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Desde a série 'Órfãos do Asfalto', mais nove pessoas morreram no trânsito

Somente desde o último domingo, quando o Correio começou a publicar a série "Órfãos do Asfalto", mais nove pessoas morreram em acidentes de trânsito nas principais vias do DF e no início da rodovia que liga a capital ao Rio de Janeiro


Na guerra do asfalto, não há trégua. Os acidentes de trânsito ocorrem praticamente todos os dias. Aleijam, ferem, matam pais de família. Na batalha das pistas, nem crianças e mulheres são poupadas. Também são soldados. Desde o último domingo, o Correio publica uma série de reportagens sobre desastres em vias e rodovias que cortam o Distrito Federal. São estatísticas de colisões e mortes no trânsito. Natureza dos acidentes, dia, hora, onde mais ocorrem. Mais que números, histórias de pessoas que se foram e fizeram pais, alunos, mães, professores, filhos, uma sociedade, avós e crianças órfãos de seus queridos.

Quando as reportagens começaram a ser publicadas, esse triste obituário somava 449 pessoas no Distrito Federal ; contadas as vidas sacrificadas até 4 de dezembro. Mas, do último fim de semana até hoje, pelo menos mais quatro pessoas perderam suas vidas em pistas do DF. Ontem, cinco pessoas, três de uma mesma família, morreram carbonizadas em um acidente que deixou 11 feridos na BR-040, já em terras goianas, mas em trecho cuja jurisdição é da Polícia Rodoviária do DF.

Desde o início do ano, 395 acidentes fatais ocorreram até o início da série ;Órfãos do Asfalto;. Em apenas quatro dias, mais seis desastres elevaram para 401 o número de tragédias mortais nas pistas. Nesse curto período, 20 pessoas se machucaram, foram socorridas e agora várias delas entram para uma realidade de hospitais, remédios, fisioterapia. Em um ano, o cuidado com os feridos consumiu meio bilhão de reais (R$ 544,9 milhões). Os prejuízos com as vítimas fatais chegaram a outros R$ 189,6 milhões. Dinheiro que poderia ser empregado para a vida, com a construção de casas populares (3.160), de escolas (75), de postos de saúde (18), mas que pagou as providências envolvidas nos óbitos em vias e rodovias do DF. Entre elas, o seguro para as famílias dos acidentados.

Vidas perdidas
O promotor de Justiça Albertino de Souza Pereira Netto foi uma das vidas perdidas nessa guerra. Na manhã da última terça-feira, ele, a mulher, Roberta, e o filho do casal, Bruno, de apenas 14 anos, se preparavam para passar o Natal em família em Conselheiro Lafaiete, a 100km de Belo Horizonte. Mas em Luziânia, o Prisma bateu de frente com uma Saveiro. O carro pegou fogo. Albertino, que em seus nove anos de carreira no Ministério Público do Distrito Federal dedicou-se a desmascarar desvios com o dinheiro público e seus autores, deixou Brasília órfã. Atuou no Tribunal do Júri de Ceilândia, na Promotoria de Patrimônio Público e Social e atualmente era o chefe de gabinete da procuradora-geral de Justiça do DF, Eunice Amorim Carvalhido.

A tragédia que fez desaparecer uma família inteira foi seguida de outro desastre a poucos metros de onde o carro do promotor de Justiça pegou fogo. Por conta da interdição da rodovia, formou-se uma fila de carros. Um caminhão não freou e esmagou o carro onde estava Jane Hilsea Gomes, 59 anos. Ela e seu neto de apenas 3 anos morreram. O pequeno foi a 11; criança que perdeu a vida em 2011. Em 2010, foram outras 29 vidas interrompidas na primeira infância. O Detran confia que a redução deve-se ao uso da cadeirinha. O menininho acidentado na última terça estava protegido por um desses equipamentos, mas, infelizmente, de nada adiantou.

Como mostrou em reportagem na última terça-feira, as mortes nas pistas seguem um padrão. Ocorrem, principalmente, nos fins de semana, quase sempre à noite. O policial militar Leandro Correia Matias entrou para esse calendário fatal na madrugada do último sábado. Ele foi atropelado por um Honda Civic quando saiu do carro para urinar à beira da Estrada Parque do Vale (EPVL), próximo ao Jóquei Clube. Na mesma noite, por volta das 4h da manhã, uma família se envolveu em um acidente na DF-495. O automóvel com quatro pessoas bateu em uma árvore e pegou fogo. Rejane dos Santos, 31 anos, não conseguiu sair do veículo. Morreu na pista. Um garotinho de 6 anos, filho de Rejane, ficou gravemente ferido. É mais um órfão do asfalto.


Precisamos diminuir o índice de mortes no trânsito. As estatísticas são altíssimas"
Sandro Avelar, secretário de Segurança do DF