Quatro testemunhas prestaram depoimento ontem no Tribunal do Júri de Brasília durante a terceira audiência de instrução do caso Villela. O esclarecimento mais esperado foi ouvido por último, dado pelo perito papiloscopista do Instituto de Identificação da Polícia Civil do DF Rodrigo Menezes de Barros. Ele elaborou o laudo que analisa a impressão da palmar de Adriana Villela, encontrada em uma porta de madeira do armário de um dos escritórios do apartamento do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69 ; eles foram mortos com 73 facadas em 28 de agosto de 2009 no Bloco C da 113 Sul, ao lado da empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58.
Barros explicou que o resultado da data de produção da marca foi feito levando em consideração as condições climáticas ; a impressão encontrada chamou a atenção pela nitidez. Segundo o perito, o resultado poderia ser alterado apenas se a digital estivesse em ambiente externo. Ele concluiu que não é possível confirmar a presença de Adriana no dia do crime no imóvel, mas revelou que a avaliação tem mais de 95% de confiabilidade em relação à data da produção, que é de até três a nove dias antes do triplo homicídio. Sendo assim, a impressão não poderia ter sido produzida em 13 de agosto, dia que Adriana disse ter ido visitar os pais pela última vez.
O primeiro a ser ouvido ontem (11/11), no entanto, foi Denir Pedro da Silva, funcionário de confiança do casal de advogados. O homem humilde e de idade avançada informou ter presenciado alguma briga de Adriana e a mãe, sempre pelo mesmo motivo: dinheiro. Ele não soube dar mais detalhes sobre a rotina dos Villela e acabou dispensado após meia hora de depoimento.
Por volta das 10h30, foi a vez de a filha do réu Leonardo Campos Alves, Michelle da Conceição Alves, sentar no banco das testemunhas. Ela disse ter mentido em um depoimento na 8; Delegacia de Polícia (Setor de Indústrias e Abastecimento), em relação a um suposto dinheiro que disse ter visto com o pai, ex-porteiro do Bloco C. A confissão teria sido arrancada após a jovem ser ameaçada e intimidada por alguns agentes da unidade. Michelle chorou bastante no Tribunal do Júri. Segundo ela, os policiais a abordaram com uma arma em punho e disseram que ela nunca mais veria os filhos.
A testemunha afirmou que, logo após a prisão de Leonardo, os agentes mandaram ela entrar em um carro e disseram: ;A casa caiu para você!”. ;Achei que eles fossem me matar ou fazer alguma coisa com a minha família. Fiquei com medo que eles fizessem alguma coisa contra os meus filhos. Eles são a única coisa que eu tenho;, disse Michelle. Ainda durante o esclarecimento, Michelle disse não ter sofrido nenhum tipo de constrangimento ou coação por parte do investigadores da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), responsável pelo inquérito.
O policial federal Eduardo Lacerda, que era namorado da neta do casal assassinado na época do crime, Carolina Villela, também foi ouvido ontem. Em 31 de agosto, ele acompanhou a namorada na porta da casa dos avós dela, quando um chaveiro abriu o imóvel. O depoimento foi rápido e ele relatou como chegou ao apartamento no dia do crime. Questionado se o local do triplo homicídio poderia ter sido limpo, ele disse que havia essa possibilidade em razão das poucas digitais encontradas no local.
O agente federal respondeu a perguntas sobre o relacionamento dos Villela. Ele esclareceu que se mantinha distante das questões familiares, mas tinha conhecimento das discussões de Adriana com os pais. Eduardo contou ainda que
eram comuns jantares em família. Acrescentou que sempre aparentou existir uma boa relação entre a acusada e os pais.
Margem de erro
Para Antônio Carlos de Castro, defensor de Adriana Villela, os depoimentos tomados até agora são favoráveis. ;O perito disse com lealdade que realmente não há precedentes de usar laudos como esse em investigação criminal. Ficou comprovado que não se tem como precisar a época da tomada da impressão da palmar da Adriana. Todas as provas técnicas estão sendo derrubadas;, defendeu.
Segundo o promotor do Tribunal do Júri de Brasília Maurício Miranda, o objetivo do laudo não é falar que Adriana esteve na casa, mas, sim, os dias em que poderia ter estado. ;Não existe um laudo com essa precisão toda. Neste caso, a margem de erro está mais do que respeitada. Podem colocar as condições climáticas, químicas e de luminosidade que quiserem, pois o resultado será sempre o mesmo.;
O juiz Fábio Esteves, do Tribunal do Júri de Brasília, ouviu até agora oito testemunhas de acusação. As próximas oitivas estão marcadas para a próxima quinta e sexta-feira, às 9h, quando serão ouvidas 14 testemunhas de defesa.