O soldado da Polícia Militar João Dias, que anteontem invadiu o Palácio do Buriti e agrediu servidores, foi libertado ontem pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). O juiz de plantão Fábio Esteves acatou pedido da defesa e, no início da noite, expediu o alvará de soltura do soldado. Dias estava detido em uma ala especial do Complexo Penitenciário da Papuda por ter agredido um colega de farda no Palácio do Buriti (leia ao lado). O episódio é investigado pela Corregedoria da PM e pela Polícia Civil, mas, hoje, o secretário de Governo, Paulo Tadeu, pedirá o ingresso do Ministério Público do DF no caso.
Segundo o advogado do policial, André Cardoso, a prisão era injusta e ilegal. João Dias havia pagado a fiança de R$ 2 mil devido à prisão na 5; Delegacia de Polícia pelo crime de injúria racial contra uma servidora do GDF quando recebeu, na manhã de ontem, voz de prisão da Corregedoria da PM por lesão corporal. ;O delito é leve e pode ser punido com três meses a um ano de detenção. Mantê-lo preso era uma medida desproporcional;, alegou Cardoso.
Em depoimento, João Dias afirmou que foi ao Palácio do Buriti para devolver R$ 200 mil que haviam sido entregues por uma comitiva do secretário de Governo ; supostamente formada por um delegado da Polícia Civil, um coronel da PM, um membro da família de Paulo Tadeu e uma assessora. Na versão de João Dias, a tentativa era comprar o seu silêncio sobre supostos negócios escusos que envolviam o secretário. O soldado não teria aceitado o acordo, mas mesmo assim o grupo teria deixado a sacola de dinheiro na porta da garagem da casa dele. Dias também entregou à polícia um atestado de que estaria passando por tratamento psiquiátrico. Durante o depoimento, chegou a tomar remédio de tarja preta.
Origem do dinheiro
Segundo o diretor-geral da Polícia Civil, Onofre de Moraes, o caso será investigado pela Delegacia do Crime Organizado.Um dos pontos a serem elucidados é a origem do dinheiro. ;Ele (João Dias) estava com R$ 159 mil em dinheiro (quando invadiu o Buriti). As notas eram velhas, tinha algumas moedas e não havia identificação do banco. Temos que esclarecer qual é a origem desse dinheiro e como ele foi parar nas mãos do João Dias;, afirmou o diretor.
O secretário de Governo negou qualquer tipo de envolvimento com o policial militar. ;Não tem acordo com a bandidagem;, disse. Paulo Tadeu conta que a última vez que cumprimentou o algoz foi há quatro anos. ;Ele é um canalha. Se eu tivesse rabo preso com ele, não faria uma coisa como essa. Devo ser um empecilho para algum negócio de interesse dele;, disparou. Hoje, o petista se encontrará com a procuradora-geral de Justiça do DF, Eunice Carvalhido, para pedir o ingresso do Ministério Público no caso. Ele considera o órgão um ambiente neutro para apurar as denúncias.
Segundo Tadeu, as mentiras de João Dias são facilmente desmontadas. Ele afirmou que estava, no domingo, em São Paulo para assistir à última rodada do Campeonato Brasileiro e que seu irmão, Ricardo, passou o fim de semana com a mulher no Rio de Janeiro. Paulo Tadeu disse, ainda, ter os bilhetes das passagens e outros documentos comprovando que as denúncias do PM fazem parte de uma farsa. ;João Dias é ponta de lança de um esquema maior;, afirmou. Por sua vez, o chefe da Casa Militar do GDF, tenente-coronel Rogério Leão, desafiou o colega de farda a comprovar sua participação no episódio. ;Espero a avaliação das imagens do circuito do condomínio dele para demonstrar que eu não estava lá.;
O governador Agnelo Queiroz (PT) defendeu uma ;investigação rigorosa; do incidente. Ele se disse indignado e definiu como grave a ação do militar. O petista garantiu que a lei será cumprida ;doa a quem doer;. ;Estamos absolutamente indignados. Invasão ao Palácio do Buriti é uma agressão a um patrimônio público, um símbolo da democracia e da República. Tomamos as medidas com base na lei e estamos fazendo uma investigação rigorosa de tudo o que aconteceu. Lei é para ser cumprida e será cumprida rigorosamente;, disse.
Colaborou Adriana Bernardes