Para vencer a distância e a falta de informação, parentes e amigos das vítimas do acidente com o ônibus que transportava 48 romeiros e capotou na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, usaram como estratégia principal a solidariedade. O grupo voltava para Santo Antônio do Descoberto (GO) quando, após uma falha, o veículo perdeu o controle, bateu em uma mureta de proteção e capotou. Dez pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas. Sem saber onde estavam os entes queridos, a comunidade se uniu ao padre Marcelo José Vieira, e os voluntários montaram um comitê na Paróquia Santo Antônio e passaram os últimos quatro dias longe do trabalho e, em alguns casos, até da família, com a missão de aproximar a cidade do Entorno e o estado de São Paulo.
Além da dificuldade em saber quantos tinham viajado, já que a empresa proprietária do ônibus, El Shadai, não tinha uma lista de passageiros disponível, o grande número de feridos divididos entre hospitais dificultou o serviço. Socorristas levaram os sobreviventes para unidades de saúde das cidades paulistas de Tremembé, Taubaté, Campos do Jordão e Pindamonhangaba. Com isso, irmãos e casais e, em alguns casos, pais e filhos, acabaram em localidades diferentes. A separação causou desencontro de informação até mesmo entre parentes e sobreviventes que não se feriram, mas permaneceram em São Paulo para acompanhar os enfermos.
Embora a romaria a Aparecida do Norte não tivesse vínculo com a paróquia, o padre Marcelo tomou a iniciativa de reunir os voluntários e compor o comitê, pois quase toda a caravana era composta de fiéis que faziam parte do corpo religioso que frequenta a igreja. O sacerdote reuniu, dentre os voluntários, o policial militar do Distrito Federal Adão Alessi, que ficou com a função de telefonar para hospitais e delegacias das cidades para conseguir nomes e gravidade de feridos e mortos na tragédia. ;Eu fiquei sabendo da peregrinação por conta do acidente. A primeira coisa que sentimos falta foi de um ponto de apoio e informação para os parentes, então dispus a estrutura da paróquia para amparar a comunidade;, explicou o sacerdote.
Adão Alessi trabalhou com outros voluntários mais de 10 horas por dia, desde terça-feira à tarde, em busca de informação e ajudando a organizar a ida de parentes e o retorno de feridos de hospitais das cidades paulistas. Na quarta-feira, a rotina do policial começou às 5h. Ele contou que conhecia cada um dos romeiros que se feriu no acidente e esse foi o principal motivo do seu envolvimento com o comitê de voluntários da paróquia. ;São amigos que tenho há mais de 20 anos. Montamos uma lista de mortos e feridos nós mesmos, para diminuir a angústia de quem precisava de notícias. Foi uma tragédia de grande porte. A cidade inteira está comovida;, disse o policial.
Mas os trabalhos da igreja com os familiares e sobreviventes do acidente ainda não terminaram. De acordo com o padre Marcelo Vieira, grupos de oração visitarão as famílias para dar conforto. Ele também pretende orientar a comunidade para tomar determinados cuidados ao comprarem passagens para todo tipo de excursões, para evitar tragédias como esta. ;Esse é um assunto que trataremos posteriormente. O principal agora é cuidar do trabalho humano. Esse povo é nossa família e ainda precisa de conforto;, afirmou. Adão ainda continua articulando o retorno de parentes e sobreviventes que estão em São Paulo.
Recuperação
Ontem, a lista de internados em São Paulo caiu de quatro para três. Lucimar Nobre Sá recebeu alta, e a expectativa é de que chegue a Santo Antônio do Descoberto hoje. As demais vítimas, Bras Borges Brito, Cristina Maria Campos e Gisa Resende, estão fora de perigo, mas ainda não podem ser transportadas. Lucimar é mãe da professora Lucélia Nobre Sá Oliveira, 24 anos, que veio de São Paulo mesmo sem autorização médica, para acompanhar o velório da filha, Lara Gabriely, de 3 anos, que morreu no acidente. Lucimar quebrou a perna direita em dois pontos diferentes e já está com a documentação pronta para dar entrada no Hospital de Base do DF amanhã.