Taubaté ; Apesar de legista experiente, o médico Marcos Pires, do Instituto Médico Legal (IML) de Taubaté, ficou chocado com o estado dos corpos das vítimas do acidente com o ônibus que tombou na Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, em São Paulo, na terça-feira. Das 10 vítimas, 7 são mulheres, sendo duas crianças, e três homens. Segundo Pires, todos morreram por esmagamento. ;Tudo leva a crer que as vítimas foram arremessadas para fora e esmagadas pelo veículo no momento em que o ônibus tombou.; No fim do dia, a funerária responsável pelo traslado dos corpos informou que as despesas serão pagas pelos organizadores da excursão. A previsão é de que os corpos sigam hoje, de avião, para Brasília.
Quem morreu viajava no andar superior do ônibus e apresentou politraumatismo. O estado das vítimas, com lesões por todos os membros, indicam que elas foram jogadas quando os janelões de vidro acabaram quebrados. ;Eu vi passageiro caindo do alto antes mesmo de o ônibus tombar, pois as janelas foram partindo quando o veículo se arrastava na mureta de concreto;, descreveu Carlos Mendes Santos, um dos sobreviventes da tragédia. O policial rodoviário Milton Michelangelo reiterou a tese. ;Alguns passageiros dormem com o corpo encostado nessas janelas grandes;, explicou.
Ontem, os sobreviventes se voltaram à fé para tentar entender a tragédia e para rezar aos que enfrentam cirurgias. Devoto de Nossa Senhora de Aparecida, o auxiliar de lotação Fabrício de Santana Rodrigues, 27 anos, passou o dia focado na mulher dele, a professora Lucélia Nobre de Oliveira, 22. Ela está internada no pronto-socorro do Hospital Regional de Taubaté, a 140km de São Paulo, e precisava recolocar no lugar duas costelas e três órgãos deslocados no acidente.
Fabrício viajou de Brasília ao interior paulista assim que soube da tragédia, na qual morreu a filha, Lara Gabriely, de 3 anos. ;Não acreditei que perdi a minha menina. A minha esposa já perguntou duas vezes por ela e tive de mentir. Disse que estão fazendo uma busca por todos os hospitais da região para encontrá-la. Na verdade, ela está no IML (Instituto Médico Legal);, conta.
Ademar Pereira, 55 anos, perdeu cinco familiares, inclusive a mulher e duas cunhadas. Na hora do acidente, ele segurava no colo a neta, Emanuelle, 5 anos. Ademar acordou com um barulho. ;Do lado de dentro, tivemos a impressão de que o ônibus bateu numa muralha. Do segundo andar, pudemos ver que o veículo deslizava pela mureta de proteção e logo adiante estava um desfiladeiro. O motorista tentava impedir que o ônibus despencasse. Isso só não ocorreu porque tombou para o lado;, relata.
Milagre
Por milagre de Nossa Senhora de Aparecida, segundo Ademar, a neta sobreviveu. Mas a mulher dele, Sônia Maria da Silva, 55, morreu esmagada pelas ferragens. O passageiro sofreu ferimentos nas costas. ;Eu queria muito que a minha esposa estivesse aqui, viva, mas Deus não quis. Eu sou devoto de Aparecida e acredito no destino traçado por Deus. Pelo menos a minha netinha foi poupada sem nenhum arranhão;, relata.
Apesar de estar com a habilitação vencida, o motorista do veículo, Isaac de Almeira, não foi condenado pelos passageiros. Um grupo de familiares de sobreviventes e de vítimas prestaram solidariedade a ele na 1; Delegacia de Pindamonhangaba (SP), onde ficou detido por 12 horas. ;Todo mundo sabe que ele estava com a carteira vencida, mas quem estava na viagem é testemunha de que ele foi prudente o tempo todo. Ele é um herói, porque era para todos terem morrido;, diz Ademar.