Um dos principais pilares da economia brasileira, a indústria ainda caminha a passos lentos no Distrito Federal. Sem um parque fabril consolidado, o setor representa hoje apenas 10% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no DF. Sem competitividade para atrair montadoras de veículos ou siderúrgicas, por exemplo, a indústria brasiliense, que movimenta R$ 14 bilhões por ano, aposta no segmento de tecnologia da informação para se expandir e, dentro de 10 anos, representar 15% do PIB.
Segmentos como os de tecnologia da informação (TI) e de alimentação devem alavancar o faturamento e consolidar a vocação de Brasília para indústrias não poluentes. Pequenas e médias empresas conquistarão espaços ainda vagos nas saídas Norte e Sul da cidade e o Entorno passará por um processo mais acentuado de industrialização, com destaque para o eixo Brasília-Anápolis-Goiânia, que deve finalmente sair do papel. A ampliação fará a soma de empregos criados pelo setor pular dos atuais 120 mil para algo em torno de 200 mil, um crescimento superior a 60%.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, a atração de empresas para o DF seguirá critérios mais seletivos. Até 2022, menos de 20 indústrias de grande porte desembarcarão na capital. Fábricas com menor estrutura terão margem maior de crescimento, puxando o total de empresas do setor para 6 mil ; hoje são cerca de 4,8 mil. Muitas delas tentarão atender à crescente demanda por materiais de saúde, como luvas e fios cirúrgicos, atualmente importados de outros estados e países.
Para que todas essas projeções otimistas se concretizem, Brasília precisará fazer o dever de casa, a começar pela solução de gargalos na infraestrutura de transportes e de energia. Não adiantará expandir a demanda se não houver caminhos para escoar os produtos. Além disso, o governo será pressionado a resolver imbróglios fiscais e aliviar a burocracia na captação de recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO).
Mão de obra
No desafio para tirar a indústria brasiliense da posição de coadjuvante, os empresários também assumirão papel importante. Nos próximos anos, os investimentos em tecnologia ganharão força e a mão de obra tende a ser cada vez mais terceirizada. ;Vamos otimizar os centros de produção, adequando os espaços ao conceito de sustentabilidade;, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário do DF (Sindimam), José Maria de Jesus.
Com mais equipamentos de ponta, a fabricação de móveis no DF tende a crescer e passar a abocanhar entre 10% e 15% do mercado interno. Hoje, não supera os 6%. Leandro Souza terá, em 2022, 54 anos e a indústria moveleira comandada por ele, 23. Ao expandir as vendas para lojistas de Brasília e de estados vizinhos, ele espera triplicar a produção e, consequentemente, o faturamento. ;Diferentemente dos últimos 10 anos, agora a empresa vai crescer com planejamento;, afirma.
O segmento do vestuário torce para que, em 10 anos, as feiras do DF estejam mais regularizadas e, assim, a indústria local enfrente menos resistência para aumentar produção, focada no talento dos estilistas brasilienses e na força do mercado de uniformes. ;Teremos plenas de condições de produzir entre 30% e 40% do que é consumido em Brasília;, prevê o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF (Sindiveste-DF), Paulo Eduardo Ávilla.
O segmento aposta ainda na profissionalização das fábricas, pois só assim a indústria local ganhará competitividade para aumentar suas exportações. ;Quem não se qualificar para atender às demandas de um público consumidor cada vez mais exigente estará fora do mercado;, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (Siab), Paulo Sérgio Lopes, representante das 1,3 mil empresas espalhadas pelo DF.
A quantidade de padarias não deve variar muito, mas elas ampliarão os espaços para oferecer muito mais que pão e leite. Lopes aposta em panificadoras ainda mais completas, com opções de almoço, lanche, jantar e produtos de mercearia nas prateleiras. Para abastecer as lojas, os industriais vão precisar de centros de distribuição melhor estruturados.
Chance de virar polo
A tecnologia da informação (TI) tem tudo para ser o segmento de maior destaque da indústria candanga em 2022. ;Seremos o carro-chefe da economia de Brasília;, aposta o presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do Distrito Federal (Sinfor), Jeovani Salomão. Se o Parque Tecnológico Cidade Digital avançar como se espera, há grandes chances de a previsão ser confirmada.
O avanço do mundo digital será cada vez mais rápido. Pessoas e coisas estarão conectadas. E a nova realidade provocará uma demanda sem precedentes para a indústria de TI. O mercado exigirá empresas especializadas na produção e desenvolvimento de softwares. E o setor público continuará precisando de auxílio da iniciativa privada para cuidar de sua área tecnológica.
Só há dois caminhos, na avaliação de Salomão: ou Brasília permanecerá, daqui a 10 anos, dependente da tecnologia externa e dos pedidos governamentais ou, com o Parque Digital implementado, se transformará em um dos polos tecnológicos mais importantes do país. Os salários pagos no segmento ; que hoje já são, em média, o dobro dos recebidos por trabalhadores da indústria ; tendem a aumentar ainda mais. Falta apenas o Estado acelerar a implementação do parque, que há anos enfrenta dificuldades para sair do papel.
Prejuízos
A economia do DF deixa de movimentar pelo menos R$ 5 bilhões por ano sem o Parque Digital. O centro criará 20 mil empregos diretos e outros 60 mil indiretos. Pelo menos 2 mil empresas ocuparão o lote principal do espaço.
Palavra de especialista
Falta uma política
;As diretrizes para impulsionar a indústria do Distrito Federal já existem. Os estudos estão prontos. Mas até hoje nunca tivemos uma política industrial. Acredito em um cenário positivo para o setor daqui a 10 anos somente se o governo deixar de oferecer soluções paliativas e fizer algo de concreto. Será uma questão de sobrevivência. Se não forem adotadas ações efetivas, a indústria de Brasília perderá cada vez mais competitividade e acabará sendo engolida. Caso isso ocorra, a cidade pagará o preço com um maior inchaço do Entorno, o desemprego aumentando e os serviços públicos de saúde, segurança e educação ainda mais comprometidos com a pressão de moradores das cidades vizinhas.;
Diones Cerqueira, economista-chefe da Fibra