A missa de sétimo dia de morte das vítimas do acidente com os romeiros de Santo Antônio do Descoberto (GO) será celebrada hoje no Templo de Santo Antônio, na cidade do Entorno, por dois sacerdotes do Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, do município de Aparecida (SP). Os padres Carlos Artur Anunciação e Humberto Mokarzel chegam hoje à tarde em Brasília e seguem para o município goiano. Além do conforto às famílias dos mortos e aos sobreviventes, os sacerdotes trazem a imagem peregrina de Nossa Senhora, santa de devoção dos religiosos que voltavam da cidade paulista quando sofreram o acidente.
O prefeito de igreja do Santuário, irmão João Batista de Viveiros, informou que as famílias dos 10 mortos no acidente receberão de presente uma réplica da imagem de Nossa Senhora, em tamanho um pouco menor que a original, coberta pelo manto e com a coroa. ;Nós ficamos solidários à romaria e aos familiares das vítimas. Vamos doar as 10 imagens para essas famílias que perderam seus entes queridos;, informou o irmão Viveiros. Os sacerdotes de Aparecida serão recebidos pelo padre Marcelo José Vieira, pároco de Santo Antônio do Descoberto.
O acidente ocorreu na última terça-feira, quando um grupo de 48 fiéis retornava de Aparecida para Santo Antônio do Descoberto. O ônibus dos religiosos perdeu o controle e capotou na Rodovia Floriano Peixoto, na Serra da Mantiqueira, por volta de 15h. Chovia no momento do acidente. O motorista do veículo, Isaque Correia de Almeida, relatou que optou por capotar para impedir que caíssem em uma ribanceira. Dez pessoas morreram e 12 ficaram feridas. Dos sobreviventes, três ainda estão internados em municípios paulistas próximos ao local do acidente.
Compaixão
As vítimas e os parentes de mortos no acidente viram a vinda dos sacerdotes de Aparecida e as imagens de Nossa Senhora do templo da cidade paulista como um grande ato de solidariedade. A professora Jucileide da Silva do Nascimento Rabelo, 44 anos, perdeu na tragédia o marido, o motorista da prefeitura de Santo Antônio e guia da viagem, Delcílio Alves Rabelo, 59 anos. Jucileide contou que ficou emocionada ao receber a notícia da vinda dos sacerdotes e da imagem. ;Eu vejo uma grande solidariedade. Eles compartilham nossa dor. Nossa dor é a dor deles. É um colhimento da mãe da própria Nossa Senhora Aparecida.;
Segundo Jucileide, após a morte do marido ela sentiu a fé ficar mais forte em contraste com a dor da perda. Para lidar com isso, a professora escolheu ficar ainda mais próxima da igreja e se concentrar nas boas lembranças do marido. Admite que ninguém está preparado para a morte, mas acredita que Delcílio, devoto da santa, foi ;requisitado por ela;. ;Ele viveu a vida intensamente. Era um homem feliz, amigo de todos e pai exemplar. Seu caráter e sua generosidade foram suas maiores heranças;, disse a mulher.
O motorista Kléber Pereira, 25 anos, filho da merendeira Sônia Pereira, 53 anos, que também morreu no acidente, se disse surpreso tanto com a presença dos sacerdotes e da imagem de Nossa Senhora do templo paulista, quanto com o presente. Ele descreveu o gesto como ;sensível e amoroso;. ;Eu sabia que os padres vinham, mas só depois fiquei sabendo da imagem. Vejo isso como um ato de amor, de compaixão com as vítimas, com os familiares e com toda a cidade. É uma forma de trazer conforto para as famílias;, afirmou.
Para o contador Edinei Silva de Oliveira, filho da servidora pública Neusa Silva de Oliveira, 52 anos, que também morreu na tragédia, a vinda dos sacerdotes representa uma demonstração de carinho e agradecimento, já que, há pouco mais de uma semana a mãe é que estava em Aparecida em romaria. ;Eles virem para cá para fazer essa celebração é um sinal de consideração às vítimas. Isso não é comum. Não só minha mãe, mas todas as pessoas que morreram nesse acidente ficarão felizes com o gesto, estejam onde estiverem. Além disso, para nós, que somos católicos, é muito importante, é muito consolador. Nada vai trazer nossa mãe de volta, mas essas atitudes nos dão força para enfrentar a vida daqui pra frente;, refletiu.