Se você não se conforma com a corrupção, provavelmente vai se identificar com a indignação do servidor público e professor universitário Luiz Valério Rodrigues Dias, 49 anos, morador do Sudoeste. A vontade de não se calar diante dos absurdos cometidos por quem deveria defender a sociedade é a matéria-prima do livro que o brasiliense lançou na última quinta-feira, no restaurante Carpe Diem da 104 Sul. O título é A corrupção nossa de cada dia. Reflexões de um cidadão indignado.
Os textos vieram de observações escritas por Valério para o Correio Braziliense, publicadas na seção Desabafo do leitor, na página diária de Opinião. Há espaço dedicado exclusivamente ao pensamento dos leitores. Valério já escreveu 4 mil textos para o jornal. Desses, 500 foram publicados. A média é de 10 desabafos todo mês.
Ao fim, as ideias renderam 127 páginas. Valério é economista e tem diploma de graduação em ciência política. Na introdução, o autor conta: ;Comecei a escrever reflexões, que podem ser chamadas de desabafos, ou mesmo de quase haicais (pequenos poemas) políticos, em meados de 2007. O mote provocativo do jornal realmente me entusiasmou: ;Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição;. É verdade!”.
Ver o próprio ponto de vista estampado nas páginas do veículo de comunicação amenizava a sensação de impunidade. ;O problema é que os nossos políticos são tão pródigos em provocar cada vez mais situações inusitadas que, infelizmente, não consegui mais parar de escrever desabafos.; O livro publicado por Valério, entretanto, não traz somente as opiniões a respeito do tema. Oferece informações sobre a origem da corrupção no Brasil, além de dados e relatos históricos.
Raízes do mal
Na tentativa de traçar um panorama, o autor volta aos tempos da colonização do Brasil. ;É muito difícil precisar quando a corrupção começou por aqui, mas a história nos permite afirmar que os primeiros sintomas desse mal já eram percebidos com a chegada dos portugueses à terra do pau-brasil;, relatou. Valério lembra que o primeiro corrupto a pisar em terras brasileiras pode ter sido o ouvidor-geral do Brasil (espécie de ministro da Justiça, em tempos modernos).
;Segundo Eduardo Bueno: ;Pero Borges não tinha a ficha limpa;. Antes de embarcar para o Brasil, designado pelo rei D. João III para o cargo de ouvidor-geral, Pero ocupara o cargo de corregedor da Justiça em Portugal e fora condenado por uma comissão parlamentar de inquérito porque ficou comprovado que desviara recursos públicos em proveito próprio;, explicou.
O servidor público ressalta o papel do eleitor no processo de mudança. ;Precisamos identificar, conhecer e clonar os nossos bons políticos, pois eles existem, sim. Existem políticos que emitem os raios de luz da honestidade no Congresso, em diversas câmaras legislativas e nos poderes executivos. E eis aí a mágica força do eleitor: muitas vezes, precisamos desmanchar paredes ou empurrar colunas para permitir a passagem da luz para todos;, concluiu.
Trechos da publicação
;Se Jaqueline não for cassada por decoro parlamentar, então, que se dê coro nos parlamentares;
;Acreditar que a Câmara Distrital fará bem à população é o mesmo que dizer que Niemeyer ainda acredita
em Papai Noel;
;Choque de realidade: se o Brasil prendesse um corrupto todo dia, poderíamos aprender a quantificar o significado
de 1 ano-luz;
;Não tem graça a maneira como a corrupção grassa no Brasil. Em 2011, pedimos a graça divina para acabar com essa gracinha que assola o país;
;Brasília precisa não só de faxina física, mas, principalmente, de faxina
ética e moral;
;De tampão em tampão, será que Rosso dará à população
mais um tapão?;
;Brasília, acorda! A cor da corda tem a cor da rosa: paz;
;Choque de gestão só funciona quando houver o fim do nepotismo e da corrupção;
;Dizem que Ronaldinho já está negociando a volta dele à Seleção. Falta escolher qual será: Brasil, EUA, China ou qualquer uma do Oriente Médio;
;Novo governo, novos
sonhos: o povo brasileiro não quer somente desenvolvimento econômico e alegria.
Quer também justiça,
paz e harmonia;
;Pelo jeito, para conseguir um terreno pelo Pró-DF bastava dizer que era Pró-Amigo;
;Com a volta do Legislativo, o mundo político retorna ao normal: no início, brigas e intrigas, depois, denúncias de corrupção até chegar o Natal;
;O Arquivo Nacional deve aprender a diferença entre guardar e esconder documentos;
;Distritais querem alterar o regimento interno da Casa. Pelo jeito, deverão acrescentar que prevaricação fará parte das atribuições legais e correntes
dos deputados;
;Dizem que, se o Legislativo está em férias, o índice de criminalidade diminui
em Brasília;
Conheça
A corrupção nossa de cada dia. Reflexões de um cidadão indignado.
De Luiz Valério Rodrigues Dias. Editora Annabel, 127 páginas. Preço sugerido: R$ 45. Informações: www.editoraannabel.com.br.