A imagem de homens fardados e fortemente armados a ocupar pontos tomados pelo tráfico de drogas e por organizações criminosas chegará à capital do país. O governo federal prepara para o início do próximo ano um plano especial de segurança para o Distrito Federal e para o Entorno por causa do aumento excessivo da violência na região. Especialistas avaliam que, caso não haja providências imediatas, o problema poderá ficar sem controle em cinco anos. Uma das preocupações da União é que a criminalidade não se restrinja a áreas localizadas, mas se alastre pelo Plano Piloto e cresça em pontos considerados de risco, como a Estrutural. Dentro do plano, os governos federal e do Distrito Federal deverão adotar a tática da ocupação de territórios, como ocorre em favelas e em morros do Rio de Janeiro com as unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) (leia Memória).
Uma das preocupações das autoridades é com a possibilidade da migração do crime de outras regiões do país para o Entorno, onde as condições de atuação são atrativas, conforme estudos feitos pelo governo federal. ;As posições geográficas facilitam, não há policiamento suficiente e há o fato de Brasília ter uma renda per capita altíssima;, observa um técnico da área de segurança da União. Pela avaliação do setor, a transferência poderia ser de criminosos do Rio, onde estão sendo realizadas as ações de expulsão dos bandidos. Não seriam grupos ligados a grandes organizações criminosas, mas pequenas facções que perderam o poder ou o status nas comunidades pacificadas.
Além disso, estudos do governo federal apontam que há uma nova dinâmica na atuação dos criminosos, que hoje estão organizados no Entorno e em áreas do Distrito Federal, como a Estrutural, a Ceilândia e o Itapoã. Outra observação feita por autoridades federais mostra que, onde as forças de segurança não entram com frequência, há crescimento no número de homicídios. ;O que não pode acontecer é aceitar o acordo dizendo que a polícia não sobe o morro, mas o bandido também não desce;, diz o mesmo técnico. ;A Estrutural, por exemplo, pode virar uma Águas Lindas dentro do DF;, observa a fonte. Os índices registrados na região, segundo estudos da União, são proporcionalmente superiores aos do Rio.
Hoje, a atenção das autoridades está voltada aos municípios goianos de Valparaíso (GO), Águas Lindas, Novo Gama e Luziânia, nos quais os efetivos policiais são pequenos e surgem novas modalidades de crimes contra a vida, como grupos de extermínio, entre outros ; em algumas cidades, há a Força Nacional de Segurança. No encontro que houve na última terça-feira entre os governos federal, de Goiás, do Distrito Federal e de Minas Gerais, foi discutido como fazer para diminuir a violência. Ficou constatado que deverá haver uma maior integração não apenas entre as polícias, mas com os municípios. ;Está na hora de os prefeitos encararem essa situação de forma mais firme;, cobrou o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, presente na reunião.
;Ilha desprotegida;
O plano de atuação do governo federal será apresentado no próximo ano à presidente Dilma Rousseff. Para o DF, é programado um sistema de monitoramento eletrônico no Plano Piloto, onde existirem maiores incidências de assaltos. A União também quer intensificar o recolhimento de armas, já que, desde o lançamento da campanha, há seis meses, foram recolhidas só 437. Hoje, são 37 postos em Brasília, sendo 34 na Polícia Civil, um na Federal e nenhum na PM.
Mas o ponto mais alto do planejamento é a possibilidade de algumas áreas consideradas perigosas ;assoladas pelo narcotráfico e pelas quadrilhas organizadas ; serem ocupadas pela polícia e até mesmo as Forças Armadas, como ocorreu no Rio, no ano passado, e mais recentemente na Favela da Rocinha. O assunto é tratado com sigilo pelas autoridades. Dentro do governo, a avaliação é a de que a população de Brasília ;está vivendo em uma ilha desprotegida; e com o temor de que o aumento da violência nas cidades do Entorno chegue ao Plano Piloto, o que pode acontecer em cinco anos.
Dentro do plano, os governos pretendem reaparelhar as polícias, principalmente com equipamentos de comunicação conjunta, além de medidas de prevenção, como a realização de campanhas educativas. A meta é envolver os municípios do Entorno, o Ministério Público e o Poder Judiciário, que deverão agir na questão prisional, em função dos últimos motins ocorridos em presídios da região.
Atuação
Em abril deste ano, a Força Nacional de Segurança chegou ao Entorno para, em parceria com a Polícia Militar, fazer operações de combate ao crime. O trabalho é realizado nas 19 cidades da região, mas as ações estão voltadas especialmente para as regiões consideradas mais críticas ; Águas Lindas, Cidade Ocidental, Luziânia, Valparaíso e Novo Gama.