A criação de um fundo para financiamento da segurança pública do Entorno é vista como uma das soluções capazes de amenizar a violência dos 16 municípios da região. Os recursos deverão somar cerca de R$ 700 milhões, oriundos da União e dos governos de Goiás e do Distrito Federal. Essa medida, bem como investimentos na estrutura física ; com a construção de mais delegacias e de postos de policiamento ; e a valorização dos profissionais, deve ser listada em uma carta de intenções a ser divulgada ainda este ano. A insegurança foi tema de debate ontem durante o 1; Colóquio sobre Segurança Pública no DF e Entorno, realizado no Centro de Convenções de Luziânia (GO), distante 48 quilômetros de Brasília.
O evento começou por volta das 12h e contou com a presença de pelo menos 30 autoridades, entre elas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz; a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki; e o secretário de Segurança Pública de Goiás, João Furtado Neto, que justificou a ausência do governador Marconi Perillo. ;Por motivo de agenda no DF, ele não pôde estar aqui. Perillo foi tratar de assuntos da mais alta importância;, disse Neto. Especialistas, diretores da Polícia Civil, comandantes da Polícia Militar das duas unidades da Federação e deputados federais também participaram da discussão.
Do lado de fora do Centro de Convenções, a população segurava faixas e cartazes cobrando uma resposta das autoridades ao enfrentamento da violência no Entorno. Entre elas, estava a funcionária pública Geralda Meireles, 41 anos. Por volta das 18h30 do último domingo, o cunhado dela foi assassinado com quatro tiros após furar uma barreira feita por um grupo de vândalos em uma rua de Luziânia. ;Ele saiu para comprar remédio e, quando tentou passar, foi atingido por chutes e garrafadas, e assassinado;, contou. Até ontem, o crime permanecia impune. Na rua onde ocorreu o homicídio, os vizinhos preferiram não se manifestar sobre a barbárie. ;Onde estava a polícia ,que não impediu esses marginais de fecharem a rua e de matar uma pessoa?;, disse indignada.
Com deficit de quase 3 mil vagas e salário de R$ 2.711, a Polícia Civil do Entorno segue em greve há 31 dias. A corporação pede aumento da gratificação de localidade, oferecida a policiais em situação de risco permanente, hoje, no valor é de R$ 276. A categoria reivindica uma ajuda de custo de R$ 800 para todos os agentes. ;A região é muito violenta e isso é provado estatisticamente. O governo de Goiás está omisso ao caos e não tem valorizado a polícia;, criticou o diretor do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol-GO), Silveira Alves.
Resposta
Para o ministro da Justiça, o primeiro passo para reduzir os índices de violência é a união dos Executivos do DF e de Goiás com o governo federal, respeitando as diferenças partidárias. ;Nós temos que dar uma resposta à população e ter uma boa gestão do dinheiro que for empregado aqui;, disse Cardozo. Segundo Agnelo Queiroz, é possível que os policiais do DF passem a ter reuniões periódicas com os colegas de Goiás para discutir estratégias de combate à violência. ;O objetivo desse colóquio é fazer ações concretas e organizadas. É importante que o policial do Distrito Federal possa entrar em Goiás para fazer operações, por exemplo;, disse Agnelo.
Durante o evento, com ajuda de uma marreta, ele o ministro e os secretários de segurança de Goiás e Nacional também inutilizaram uma arma como símbolo da Campanha Nacional do Desarmamento de 2011.
Enquanto na cidade do Rio de Janeiro a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de 30 assassinatos, em Luziânia é de 73,91 e em Valparaíso de 73,69. O número de mortes cresceu 57% de 2007 até o ano passado, saltando de 312 assassinatos para 531. A média em 2010 foi de 44 assassinatos por mês e, este ano, a quantidade subiu para 53, ou seja, crescimento de 20%. Para o chefe do gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno, Edson Araújo, a situação é fruto da falta de interesse de governos anteriores. ;São 50 anos de uma dislexia sobre de quem é a responsabilidade do Entorno. Não é possível o DF querer ser uma ilha de segurança, uma vez que a miséria não respeita muros;, disse.
Radiografia
Evolução do número de homicídios no Entorno
2007 - 312
2008 - 368
2009 - 471
2010 - 531
2011* - 426 (média mensal 20% superior à registrada no ano anterior)
*janeiro a agosto
Efetivo insuficiente
Polícia Militar - Polícia Civil - Corpo de Bombeiros
Equipe atual - 1.746 - 434 - 171
Ideal - 4.010 - 1.234 - 1.674
Gasto atual com salários - R$ 5.934.477,46 - R$ 1.607.000,34 - R$ 587.606,27
Ideal - R$13.743.068,21 - R$ 4.120.563,18 - R$6.031.945,11
Personagem da notícia
Vítima da insegurança
Em 2005, Antônio Leopoldino Sobrinho, 43 anos, ficou de frente com a morte após sofrer uma tentativa de assalto na porta de uma agência bancária em Luziânia, onde mora. O motorista foi abordado por quatro bandidos, entre eles dois adolescentes, que exigiram que ele seguisse para o próprio carro sob a mira de um revólver. Com medo de ser espancado e assassinado em seguida, ele reagiu. ;Quando o rapaz encostou o cano no meu peito eu virei de uma vez e segurei a arma. Ela ainda conseguiu disparar e acertou a minha barriga. Graças a Deus, tive força para dominar o assaltante que estava armado até a polícia chegar. O restante correu;, lembra. Depois disso, Antônio ainda passou cerca de duas semanas internado no hospital e um ano afastado do trabalho.