O clima de férias e festas de fim de ano é o bastante para convencer famílias inteiras a abrir a mão durante as viagens. Seja qual for o destino, os gastos nesse período acabam superiores ao de um mês convencional em Brasília, seja pelo desejo de ir a restaurantes mais caros, fazer passeios elaborados ou simplesmente pela necessidade de pagar pela hospedagem ou pelo aluguel de um carro.
O educador financeiro Reinaldo Domingos aponta que é comum as pessoas se guiarem pela emoção e deixarem para trás as contas de quanto se pode ou se pretende gastar nas cidades visitadas. ;É saudável viajar, mas quem decide partir para um lugar desconhecido precisa saber que, além dos custos do pacote e das passagens, por exemplo, é preciso deixar uma margem para os imprevistos: são eles que encarecem a viagem;, afirma. Para custear os extras, que fogem do plano inicial, recomenda-se calcular 30% sobre o quanto se pretende gastar e deixar reservado, apenas por segurança.
Além disso, é importante dialogar. Especialistas aconselham, por exemplo, que a família se reúna para conversar sobre o que pretendem fazer enquanto estiver fora e o que precisará pagar assim que voltar, como material escolar, matrículas, os gastos feitos com presentes, a ceia e os tributos, como os impostos sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Predial e Territorial Urbano (IPTU). ;Tudo tem um custo e esses valores precisam estar no papel. Nesse tipo de planejamento, é necessário, inclusive, envolver as crianças. A ausência da educação financeira é que compromete a saúde econômica;, resume.
Outro cuidado é com o número de parcelas. ;As pessoas costumam achar que dividindo é possível encaixar o roteiro no orçamento, mas também é preciso fazer algumas escolhas para não extrapolar, porque alguns compromissos não podem ser evitados ou adiados;, completa o especialista.
Escapadinha
Por isso, o cartão de crédito vira uma alternativa perigosa, ainda que o aumento nos gastos seja em uma viagem curta, como uma escapadinha de fim de semana. Os namorados Guilherme de Almeida, 29 anos, e Juliene Roveratti, 30, contam que até tentam se conter, mas sempre gastam mais do que deveriam quando estão fora da cidade. Eles tinham um casamento em Belo Horizonte neste fim de semana. Embarcaram dois dias antes, sem fazer qualquer tipo de planejamento. O objetivo do casal era apenas se divertir. ;A gente trabalha tanto que, quando consegue um descanso, não dá para segurar a mão;, diz Almeida, técnico em informática.
Somente com as passagens aéreas de ida e volta e três noites no hotel, os namorados investiriam quase R$ 1 mil. Ainda entrariam na conta final os custos com a alimentação, o táxi e as baladas. Um fim de semana considerado caro pelos dois. ;Mas vale a pena. Em viagem, é assim mesmo: a gente não sabe quando vai voltar, então tem curtir bem o momento;, comenta a professora Juliene. ;Enquanto os cartões forem aceitos, a gente vai passando;, emenda o namorado, em tom de brincadeira séria.
Papel e caneta
Para o educador financeiro Álvaro Modernell, algum cuidado pode evitar que a conta do cartão venha alta demais. ;Não custa levar uma cadernetinha para tomar notas e um envelope para guardar os comprovantes. Abasteceu, foi ao restaurante, guarde a nota. Assim, a surpresa pode não ser grande. Escolha se vai somar de dois em dois dias ou apenas no fim de semana e veja quanto já foi usado daquela ideia inicial;, explica. Dessa forma, é possível saber se a situação está sob controle ou se será preciso apertar o cinto.
Usar o cartão de débito também é uma solução segura, evita caminhar com grandes quantias em espécie e mantém a vida financeira organizada no futuro. ;Acabou a viagem, acabaram as contas. Sem parcelamentos, sem apertos;, conclui Álvaro.
Antes e durante
Veja como organizar
os gastos nas viagens:
; Faça um planejamento de quanto
se pretende gastar e deixe uma margem média de 30% a mais
para imprevistos.
