Jornal Correio Braziliense

Cidades

Móveis não entregues por lojas Megga a 200 clientes viram caso de polícia

Mais de 200 clientes pagaram e não receberam os mercadorias compradas nas lojas Megga, que culpam a fábrica gaúcha Unicasa pelo problema. Eles acionaram a Polícia Civil e o Procon. Até o Ministério Público do DF e Territórios investiga a denúncia


A Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investigam atrasos na entrega de móveis vendidos pelas lojas Megga, com unidades no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e no Pistão Sul, em Taguatinga. Um embate entre a revendedora e a fábrica, no Rio Grande do Sul, teria lesado pelo menos 200 consumidores. As compras fechadas desde julho e que ainda não foram efetivadas somam R$ 2 milhões. Revoltados com o problema, clientes também acionaram o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF) e o Juizado Especial Cível.

Os atrasos ultrapassam quatro meses. As primeiras queixas chegaram à Delegacia do Consumidor (Decon) em novembro. Desde então, cerca de 20 ocorrências foram abertas. Ontem à tarde, o proprietário da Megga, Paulo Franco, compareceu à unidade policial. O delegado Virgílio Ozelami ouviu as alegações da empresa e pediu cópia dos contratos. ;Vamos investigar um pouco mais para saber se houve ou não a prática de algum crime, como propaganda enganosa ou mesmo estelionato;, afirmou ele.

A Polícia Civil também acompanhará a apuração em curso na 5; Promotoria de Defesa do Consumidor do DF. Há pouco mais de um mês, diante do agravamento do problema, a Megga recorreu ao Ministério Público em ação contra a Unicasa, responsável pela fabricação das marcas Dell Anno, Favorita, New e Telasul. ;A culpa é da fábrica;, sustentou Paulo Franco ao Correio. Segundo ele, a troca de comando da indústria, dois anos atrás, bagunçou a produção e provocou o problema. O empresário nega qualquer crime e diz que os atrasos seriam uma retaliação a críticas feitas pela empresa.

Mudança
Em outubro, a Megga trocou de fornecedor e, para mudar a fachada das lojas, deixou de funcionar por alguns dias. A mudança fez muitos clientes pensarem que a revendedora estaria à beira da falência. No mês passado, um comprador tentou agredir funcionários da empresa, que teve de contratar seguranças. Ontem, Paulo Franco quis tranquilizar os consumidores e prometeu realizar as entregas pendentes até abril de 2012. ;Todo mundo vai receber os pedidos. Temos 10 anos de mercado, somos uma empresa séria;, comentou.

A securitária Patrícia Tâmela, 28 anos, não quer saber de quem é a culpa. ;Só sei que me sinto roubada. Estou sem os móveis e sem o dinheiro;, desabafa. Casada, mãe de dois filhos, ela estava de mudança marcada para outubro. Um mês antes, pagou R$ 18,2 mil, à vista, pelo mobiliário do apartamento novo. Depois de muitas promessas, a Megga de Taguatinga marcou a entrega do pedido para janeiro do ano que vem. Patrícia não acredita mais. ;Não viajamos nas férias durante dois anos para juntar esse dinheiro e preparar nossa casa nova;, contou Patrícia.

Reação
O dinheiro dos clientes não está sendo devolvido, de acordo com o proprietário da empresa, porque ;os pagamentos já foram repassados à Unicasa;. O advogado da indústria de móveis, Rafael Bicca, cujo escritório fica no Rio Grande do Sul, negou a informação, em entrevista ao Correio por telefone. ;O que a Megga fez com o dinheiro dos clientes eu não sei. Eles estão inventando desculpas para fugir do problema;, atacou. A Unicasa ingressou com uma medida contra a loja brasiliense na Câmara de Arbitragem da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

Responsável pelo caso no MPDFT, o promotor Trajano Sousa de Melo acredita que a polêmica envolve um embate comercial entre revendedora e fábrica. Ele diz não haver, por enquanto, indícios suficientes para configuração de crime, porém não descarta a possibilidade de estelionato e, por isso, avisou que o MP dará continuidade às investigações. ;Até agora, o que temos de concreto são os prejuízos aos consumidores;, afirmou. Segundo Melo, os clientes lesados têm grandes chances de conseguirem êxito em ações na Justiça contra a Megga e a Unicasa.

O servidor público Anderson Lima Sales, 31 anos, já procurou o Juizado Especial Cível para ser indenizado. Em agosto, ele comprou móveis para o quarto, a sala e dois banheiros. Gastou R$ 9.990, mas a reforma da casa acabou sendo adiada. ;Todo o planejamento de um sonho foi por água abaixo;, lamentou. Ainda não há prazo para entrega. Um funcionário da Megga de Taguatinga teria dito que o pedido de Sales iria para ;o fim da fila; porque ele acionou a Justiça e o Procon. O proprietário da Megga negou retaliações a clientes que estejam procurando seus direitos.


Mundo virtual
O site da Megga diz que a empresa tem como princípio a ;pontualidade e qualidade na instalação; e destaca que a equipe de entrega é ;qualificada, grande e totalmente compromissada com os prazos;. A página virtual ainda traz a informação de que as lojas trabalham com ;uma das maiores fábricas da América Latina;, a Unicasa.


Ausência
Os representantes da Unicasa não compareceram, ontem, à segunda audiência de conciliação no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O advogado alegou que sem o pagamento por parte da Megga, não há negociação. Nova tentativa de acordo será marcada para janeiro.