Jornal Correio Braziliense

Cidades

Detran inicia campanha em vias que registraram mais mortes neste ano

O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) escolheu as três vias com maior índice de mortes em 2011 para realizar uma campanha educativa. Ontem, parte dos motoristas que passaram por uma das saídas da Ponte JK, no sentido Lago Sul, das 9h às 11h, foi parada por bonecos e agentes e recebeu panfletos produzidos pelo Detran e pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Somente este ano, três pessoas morreram no cartão-postal de Brasília, mesmo número de óbitos registrados na via N1, em Ceilândia Sul. Segundo estatísticas do departamento, a LJ2, na Samdu Norte, em Taguatinga, é o trecho onde se concentrou o maior número de mortes neste ano, com seis vítimas.

A campanha segue até a próxima quarta-feira. Hoje, a blitz estará na via LJ2, das 15h às 17h. Amanhã, será a vez da N1, em Ceilândia, quando também haverá missa em homenagem às vítimas da violência no asfalto, na Catedral Rainha da Paz, no Eixo Monumental, marcada para as 19h. O alerta do Detran foi lançado um dia após o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) há seis anos.

Intitulada Chega de Acidentes, a ação faz parte de um movimento nacional criado em 2009, que tem como parceiros vários órgãos de trânsito, como a Associação Nacional dos Departamentos de Trânsito (AND) e a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Na página eletrônica da campanha (), um painel mantém o internauta atualizado quanto ao número de mortes e de pessoas hospitalizadas em decorrência da imprudência ao volante em todo o país.

De acordo com a assistente de trânsito do Detran Magda de Melo Brandão, o departamento realizou um estudo que mostrou a Ponte JK e as vias N1 e LJ2 como os locais com os maiores índices de acidentes com mortes nas pistas de jurisprudência do órgão. ;Foi em cima dessas informações que traçamos os locais das blitzes;, apontou Magda. Dados levantados entre janeiro e outubro de 2011 apontam que a média mensal de pessoas que perdem a vida nas pistas que cortam o DF é de 39,7, número que perde apenas para o registrado em 2003, quando chegou a 42,7. Segundo a servidora, a maioria das mortes foi ocasionada por imprudências como alta velocidade e embriaguez ao volante.

Ontem, pelo menos 300 motoristas foram parados pelos 12 servidores que participaram da blitz na Ponte JK. Nem mesmo a presença do Detran impediu que motoristas desrespeitassem os limites de velocidade da pista. ;Tivemos que parar um condutor que estava em um carro potente e dirigia rapidamente;, contou Magda. Outros, como o técnico em informática Elias Borges, 38 anos, foram exemplos de que a sinalização ainda é levada em conta por parte da população. ;Acho que essas campanhas valem à pena. Quanto mais informação para os motoristas e pedestres, melhor;, acredita o morador do Paranoá. ;Por que as pessoas respeitam placas como ;Cuidado, cão feroz; e não respeitam um ;Pare; no trânsito?;, indagou a assistente de trânsito do Detran.

Dor
Para familiares de pessoas que foram vítimas da imprudência de motoristas, o 20 de novembro é lembrado diariamente. Cleusa Maria Gonçalves Martins, 53 anos, guarda o 23 de maio de 2009 como o momento mais triste da vida dela. A data foi marcada pela morte da neta de 5 anos. O homem acusado de ter atropelado Yasmin Alice Martins em frente à casa onde a garotinha morava com a família, em Taguatinga Norte, ainda continua impune.

Ítalo Pinheiro de Almeida, 26 anos, fugiu sem prestar socorro. Dois dias depois, ele se apresentou à polícia e admitiu ter ingerido meia garrafa de cerveja long neck, por volta das 11h, instantes antes dos fatos. Prestou depoimento e foi liberado. Denunciado por homicídio doloso pela polícia e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o motorista aguarda julgamento. O processo tramita na Segunda Vara Criminal de Taguatinga.

No último domingo, Cleusa tentou esquecer por um momento a cena que viu no dia do acidente. ;Saí de Taguatinga e me escondi na roça. Mas foi pior. Me deu vontade de gritar para todo mundo que deve haver um basta à violência no trânsito e só me veio à cabeça o rostinho da minha neta. Ela com os olhos fechados, caída no chão após o atropelamento. Parecia um anjinho;, desabafou. Para ela, campanhas como esta são válidas, porém, as ações devem ser contínuas. ;Vejo que falta incentivo do governo e da própria população;, criticou Cleusa.