Encontrar uma onça deitada na cadeira do dentista é, no mínimo, uma cena inusitada. Mas, assim como os seres humanos, animais domésticos e exóticos podem precisar de cuidados odontológicos. Em 21 de outubro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis no Distrito Federal (Ibama-DF) apreendeu uma suçuarana macho em Padre Bernardo, no Entorno, a 90km de Brasília. O felino estava dentro de uma casa em construção e assustou o proprietário do imóvel.
Após enjaular o animal, os servidores públicos constataram a necessidade de encaminhá-lo a um tratamento dentário. Na terça-feira anterior, os reparos foram feitos. ;Ela (a onça) tinha dois caninos fraturados. Aparecia a polpa dental. Isso causa muita dor e também pode gerar infecção. Por sentir dor, ela pode ter deixado seu ambiente, pois não conseguia caçar presas grandes. Assim, foi em busca de comida mais fácil;, explicou o analista ambiental do Ibama Felipe Alves Barroso.
Veterinários especializados fizeram uma intervenção semelhante ao tratamento de canal. O Ibama, porém, não oferece esse tipo de atendimento aos animais que apreende. A recuperação foi possível graças a uma parceria entre Ibama-DF, Universidade de Brasília (UnB), Zoológico de Brasília e uma clínica veterinária particular que se dispôs a ajudar, a Odonto Zoo, no Centro Veterinário do Gama. A intervenção ocorreu em consultório privado, com um médico da instituição. A onça recebeu sedativo.
Agora, ela está em recuperação no Zoo. Deve ganhar liberdade assim que conseguir mastigar normalmente. ;Só podemos liberá-la depois disso, para garantir a sobrevivência e a alimentação;, justificou Barroso. É difícil saber de onde veio o animal. No entanto, analistas garantem que é um bicho de vida livre, ou seja, que não pertencia a cativeiro.
Cuidados
O Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (Hvet) oferece tratamento odontológico para animais desde 2006. A especialidade é a prevenção e o tratamento de doenças relacionadas à gengiva e aos ossos. ;Em outros centros de saúde, há também restauração e ortodontia (especialidade ligada aos aparelhos dentários) para animais;, explicou a médica veterinária do Hvet Fernanda Souza Natividade.
Porém, por falta de estrutura física, o Hvet não é capaz de atender bichos de grande porte. A maior parte dos tratamentos dentários é realizada em cachorros e gatos. Em média, são feitas mensalmente 12 cirurgias em animais. Além dos caninos e felinos, coelhos também recebem cuidados com os dentes. ;Já tratamos de hamsters e de porquinhos-da-índia;, lembrou a médica.
Memória - Leão sacrificado
Em maio, um leão chamado Yuri, vindo do Zoológico de Niterói, foi sacrificado em Brasília, após ter tido problemas dentários. Um relatório assinado pela coordenadora da medicina veterinária do Zoológico de Brasília, Luisa Helena Rocha da Silva, afirma que o leão precisou ser morto devido a um câncer na boca, chamado de carcinoma de células escamosas com características invasivas.
Um dentista detectou a doença durante tratamento para retirada de um dente inflamado de Yuri, que se recusava a comer. Depois de uma biópsia, segundo informações do documento, uma junta médica chegou à conclusão de que a eutanásia seria a melhor opção. Segundo informações da direção do Zoo de Brasília, se Yuri ficasse vivo, perderia a função da mandíbula e não conseguiria se alimentar. Os antigos proprietários de Yuri, em Niterói, protestaram e duvidaram das justificativas para a morte do animal.