Ter um público consumidor com renda alta e estável é um privilégio para o mercado brasiliense. Não à toa, a capital federal entrou na rota dos projetos de expansão das principais empresas do país e mesmo de multinacionais, incluindo lojas de grifes renomadas. Contar com clientes com bons salários e vínculo permanente traz mais segurança à abertura de negócios e permite a aplicação de margens de lucro consideráveis e, consequentemente, resultados acima da média.
Empresários em atuação na cidade, dos mais diversos segmentos, encaram os servidores como principal público-alvo. Os executivos traçam as metas levando em consideração a estabilidade e o poder de compra desses trabalhadores. Eles podem não ser os mais ricos da cidade, mas são os clientes mais desejados pelas concessionárias, construtoras e imobiliárias, pelo comércio de rua e shoppings, pelos bares e restaurantes.
[SAIBAMAIS]
Os servidores ajudam a justificar o superaquecido mercado imobiliário de Brasília, que, apesar da desaceleração em 2011, se destaca como um dos mais promissores do país. Na capital federal, o peso do funcionalismo implica em mais aprovações de financiamento e menos inadimplência. ;Os servidores podem comprar o imóvel sem medo de não ter o dinheiro no mês seguinte;, reforça Pedro Fernandes, diretor da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário (ABMI). Em três empreendimentos lançados recentemente em Águas Claras, os funcionários públicos representaram uma média de 28,8% dos compradores.
Nas concessionárias, os que trabalham para o Estado correspondem a cerca de 65% dos clientes. Trocam de carro, em média, a cada três anos. Além disso, a taxa de inadimplência em Brasília chega a ser 30% menor do que no restante do Brasil, segundo o diretor de vendas do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do DF (Sincodiv-DF), Alessandro Soldi. ;A estabilidade faz com que o servidor possa se endividar dentro de uma margem admissível e fazer mais compromissos;, afirma.
Lojas e bares
O comércio local costuma ser imune às crises de consumo. Mesmo quando as vendas retraem por motivos externos, o faturamento do varejo apresenta resultados melhores se comparados aos de outras capitais. O presidente do Sistema Fecomércio-DF, Adelmir Santana, diz que, se por um lado a concentração de renda preocupa, é essa característica que salva os lojistas da cidade. ;Brasília não produz um parafuso nem um macarrão, mas tem de 13 a 15 boas safras todo ano;, comenta Santana, referindo-se à quantidade de salários pagos pelo funcionalismo.
Filho de agricultor e dona de casa, Gilmar Ramos deixou São João do Aliança (GO) e chegou a Brasília ainda adolescente para estudar. Naquela época, relembra, já tinha a intenção de passar em concurso. Conseguiu, assim como oito dos 10 irmãos. Aos 49 anos, tem casa própria, carro, moto e viaja com frequência com a família para o exterior. ;Vale a pena perder alguns anos estudando para ganhar a vida inteira. Hoje, tenho tudo o que preciso;, comenta o técnico federal de controle externo, casado com uma também servidora do Tribunal de Contas da União (TCU) e pai de dois filhos, catequizados para ocuparem vaga em algum órgão público.
A trabalho, com os amigos ou com a família, os servidores também movimentam os bares e restaurantes de Brasília. O segmento gastronômico cresce assustadoramente apostando, sobretudo, nessa demanda. ;É um público determinante para o sucesso do negócio;, diz o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel-DF), Jaime Recena. As refeições de negócio levaram os estabelecimentos a criarem espaços reservados, com televisores e datashow. Em uma única sentada, duas pessoas chegam a gastar R$ 12 mil com um ou mais vinhos ; dos mais caros da adega ;, entrada, prato principal, sobremesa, cafezinho e gorjetas. (DA)