamos que a obra seria boa para a comunidade, mas depois que fecharam o escoamento de água não temos mais sossego;, complementou.
Morador da região desde 1997, Lindomar Galeno Pereira, 39 anos, não consegue mais ter noites de sono tranquilas. ;Pareço um peixe. Durmo praticamente de olhos abertos, com medo do que pode acontecer;, lamentou. Segundo Lindomar, que já é aposentado, todas as vezes que o céu fecha, ele levanta as mãos para o céu e começa a rezar. ;Sei que não é culpa da natureza, mas peço para Deus mandar menos chuva.; Caso a situação não seja resolvida, os moradores ameaçam fazer nova manifestação e fechar a BR-060. ;É a única forma de sermos vistos;, ressaltou Lindomar.
Reparos
As previsões do órgão responsável pelo término das construções não são nada animadoras. O Dnit informou que as obras do viaduto e a duplicação da BR-060 faziam parte de um convênio com o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), que não foi cumprido. Como o órgão não concluiu a reforma, o contrato foi suspenso e uma licitação, aberta para que o projeto seja finalizado. A assessoria de imprensa do Dnit não soube precisar quando todo o procedimento deve ser concluído, mas informou que não pode começar a construção de um bueiro em um período chuvoso. Ou seja, somente em março, os reparos devem começar a ser feitos.
O DER se exime da culpa. A assessoria de imprensa do órgão informou que o departamento foi apenas o executor da obra. ;A obra do viaduto na BR-060 é de responsabilidade do Dnit, por tratar-se de uma rodovia federal;, diz nota encaminhada pelo DER. O certo é que os moradores não serão ressarcidos pelos prejuízos decorrentes da obra inacabada.