Em menos de 30 horas, o site da Secretaria de Cultura do Distrito Federal foi atacado duas vezes por hackers. Após a invasão, a página foi retirada do ar e, ontem, ficou em branco, exibindo apenas a mensagem: ;Em manutenção ; SEC;. Segundo a assessoria da pasta, técnicos em informática vêm trabalhando para restabelecer o sistema, mas ainda não sabem explicar como ocorreu a invasão. O caso está sendo investigado pela própria secretaria.
Os grupos AntiSecBRTeam e iPiratesGroup assumiram os ataques ; o primeiro foi às 19h de sábado e o outro, à 0h de ontem. Eles protestam contra a corrupção e a cobrança de pedágios em rodovias federais. Nas últimas 48 horas, os invasores derrubaram pelo menos 240 sites de órgãos de governos estaduais e empresas de todo o país.
O subsecretário de Tecnologia da Informação e Comunicação do DF, Rodrigo Moreira Freitas, explica que invasões como a do portal da Secretaria de Cultura estão fora do alcance do órgão que ele comanda. ;Temos a gestão de boa parte das páginas do governo local, entre elas as do GDF e da Agência Brasília, mas há algumas secretarias e órgãos vinculados ao governo que terceirizam os seus serviços. Isso dá margem a falhas de gestão na segurança da informação dos dados;, ressalta.
Freitas estima que 10% dos sites do GDF estejam vulneráveis a ataques de hackers, uma vez que os outros 90% são geridos pela subsecretaria. ;Temos a política de eliminar qualquer tipo de risco;, garante. Ainda segundo o subsecretário, a pasta vem investindo na centralização de todas as páginas do governo local. ;Um caso de sucesso é o da Secretaria de Governo, que migrou todo o serviço, antes terceirizado. Isso gerou uma economia de R$ 12 milhões ao ano;, calcula Freitas.
Além do portal da Secretaria de Cultura, o subsecretário cita o do Transporte Urbano do DF (DFTrans) e o da Companhia Energética de Brasília (CEB) como alguns dos administrados por empresas terceirizadas. Segundo Freitas, na gestão passada, quase 100% das páginas do GDF eram administradas por terceiros. Com a centralização de boa parte delas, no entanto, a economia calculada por ele é de R$ 49 milhões por ano.
Alcance
Os ciberpiratas explicaram como ocorreu o segundo ataque à página da Secretaria de Cultura. ;O site foi invadido novamente pelo fato de os técnicos terem corrigido a página inicial, mas se esquecido de identificar as vulnerabilidades que exploramos;, informou, por e-mail, um integrante de um dos grupos. ;A grande maioria dos servidores governamentais tem uma segurança reduzida, mas o motivo (da escolha) da Secretaria de Cultura foi realmente a repercussão. Queremos que as pessoas acordem, leiam, se informem;, arrematou.
Além da página do órgão do DF, os hackers invadiram sites hospedados com o endereço dos governos de São Paulo, do Amapá, do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso, de Goiás, do Paraná, de Santa Catarina, de Minas Gerais, e as páginas de três partidos políticos: PT, PSDB e PCdoB. Durante os ataques, nem mesmo os sites de pequenas e médias empresas (como os de escolas, ONGs e academias) foram poupados. ;Eles não foram escolhidos por um motivo específico, e sim por estarem vulneráveis. Nosso objetivo não foi danificá-los, tanto que alteramos apenas a página inicial, o que não os prejudica;, explicaram os ciberpiratas.
O iPiratesGroup e o AntiSecBRTeam relacionam-se com a rede de ativistas da internet Anonymous, que esteve ligada aos ataques a serviços de cartões de crédito que suspenderam doações ao site WikiLeaks. Na última sexta-feira, o grupo de hackers também tirou do ar a página do Ministério do Esporte, cujo ex-ministro, Orlando Silva, deixou o cargo após denúncias de desvio de recursos públicos. Os hackers admitem que novos ataques estão sendo programados.
Diferença
O termo hacker surgiu na década de 1950 para descrever modificações inteligentes em quaisquer produtos eletrônicos. Com o passar dos anos, ele começou a ser empregado para definir indivíduos que mudam programas. A palavra cracker, por sua vez, surgiu na década de 1980. Ela é usada para descrever aquele que pratica a quebra de um sistema de segurança, de forma ilegal ou sem ética.
O que diz a lei
O Brasil não tem uma legislação específica para crimes cometidos pela internet. Mas na Câmara dos Deputados há muitos projetos que tratam do tema. O de maior destaque é o PL n; 84/99, também conhecido por Lei Azeredo. O texto caracteriza como crime informático ou virtual ;os ataques praticados por hackers e crackers, em especial as alterações de home pages e a utilização indevida de senhas;. E prevê pena de um a três anos de detenção e multa para cibercrimes. Se o ataque é feito contra órgãos governamentais, a punição aumenta para dois a quatro anos, além de multa. O projeto tramita desde 1999 na Câmara e voltou à tona por conta de recentes ataques a sites do governo. No entanto, foi retirado da pauta em 26 de outubro deste ano.
Colaborou Mariana Ceratti