Jornal Correio Braziliense

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3...2...1... e mais de 40 anos de história viraram pó em 10 segundos

Às 10h18 de ontem, cerca de 400 pessoas acompanharam as implosões do Hotel das Nações e do Alvorada Hotel na área central de Brasília


O menino Mateus da Silva, 9 anos, demorou para acreditar no que estava diante dos olhos. Às 10h18, vibrou com a implosão que levou 10 segundos para colocar abaixo as estruturas do Hotel das Nações e do Alvorada Hotel. O garoto estava acompanhado do pai, o servidor público Marcelo da Silva, 46 anos, no Eixo Monumental e ao lado de mais de 400 pessoas, de acordo com a Polícia Militar. Com direito a contagem regressiva e a aplausos no fim da operação, os explosivos foram acionados no Setor Hoteleiro Sul com quase 20 minutos de atraso. Uma densa nuvem de poeira formou-se na região.

Um forte esquema de segurança montado na área central de Brasília chamou a atenção. Carros do Corpo de Bombeiros, do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Departamento de Armas, Munição e Explosivos da Polícia Militar ocuparam os gramados do Eixo Monumental e da Avenida W3 Sul na manhã de ontem. Muitos pararam para assistir à demolição. ;Essas coisas acontecem raramente e acabam se transformando em um evento para a cidade. O meu filho gostou bastante e me disse que vai trabalhar com engenharia quando crescer;, disse Marcelo.

Para garantir a segurança, a mobilização começou na noite da última terça-feira. Por volta das 23h, agentes do Departamento de Trânsito (Detran) fecharam estacionamentos. Às 7h de ontem, as vias próximas ficaram interditadas e, uma hora depois, hóspedes e funcionários começaram a deixar os prédios. As últimas pessoas saíram às 9h, quando tocou a segunda sirene de alerta. A Defesa Civil vistoriou os hotéis para garantir que não havia mais ninguém por perto.

Um perímetro de 2,1 mil metros, com raio de 300m, foi isolado. A empresa JC Gontijo, proprietária dos terrenos, gastou R$ 650 mil por implosão. O primeiro prédio a vir abaixo foi o Hotel das Nações, de 1965. O segundo, o Alvorada Hotel, de 1975, desabou dois segundos depois. Dois novos edifícios serão construídos nos locais para atender a demanda de turistas durante a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014.

A massagista Maria Raimunda Alves Pereira, 52 anos, trabalha aos fins de semana e feriados no Parque da Cidade. Para chegar até o local mais rápido, ela sai de Sobradinho II, vai até a Rodoviária do Plano Piloto e corta caminho pelo Setor Hoteleiro Sul. Na manhã de ontem, acabou surpreendida com a interdição da área, pois não sabia da operação. ;Acabei me atrasando bastante e vou ter que fazer um caminho diferente;, contou.

A turista italiana Chiara Panarone, 38 anos, também se surpreendeu com o esquema de segurança montado pelos órgãos do governo e pela empresa JC Gontijo. Segundo Chiara, o taxista não sabia da implosão e deixou ela e dois amigos no Setor Comercial Sul. Cansados da viagem, os três esperaram mais de duas horas para chegar ao hotel em que estavam hospedados. ;Não nos avisaram sobre essa operação;, reclamou.

Sucesso
Para o superintendente de engenharia da JC Gontijo, Gustavo Fantato, o trabalho se desenrolou conforme o esperado. ;Os danos à vizinhança foram mínimos, como o previsto, e a operação, um sucesso;, avaliou. Ele explicou que a empresa se preparou por três meses e avaliou os riscos para que os prédios próximos não sofressem qualquer estrago. Alguns receberam uma proteção especial. ;O entulho caiu onde planejamos e apenas algumas vidraças de outros hotéis se quebraram, mas já esperávamos por isso;, informou. Todos serão ressarcidos.

O secretário adjunto de Defesa Civil, coronel Luiz Carlos Ribeiro da Silva, explicou que, por ser uma área bastante ocupada, o planejamento levou 30 dias. ;Pensamos em tudo, fizemos reuniões com os gerentes de hotéis e escolhemos o feriado porque há menos hóspedes na cidade e menor fluxo de carros nas ruas.;



Entulho servirá para cooperativas
Thaís Paranhos
Flávia Maia


As implosões do Hotel das Nações e do Alvorada Hotel deixaram 22.080 toneladas de entulho no Setor Hoteleiro Sul. A limpeza na área começou logo após os prédios virem abaixo para a liberação das vias próximas ao local, interditadas por motivo de segurança. A JC Gontijo, empresa responsável pela operação, tem 30 dias para recolher o material.

Por causa do pequeno atraso no início da operação, o horário programado para a retomada do tráfego de veículos foi transferido das 11h para as 12h. Porém, mesmo depois da previsão, operários e garis ainda trabalhavam nas proximidades. Duas pistas do Eixo Monumental permaneceram interditadas até o início da tarde de ontem, além da via que passa ao lado do Shopping Pátio Brasil e da ligação entre a avenidas W3 Norte e Sul.

No local do antigo Hotel das Nações, inaugurado em 1965, e do Alvorada Hotel, em 1975, a empresa construirá dois empreendimentos hoteleiros. Os antigos prédios tinham 12 andares e 130 apartamentos cada. A média do tamanho dos quartos era de 16 metros quadrados. O novo projeto, ainda não finalizado, prevê dois edifícios de 17 pavimentos, além da construção de 528 apartamentos de 25m;. ;Fizemos uma avaliação e chegamos à conclusão de que não daria para aproveitar a estrutura. Não passaria na vistoria, de acordo com as normas vigentes;, informou Gustavo Fantato, superintendente de engenharia da JC Gontijo. As obras dos novos hotéis devem durar de 18 a 24 meses.

Fantato explicou que, antes das implosões, portas, assoalhos de madeira, louças, luminárias e metais foram retirados dos antigos hotéis para serem aproveitados. Todo o entulho recolhido será encaminhado para o Lixão da Estrutural, onde cooperativas de reciclagem aproveitarão o material.