Até ontem à noite, três dias depois de terem sido baleadas após testemunharem contra o autor de um homicídio, duas adolescentes de 15 anos do Novo Gama (GO), no Entorno, permaneciam internadas em um hospital de Brasília sem qualquer tipo de proteção especial. A família das jovens teme pela segurança delas, já que os autores da tentativa de homicídio provavelmente são ligados ao denunciado. O pedido formal de proteção só deve ser feito hoje à Justiça pela Polícia Civil do Novo Gama.
A própria Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República informou que tem conhecimento do caso e que o está acompanhando, mas de longe. Afinal, o órgão depende de um pedido formal para que os programas de proteção sob sua responsabilidade possam ser executados. Os responsáveis por tal pedido seriam Polícia Civil, Conselho Tutelar ou Ministério Público.
O delegado que investiga o caso, André Veloso, titular do Novo Gama, salientou que deve pedir proteção especial para as adolescentes. ;Acreditamos que seja preciso;, argumentou, sem dar motivos claros para ainda não tê-lo feito. No domingo, quando as meninas foram atingidas por mais de 10 tiros, elas haviam acabado de deixar uma unidade da Polícia Civil, onde tinham testemunhado contra um adolescente autor de um homicídio. Mesmo sob risco, elas não foram protegidas. Os agentes e escrivães de Goiás estão em greve há quase um mês.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados disse ontem que vai pedir proteção para as jovens. A deputada Erika Kokay (PT-DF), titular da comissão, explicou que entraria em contato com as secretarias de Segurança Pública de Goiás e do Distrito Federal para pedir proteção imediata. ;O Estado está sendo omisso ao não protegê-las;, afirma a deputada. Procurado pela reportagem do Correio ontem à noite, o titular da SSP do DF, Sandro Avelar, disse que ainda não havia sido procurado, mas que poderia contribuir. ;O crime foi em Goiás, mas, excepcionalmente, poderemos dar proteção a essas duas jovens para preservar suas vidas. Estamos à disposição;, argumentou.
Outro que recebeu a informação sobre a tentativa de homicídio contra as duas adolescentes como novidade foi o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás, Mauro Rubem (PT). Ele reconheceu um ;branco; na atuação das entidades e explicou que a rede de proteção a testemunhas deveria ter sido acionada imediatamente após o caso. ;Existem mecanismos para isso. Vamos buscar informações para ver o que pode ser feito. A questão imediata é proteger as meninas;, sinalizou. A entrada em um serviço de proteção a testemunha depende da aprovação da família das jovens, já que indica uma mudança radical de vida.
As adolescentes continuam
internadas em um hospital de Brasília. Não correm risco de morte, mas seguem sem previsão de alta médica. A mãe de uma das garotas teme pela vida das duas. ;Ninguém nos procurou para nada. Estamos largadas aqui. É claro que tenho medo;, disse. A Polícia Civil do Novo Gama deve ouvir ainda hoje as meninas, no hospital. Os suspeitos são dois maiores de idade e um adolescente ligados ao rapaz apreendido denunciado pelas garotas.
Ações conjuntas
Uma reunião para tratar a crise da segurança pública no Entorno está marcada para o dia 22, em Luziânia, e vai reunir os governos Federal, do Distrito Federal e de Goiás. Para o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, o caso das adolescentes é emblemático sobre o trabalho articulado que precisa ser feito na região. ;Elas foram baleadas em Goiás e estão internadas aqui;, explicou, lembrando que as fronteiras não são físicas. Um dos assuntos que deve ser debatido na audiência pública é um possível reforço da presença na região da Força Nacional de Segurança, com delegados, agentes e escrivães reforçando o trabalho já feito pelos militares.