A partir de hoje, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) também coletará o lixo eletrônico, como pilhas, lâmpadas e eletrodomésticos. Serão 13 postos distribuídos em 11 regiões administrativas do Distrito Federal, como Plano Piloto, Sobradinho, Gama, Taguatinga e Ceilândia. A demanda surgiu por causa da carência de locais adequados para o depósito desse tipo de material. Na capital federal, poucos estabelecimentos comerciais fazem o recolhimento. Só alguns supermercados e shoppings, nem sempre em postos fixos. No Pátio Brasil, por exemplo, o estande de coleta é montado no último fim de semana de cada mês.
O SLU abriu os postos de depósito mesmo não sendo responsabilidade formal do órgão. A legislação brasileira aponta que o fabricante deve cuidar da reutilização, da reciclagem, do tratamento e da disposição final do produto. Desde 2000, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) obriga a logística reversa, de devolução para o fabricante. Mas, apesar da norma, os consumidores ficam confusos com o destino de pilhas e baterias e acabam por depositá-las no lixo doméstico.
O chefe da assessoria de Planejamento do SLU, Edmundo Gadelha, informou que a empresa resolveu fazer o serviço para impedir que os rejeitos eletrônicos continuem a chegar ao Lixão da Estrutural e a contaminar o solo. ;Percebemos que a logística do consumidor para entregar aos fabricantes não tem funcionado direito, porque as pessoas não sabem como fazer. Por isso, abrimos esses postos;, explicou.
O analista de sistemas Volney de Mello, 62 anos, concorda que a coleta é confusa, tanto que sempre descartou as pilhas e as baterias no lixo doméstico. Outros eletrodomésticos, como computadores e televisões, ele prefere doar. ;Na verdade, nunca acreditei direito na coleta seletiva. A impressão que eu tenho é que eles juntam tudo no fim;, disse.
Para Izabel Zaneti, professora de Saúde Coletiva da UnB Ceilândia, a inclusão de mais pontos de coleta de lixo eletrônico é um passo importante para impedir que substâncias tóxicas contaminem o solo (leia E eu com isso). ;É uma excelente alternativa. Brasília precisa melhorar em muito como lida com o lixo, pois não tem aterro sanitário, e a coleta seletiva é mínima;, disse.
Os novos postos receberão o material, que será enviado para centros de triagem e empresas de reciclagem. Como no DF ainda não existe nenhuma companhia especializada em reciclagem de material pesado, os rejeitos devem ser encaminhados para estados como São Paulo.
Futuro
preocupação do SLU surgiu porque o lixo eletrônico é um dos que mais cresce no Brasil e no mundo. A estimativa é de que 40 milhões de toneladas sejam geradas por ano no planeta. Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado no ano passado, o país é, entre os emergentes, o que mais descarta computadores. A média é de 400 gramas anuais por habitante. Na China, esse valor é de 230g.
A professora Daniele Marques, 30 anos, percebe em casa o aumento expressivo do lixo eletrônico. Ela já jogou fora pilhas, baterias e até um celular. Grávida de oito meses, ela se preocupa com o futuro da natureza e do planeta. Por isso, separa o lixo em casa e o deposita em um supermercado na Asa Sul. ;Eu trago porque é cômodo e perto de casa. Com novos postos, mais gente vai se animar a separar o lixo;, acredita.
E EU COM ISSO
O descarte incorreto de lixo eletrônico pode causar danos ao meio ambiente. Pilhas, computadores e baterias contêm em suas composições metais pesados altamente tóxicos, tais como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo. Em contato com o solo, esses elementos contaminam o lençol freático e, consequentemente, a água que abastece as residências, que rega a produção agrícola e acaba ingerida pelos animais de consumo. Além disso, se essas substâncias forem incineradas, poluem o ar. As vítimas mais frequentes da contaminação causada pelo lixo eletrônico são os catadores que sobrevivem da venda de materiais coletados e triados.