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Nesta época do ano, as árvores de Brasília ficam carregadas de frutas

A cidade ainda era uma jovenzinha quando as primeiras árvores frutíferas começaram a crescer. Hoje, frondosas, fazem com que mangas, jacas, jabuticabas e as nativas do cerrado jenipapo e cagaita estejam em toda parte da capital federal. Algumas passam desapercebidas pelos brasilienses. Já a abundância de outras é encarada com alegria. Um exemplo é a manga, que frequentemente é colhida dos pés espalhados pelas ruas. Com toda essa fartura, por que não explorar essas delícias? Para isso, chefs ensinam receitas fáceis que podem ser executadas com esses frutos que já podem ser considerados tipicamente candangos.

De uma árvore com ramos tortuosos, tronco enrugado e poucas folhas nasce a cagaita, fruto redondo e amarelo com cerca de 3cm de diâmetro. De acordo com a proprietária da Sorbê (405 Norte), Rita Medeiros, a safra está ligada ao início das chuvas e vai de setembro a novembro. Por ter casca fina, a fruta é bem delicada e perecível, então a recomendação é de processá-la ou consumi-la assim que colhida. ;O fruto é coletado direto do chão, não podemos pegar no pé, como fazemos com a banana, que pode amadurecer enrolada no jornal;, destaca.

O sabor da cagaita é adocicado com toques azedos, podendo ser utilizada tanto em receitas salgadas quanto doces, como geleias e sorvetes. Rita separou para o Correio uma receita de queijadinha (veja quadro). Ela reforça que a safra das frutas do cerrado é rápida, por isso é bom ficar atento aos prazos de coletas para melhor aproveitá-las. ;Todas elas acabam muito rápido. A dica é estocar, armazenar da forma correta, para ser usada posteriormente;, aconselha.

Com cheiro forte e aparência um tanto imponente, a jaca surpreende não só pela beleza de suas árvores, mas também pela versatilidade de seu fruto. Oriunda da Índia, o fruto foi trazido para o Brasil em meados do século 18 e pode ser utilizada no preparo de diversos pratos. O fruto tem três versões: jaca-dura, jaca-mole e jaca-manteiga. Rita conta que a safra e a colheita são as mesmas da cagaita. ;Quando está madura pode ser preparada como sorvete, doces e geleias, sendo adequada para os dois últimos a jaca-dura;, salienta.

A variedade mole é mais usada para sucos ou consumida in natura, que por sinal é uma delícia. Zélia Santos, proprietária do restaurante Tia Zélia (Acampamento Pacheco Fernandes, na Vila Planalto), considera que a fruta não é boa para preparações salgadas. A restaurateur ensina o tradicional doce da fruta, que segundo ela, deve ser preparado para muitas pessoas, pois uma jaca pode chegar a pesar até 15kg. ;Mesmo que se consiga colher uma jaca pequena, o doce rende muito;, avisa. Outra peculiaridade da fruta são as sementes. Segundo a chef, em vez de descartá-las, uma opção é assá-las em forno e salpicar com sal. ;É um ótimo tira-gosto para acompanhar a cerveja;, ensina.

Com e sem fiapo
Outro fruto que teve origem na Índia é a manga. No entanto, ela mais parece ter surgido em Brasília, onde toda quadra que se preze tem algumas mangueiras. A variedade também chama a atenção: manga-espada, coquinho, palmer e rosa, entre outras. Não faltam também adoradores da fruta. Basta surgir uma madura, ainda na copa da árvore, que começa os cutuques com varas improvisadas para colhê-la.

;O problema é que essas mangas de rua têm muito fiapo, o que restringe seu uso a sucos ou ao consumo in natura;, aponta Gerardo Maciel, chef do Piantela (203 Sul). Para as versões sem fiapo, as opções incluem receitas doces e salgadas. ;Manga fica bem com arroz, flambada, grelhada e o que mais a criatividade mandar;, considera o cozinheiro, que indica seu uso com foie gras. ;Ele é muito versátil e combina com o adocicado da manga.;

Roxa, redonda, com casca firme e polpa cremosa, a jabuticaba, frutinha que nasce no tronco da árvore e encanta as crianças, pode ser empregada em tortas, geleias e molhos para carnes. ;Ela está em plena safra. Quando madura, pode ser comida crua e usada para fazer sorvete e suco;, indica Rita Medeiros. Para ela, todas as frutas podem ser utilizadas de forma doce e salgada, pois são muito versáteis. ;Podemos até fazer bolo e pão dessas frutas;, afirma. Já o jenipapo não tem a mesma versatilidade. Com cerca de 7cm de diâmetro, redondo, com casca marrom e aspecto empoeirado, o fruto é nativo da América do Sul e Central. O cheiro e o gosto são fortes, fazendo com que ele seja uma perfeita matéria-prima para doces e licores. Zélia Santos conta que é preciso, porém, esperá-lo amadurecer para realizar as preparações. A safra é de março a setembro e em janeiro. ;O licor é muito comum na Bahia. Aliás, baiano que é baiano sabe fazer licor de jenipapo;, institui.


Cuidado
O consumo da cagaita exige um pequeno cuidado: em excesso, a fruta aquecida pelo sol costuma produzir um efeito laxante. É rica em carboidratos e minerais como cálcio, fósforo, iodo, cobre e ferro. Contém vitaminas A, C e do complexo B.


Colorida
No mundo, existem mais de 500 variedades de manga, com diferentes tamanhos e cores. Essa fruta é rica em carboidratos, betacaroteno (provitamina A), vitamina C, vitaminas do complexo B, ferro, fósforo, cálcio, potássio, magnésio e zinco.


Nutritivo
O jenipapo é um fortificante que estimula o paladar. Pode ser usado no combate à anemia e a doenças hepáticas. Contém cálcio, ferro, hidratos de carbono e as vitaminas B1, B2, B5 e C. Existem as seguintes variedades da fruta: pequeno, médio e grande; com e sem caroço; jenipapo sempreflorens; macho e fêmea.