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Equipamento revela primeiros focos de atenção diante da foto de uma modelo

Ao ver a foto de uma modelo por 20 segundos, onde você fixaria seu olhar? Depende. Primeiro, todos olham para o rosto. A partir daí, o comportamento de homens e mulheres se diferencia. É o que mostra uma pesquisa realizada em sete cidades do mundo, entre elas Brasília. Os homens olham para os seios da mulher exposta na foto. Já elas miram os dedos para saber se a modelo usa ou não aliança.

A conclusão surgiu de um estudo em que voluntários foram convidados a olhar a fotografia de uma modelo. Por meio de raios infravermelhos, um equipamento conhecido como eye tracking, acoplado ao computador, monitora as reações da pessoa. A nova metodologia permite ao pesquisador acompanhar o caminho feito pelo olhar do entrevistado. Com ela, é possível perceber a movimentação e fixação ocular de qualquer pessoa em filmes, comerciais de televisão, peças gráficas, revistas e jornais. Basta olhar para uma tela ligada ao equipamento, que emite uma luz infravermelha.

O movimento dos olhos é medido e monitorado 60 vezes por segundo. ;Essa é mais uma ferramenta para a realização de pesquisas. Hoje em dia, as pessoas não querem mais responder àqueles questionários, sem contar que o eye tracking é lúdico, interessante e dá um resultado mais preciso;, explicou Rosangela Checchia, sócia da empresa Checon Pesquisa, responsável pelo estudo no Brasil. A metodologia surgiu para que pessoas com deficiências físicas conseguissem se comunicar com os olhos. Atualmente, vem sendo empregada em outras áreas, como na pesquisa de mercado.

Brasilienses
Na capital federal, o estudo foi realizado em 3 e 4 de agosto deste ano pela Checon Pesquisa, única na cidade que tem o equipamento de eye tracking. A empresa faz parte da International Usability Testing Partnership (IUTP), rede mundial especializada em testes de usabilidade e pesquisa com consumidores. Trinta voluntários, 15 homens e 15 mulheres, com idade entre 20 e 50 anos, participaram do trabalho. Eles foram escolhidos aleatoriamente na rua ou por meio de um cadastro da Checon. Cada voluntário recebeu apenas uma orientação: olhar
a foto de uma modelo por 20 segundos.

Em seguida, eles responderam a um questionário sobre a figura. Os homens brasilienses disseram ter prestado mais atenção no rosto e no anel da mulher, mas os resultados do equipamento indicaram que os seios aparecem como a segunda parte do corpo mais visada. Os voluntários gastaram pouco mais de 8 segundos para observar a face e 2 segundos e 27 milésimos, os seios. Enquanto isso, as participantes brasilienses não seguiram a avaliação mundial. Elas dispensaram apenas 63 milésimos de segundo para o anel. O rosto, os seios e a pélvis chamaram mais atenção das moradoras da capital federal. Todos os voluntários olharam durante mais tempo para o rosto da modelo. Os homens se fixaram nos lábios da jovem, enquanto as mulheres observaram mais os olhos.

A pesquisa também foi realizada com voluntários da Dinamarca, da Espanha, dos Estados Unidos, da França, da Holanda e da Inglaterra. Dinamarqueses e franceses foram os participantes que olharam por mais tempo para os seios da modelo. Em relação às mulheres, dinamarquesas, inglesas e espanholas gastaram mais tempo para analisar o anel. Já as brasileiras quase não dispensaram atenção para o objeto. Ao responder ao questionário, os homens informaram ter achado a jovem sexy, enquanto as mulheres a consideraram vulgar.

Voluntário
O técnico em informática Walter Pereira de Castro, 30 anos, morador de Sobradinho, presta serviços à empresa de Rosangela e foi convidado para participar da pesquisa. ;Fui consertar um computador e me chamaram para fazer o teste. Topei na hora, mas não sabia do que se tratava;, contou. Quando viu a fotografia, pensou que fosse uma propaganda. ;A primeira parte que a gente olha é o decote. Não tem jeito, porque a foto é bastante provocativa. E concordei com o resultado: as mulheres são mais detalhistas, enquanto nós olhamos o óbvio, o que interessa num primeiro momento.;

Com o estudo, foi possível perceber que os voluntários não responderam ao questionário de acordo com o que observaram na figura. ;Isso nos mostra que o nosso próprio relato do comportamento não corresponde à realidade, mas não significa dizer que é por má-fé. Essa situação ocorre porque alguns fatores podem influenciar a resposta, como querer falar o que o pesquisador quer ouvir, ou ela não tem noção do comportamento;, analisou a professora de psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Marina Kohlsdorf. Segundo ela, essa ferramenta já vem sendo usada em pesquisas de percepção e aprendizagem na área de psicologia.

O que eles e elas olham primeiro
Homens
Rosto - 8 segundos e 39 milésimos
Seios - 2 segundos e 27 milésimos
Cabelo - 2 segundos e 5 milésimos
Pélvis - 99 milésimos de segundo
Anel - 81 milésimos de segundo
Mão direita - 70 milésimos de segundo

Mulheres
Rosto - 5 segundos e 39 milésimos
Seios - 2 segundos
Pélvis - 1 segundo e 74 milésimos
Anel - 63 milésimos de segundo
Cabelo - 63 milésimos de segundo
Mão direita - 50 milésimos de segundo