Duas adolescentes de 15 anos foram vítimas de uma emboscada no último domingo, na Vila União, bairro do Novo Gama (GO). O crime, em uma das cidades mais violentas do Entorno, ocorreu após as meninas testemunharem contra um rapaz apreendido. Ele teria baleado o namorado de uma delas durante a madrugada. No início da tarde do mesmo dia, três jovens, também menores de idade, surpreenderam as vítimas a menos de 15 metros da residência de uma delas. O trio abordou as garotas por volta das 12h, cerca de duas horas depois que elas prestaram depoimento no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) do Céu Azul, também no Novo Gama. A Polícia Civil de Goiás chegou a alertá-las do perigo de voltarem para casa, mas não ofereceu segurança. A corporação afirma que os atiradores são comparsas do garoto apreendido.
Os adolescentes dispararam 10 tiros contra as garotas. Carolina* foi atingida pelo menos quatro vezes no abdômen e, até o fechamento desta edição, estava em estado mais grave. Telma* levou um tiro entre a boca e o nariz, outro em um dos braços e pelo menos mais um no abdômen. Socorridas pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), elas foram levadas para o Hospital Regional de Santa Maria. Na manhã de ontem, as vítimas foram transferidas para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). Carol passou por uma cirurgia e, até as 20h, Telma aguardava para ser operada.
Quando a Polícia Militar goiana chegou ao local, as vítimas já haviam sido levadas pelo Samu. Os atiradores fugiram a pé por um beco e, em seguida, por um matagal. O trio seguia foragido até o fechamento desta edição. Soldados da PM chegaram a fazer uma busca pela região, mas não tiveram sucesso. Segundo o comandante de Policiamento Urbano do Novo Gama, Jesoaldo Matos da Silva, a corporação tem a identificação dos atiradores e procura o trio. A suspeita é de que o crime que motivou a emboscada tenha ligação com o tráfico, mas há também a possibilidade de um acerto de contas devido a uma briga por causa de namoradas. Até o fim da tarde de ontem, não havia registro de ocorrência em nenhum dos três Ciops da região (Lunabel, Céu Azul e Jardim Ingá) e a Polícia Civil não tinha iniciado as investigações.
Região perigosa
Um agente da Polícia Civil, que preferiu não se identificar, contou à reportagem do Correio que, quando as adolescentes saíram do Ciops do Céu Azul, foram alertadas por policiais para que não voltassem à casa por uns dias, justamente por conta dos amigos do rapaz apreendido pela tentativa de homicídio. ;Todos são barra pesada, com antecedentes. Falamos para elas darem um tempo. O que eu soube é que elas saíram daqui, foram para casa de uma das duas a fim de tomar um banho e, quando saíram novamente, foram surpreendidas. Uma levou um tiro acima da boca. É a punição deles para quem fala demais;, contou.
A reportagem do Correio foi até a Vila União na tarde de ontem. Os moradores que concordaram em conversar com a equipe não quiseram se identificar e deram informações desencontradas sobre as garotas. A casa indicada como residência de uma das meninas estava fechada. Depois, um vizinho negou que elas morassem ali. Desconfiado, disse que as jovens visitavam a rua diariamente e que não as conhecia. Um rapaz insistiu em afirmar que elas estariam envolvidas com o tráfico, enquanto outro negou e garantiu que as vítimas eram inocentes.
Intimidação
Já na Vila União, mas antes de chegar à rua onde ocorreu o crime, os repórteres do Correio foram hostilizados por alguns moradores. Na cena das tentativas de homicídio, enquanto conversavam com vizinhos, a equipe percebeu movimentação estranha a cerca de 50 metros tanto na parte de cima quanto na parte de baixo da quadra. Após um homem caminhar próximo à equipe simulando estar armado e outro grupo passar lentamente de carro pelo local, a reportagem optou por ir embora. Mais tarde, em conversa com policiais militares do Ciops do Jardim Ingá, que concentra as ocorrências policiais durante o feirado, soube que outra equipe, de uma emissora de TV, também sofreu ameaças na região.
*Nomes fictícios em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente