O clima esquentou entre os defensores dos acusados no crime da 113 Sul e os representantes do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Na quarta audiência de instrução realizada no Tribunal do Júri de Brasília, cinco testemunhas de defesa prestaram depoimento sobre o triplo homicídio. A oitiva mais controversa foi dada pelo advogado Fabrício Falcão Ornelas. Ele representava o réu Paulo Santana em Montalvânia (MG) e acusou a delegada Mabel Alves de Farias, chefe do inquérito na Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), de pedir para ele tentar convencer o cliente a confessar um crime com mandante. ;Ela mostrou as vantagens da lei para ele admitir isso;, afirmou.
Os investigadores do caso acusam Adriana Villela de encomendar o assassinato dos pais, o ex-ministro José Guilherme Villela e Maria Carvalho Mendes Villela. Ao lado da empregada Francisca Nascimento da Silva, o casal morreu com 73 facadas em 28 de agosto de 2009 (leia Entenda o caso). Os corpos foram encontrados três dias após o crime, em 31 de agosto. Os advogados de Adriana sugeriram que o MPDFT abrisse um processo para apurar a suposta irregularidade cometida pela delegada Mabel. O Correio não conseguiu localizá-la ontem.
O promotor do Tribunal do Júri de Brasília, Maurício Miranda, argumentou que não há problema de a investigadora explicar os benefícios proporcionados pela lei para quem confessa um crime. A menos que ela tenha pedido para alguém mentir, o que não teria ocorrido. Miranda também questionou a idoneidade de Fabrício Ornelas. Ele é filho de ex-prefeito de Montalvânia (MG) e acabou condenado por improbidade administrativa ao falsificar um documento. Ele ainda responde a um processo por lesão corporal ao agredir um vereador da cidade.
Os embates entre defesa e promotoria continuaram após a audiência de instrução, finalizada às 18h. Para os defensores de Adriana, o processo ao qual Fabrício responde não o invalida como testemunha. A quinta oitiva do caso Villela continua hoje, com início previsto para as 9h. Ainda faltam ser ouvidas pelo menos oito testemunhas de defesa.
Amizade
O advogado Pedro Gordilho foi o primeiro a ser ouvido ontem. Ele era amigo do casal assassinado há mais de 50 anos e disse nunca ter ouvido Maria Villela fazer algum tipo de reclamação da filha. Segundo ele, a família era muito discreta. Gordilho foi questionado sobre o depoimento de um pintor, que revelou brigas frequentes entre mãe e filha por dinheiro. A defesa de Adriana perguntou se ele acreditava que Maria poderia ter confidenciado problemas da relação com o funcionário. ;Acho irresponsável a declaração desse funcionário e inadmissível que ela tenha confidenciado alguma coisa a um pintor de paredes;, respondeu.
Gordilho retrucou também as informações prestadas pela delegada Mabel de que Adriana era inimiga dos pais. Ele garantiu que o casal acompanhava e valorizava cada conquista da filha. ;Tenho absoluta certeza de que Adriana é 100% do bem. Esse tipo de pessoa não pratica crime, muito menos contra os próprios pais;, defendeu.
Outro amigo de Adriana, Francisco das Chagas Leitão, também prestou esclarecimentos. Ele disse que, no dia do crime, a acusada marcou presença em um seminário ; ele participou do encontro e saiu por volta das 18h20. Segundo Francisco, nesse horário, a amiga continuava no local. A declaração contrapõe a informação de que a filha dos Villelas estaria na cena do crime na data do triplo homicídio.
Em seguida, Regina Batista Lopes contou que sofreu constrangimento com o mandado de apreensão cumprido na casa dela. Segundo a testemunha, os policiais da Corvida a coagiram, colheram digitais e a colocaram em uma sala para reconhecimento. Em nenhum momento, segundo ela, explicaram sobre o que se tratava. Regina chegou a ser indiciada pela polícia e teve um mandado de prisão solicitado, mas o pedido acabou negado pela Justiça por falta de provas.
O delegado da 8; Delegacia de Polícia (Setor de Indústria e Abastecimento) José Roberto Soares Batista prestou o último depoimento do dia. Foi ele o responsável pela tomada do primeiro esclarecimento dado por Leonardo Campos Alves e Paulo Santana, dois dos três acusados de executarem o crime. Revelou apenas que Leonardo não apontou mandantes para o triplo homicídio.
Censura
O advogado de defesa de Leonardo Alves informou durante a audiência que vai pedir segredo de Justiça para o caso. Frederico Donati questionou a cobertura da imprensa. ;Está sendo extremamente parcial e eventuais jurados estão vendo as notícias e visualizando um posicionamento unilateral. Se continuar assim, ao meu ver, a melhor defensiva, e eu não vejo outra alternativa, é calar a imprensa;, argumentou. A defesa de Adriana Villela foi contra o cerceamento.