; De acordo com o número de pessoas incluídas no roteiro e pelo tempo que se pretende ficar fora, pode ser mais vantajoso contratar um pacote a organizar todos os detalhes individualmente. Para ter certeza da opção, vale a pena gastar algumas horas fazendo pesquisa na internet e consultar conhecidos que já fizeram uma viagem parecida.
; Faça uma pequena reunião familiar para traçar quais são os objetivos de cada um. Com essas ideias em mente, é possível saber o que será necessário e o que pode ser dispensado no roteiro, caso os gastos se tornem muito altos.
; Durante o passeio, evite parcelar para não comprometer a saúde financeira da família. Se o débito não for a melhor opção, use o cartão de crédito com responsabilidade. Para fazer isso, basta guardar os comprovantes
das transações e reservar um momento para somá-los.
; Um bloquinho e uma
caneta podem ajudar a
manter a situação sob controle.
; Procure fazer as reservas com antecedência. Caso o destino seja muito procurado e as opções disponíveis já custem acima da meta, busque alternativas. Vale gastar um pouco mais de tempo
na internet e nos balcões das agências de viagens.
; Se for usar o 13;, lembre-se de reservar uma parte para pagar as contas acumuladas após as festas de fim de ano e com os gastos de educação e impostos, que tendem a pesar mais no início do ano. Pense também na poupança e na aposentadoria. Com a terceira parte, invista em lazer e diversão. O percentual ideal para cada fatia deve ser calculado de acordo com as necessidades e possibilidades
de cada família.
Dinheiro guardado
Há algumas maneiras de aproveitar as férias em grande estilo e sem gastar muito, mas, para isso, é preciso antecedência. Quem fez uma reserva de recursos durante o ano para gastar nesse período já está em vantagem. Mas consegue as melhores condições quem se antecipa e compra cedo, antes dos reajustes das passagens e da lotação dos hotéis mais populares, por exemplo. Mesmo assim, quem só conseguiu uma brecha de última hora, ainda pode ter esperanças de manter o orçamento dentro do padrão ideal.
Para essas pessoas, resta a pesquisa. ;Invista tempo e paciência para buscar as melhores soluções. Se só serve praia, veja quais são as mais baratas neste momento e não trave apenas um foco específico. É preciso se contentar com o que está disponível e também abrir o leque para roteiros alternativos, mais próximos da cidade de partida;, aconselha o educador financeiro Álvaro Modernell.
Além disso, é possível contar com uma verba extra que não será empregada na manutenção da casa. Contas de luz, água, combustível e supermercado são algumas que praticamente desaparecem. Contando com esse tipo de economia, é possível prever mais alguma folga para os investimentos em turismo.
Sobre o uso do 13; salário a fim de quitar as extravagâncias durante a viagem, também é um bom plano, contanto que haja disciplina para dar prioridade ao que é mais urgente. ;Divida em três partes. Não precisam ser iguais, mas lembre-se de pagar os gastos do Natal, como festas e presentes, material escolar e outras contas que chegam no início do ano. Depois, pense em reforçar a poupança e a previdência. A terceira parte é para se divertir, gastar com o que quiser;, acrescenta Modernell.
Hospedagem
Um bom exemplo de preparo está na família das gêmeas Ana Júlia e Rafaela, 3 anos. Elas vão conhecer a praia nestas férias. Os 12 dias no litoral do Espírito Santo foram bem programados pelos pais, o policial militar Rafael Santos, 28, e a mulher, Ana Lúcia Fernandes, 28. A família, que mora em Ceilândia, economizou durante o ano e se preparou para gastar, ao todo, cerca de R$ 4 mil com o passeio de fim de ano. ;Não sei se a gente vai conseguir cumprir a meta, mas planejamos minimamente;, ponderou Ana Lúcia.
Na planilha da viagem da família não consta um item que costuma pesar muito: a hospedagem. Ana, Rafaela e os pais ficarão na casa de parentes, uma economia de, por baixo, R$ 800 com diárias. Rafael sabe que com as crianças ; e na praia ; vai ser difícil se livrar de despesas extras. Mas prometeu ficar vigilante ao que fora programado. ;Não tem jeito: o clima de viagem leva a gente a gastar. É uma empolgação diferente daquela de quando você está na sua cidade;, observou.