A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) tem novo comando. O Diário Oficial de hoje deve trazer o nome do novo diretor da instituição, o delegado Onofre de Moraes, até ontem chefe titular da 3; Delegacia de Polícia, no Cruzeiro. A substituição da ex-diretora Mailine Alvarenga era trabalhada nos bastidores desde o primeiro semestre deste ano, mas só na terça-feira foi realmente executada, conforme noticiou na manhã de ontem, com exclusividade, o Blog da Ana Maria Campos, do site www.correiobraziliense.com.br. A troca na diretoria é uma tentativa de estancar uma crise na corporação e dar fim, inclusive, à greve da categoria.
A delegada Mailine assumiu o posto no início do governo de Agnelo Queiroz, em janeiro, e desde então enfrentava pressões de setores da Polícia Civil e de deputados distritais. Como não tinha vínculos diretos com nenhum grupo político e gozava da confiança do governador do DF, ela conseguiu se manter no cargo até agora. Por diversas vezes, foi aventada a possível queda da então diretora e Agnelo precisou ir a público para confirmar a confiança e a permanência dela no cargo. Agora, com vazamentos de informações de investigações e com a paralisação dos policiais civis, a delegada não conseguiu suportar a pressão.
Em nota oficial, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) confirmou a mudança no início da tarde. Segundo o órgão, a troca foi um ajuste natural do governo. ;Para atender às necessidades desta nova fase da política de segurança pública, assumirá o cargo o delegado Onofre de Moraes;, diz a nota. Ao Correio, o secretário da pasta, Sandro Avelar, afirmou que o novato vai dar seguimento ao trabalho da antecessora. ;A Mailine fez um belo trabalho nesse primeiro momento, voltado à profissionalização da Polícia Civil. Queremos dar continuidade a isso.;
Segundo o secretário, a escolha de Onofre deve-se ao trânsito do delegado na corporação e no meio político. ;Ele é experiente e é um nome ligado a toda a área de segurança. Circula tranquilamente, inclusive, junto aos deputados;, afirmou. Avelar conhece bem o assunto. Ele foi nomeado em junho no lugar de Daniel Lorenz, que saiu devido a pressões políticas similares às que afastaram Mailine. A Polícia Civil é dividida em diversos grupos que possuem influências nas diferentes esferas do poder candango. Na Câmara Legislativa, os distritais Wellington Luiz (PPL), Dr. Michel (PSL) e Cláudio Abrantes (PPS) são policiais civis e atendem aos interesses da categoria.
Amigos
O nome de Onofre de Moraes sempre foi defendido pelo chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro. O novo diretor também é antigo amigo do secretário de Justiça, Alírio Neto (PPS) ; delegado aposentado da Polícia Civil. O principal motivo da mudança, no entanto, se deu por conta da insatisfação do governo com o descontrole da instituição. O interesse do Palácio do Buriti é ter mais conhecimento do que se passa na política interna da corporação e receber mais informações das investigações. Outro ponto seria tentar agradar aos diversos setores ligados à categoria, inclusive, a fim de dar cabo à greve dos policiais, iniciada na última sexta-feira. ;Na verdade, essas coisas não têm relação entre si, mas a expectativa é que amanhã (hoje) a gente resolva isso;, disse Avelar.
ENTREVISTA // Onofre de Moraes
"Não vou admitir política partidária"
Ele tem mais tempo nas delegacias do que fora. Escalado pelo governador Agnelo Queiroz para assumir o comando da Polícia Civil, o delegado Onofre de Moraes, 55 anos, assume a direção com a meta de fazer uma grande reestruturação. Amigo do chefe de gabinete de Agnelo, o policial civil aposentado Cláudio Monteiro, Onofre está há 34 anos na carreira. Ele diz que assumirá a direção para deixar a corporação mais ;operacional; e acabar com as ;investigações pirotécnicas;.
Há meses se fala que o senhor assumiria o comando da Polícia Civil do DF. Na verdade, desde a fase de transição do atual governo...
As coisas acontecem no tempo certo.
Quando o senhor recebeu o convite do governador Agnelo Queiroz?
Ontem (terça-feira) à noite.
Qual foi o recado dele?
Ele quer uma polícia de Estado, sem partidarismo. Quero deixá-la menos burocrática e mais operacional.
Então haverá muitas mudanças?
Sim. Precisamos designar delegados com o perfil correto para cada função.
Haverá mudanças no Depate, área voltada a investigações complexas, que envolvem administração pública e combate ao crime organizado?
Sim. É minha intenção deixar a polícia mais operacional. Não quero pirotecnia. As investigações devem ocorrer, mas não quero operações pirotécnicas.
Para o leigo: o que significa deixar a polícia mais operacional?
O papel pode esperar. Uma investigação, não.
Quais são as suas prioridades?
O combate ao tráfico de drogas, especialmente ao crack, que considero um veneno, aos sequestros relâmpagos e aos homicídios, que têm crescido muito. Faremos um reforço no combate a esses crimes. Vamos fortalecer as delegacias circunscricionais.
Quando o senhor fala de pirotecnia se refere a quê? Divulgação do resultado das operações?
Não é isso. A imprensa precisa saber e divulgar o trabalho da polícia. Mas há um exagero na forma como está sendo feito.
Há fortes indícios de que houve vazamentos em operações policiais. O senhor se preocupa com isso?
Claro. Isso é quebra de lealdade. Tudo o que for errado será investigado. Quero uma Corregedoria forte, que assuma toda a parte disciplinar. Hoje isso é feito nas delegacias. Engessa as delegacias. Sou a favor da hierarquia nas delegacias, mas o que importa é a competência, a ética e o trabalho.
Certamente o senhor vai colocar em cargos de destaque as pessoas em quem o senhor confia...
Claro. Mas o melhor padrinho hoje se chama trabalho, competência.
O senhor é um grande amigo do Cláudio Monteiro, certo?
Ele é meu amigo. Confia na minha capacidade de administração e de trabalho. Mas não vou administrar com os amigos. Não se administra com os amigos. Temos uma amizade extrapolícia com ele. E assim vai continuar.
O senhor tem uma amizade extrapolícia também com o Alírio Neto?
Tenho, de muitos anos. Ele foi meu agente.
O senhor foi chefe dele?
Fui. Dele e do ex-secretário de Segurança Valmir Lemos, que hoje está na Polícia Federal.
O senhor conhece bem a Polícia Civil. Não acha que as coisas estão muito conturbadas?
Sim. Mas agora a única política que teremos é a de segurança pública. Não vou admitir política partidária. A polícia é para todos, sem preferência de A, B ou C.
Na gestão da Mailine, a polícia vinha agindo assim?
Não vou entrar em detalhes sobre outras gestões.
O senhor tem boa relação com os deputados da base de segurança?
Boa relação. Eles sabem do meu profissionalismo. Nunca pedi cargo a ninguém. Já deixei de ser diretor-geral três vezes em outras situações. Preferi não ser. Não quero apenas pelo cargo, gratificação e pela fotografia. Vou fazer. Prefiro errar fazendo, mas fazer e ser inovador. Trabalhar com autonomia.
As operações contra políticos vão continuar?
Claro. Quem errar tem que pagar pelo erro.
Mesmo que envolva alguém do PT e do PMDB, partidos hegemônicos no governo?
Pode ser quem for. Não podemos ter preferência. Se eu não tiver autonomia, não posso e não vou comandar a polícia.
A greve é um motivo de preocupação?
Sim. Temos que conversar, dialogar, atender. Vou estar diretor, mas sou delegado. E não vou me modificar. Sou o que sou e não vou mudar por causa de um cargo de comando.