O Catetinho não será reaberto em novembro, quando completará 55 anos. A reforma na primeira residência oficial do ex-presidente Juscelino Kubitschek (veja Para saber mais) em Brasília ainda não saiu do papel. O subsecretário do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Secretaria de Cultura (SC), José Delvinei Santos, alegou dificuldade em encontrar empresas especializadas em restauro. O monumento está fechado desde julho deste ano e não há previsão para o início das obras de recuperação de um dos cartões-postais da capital federal.
A Secretaria de Cultura lançou um edital no dia 13 deste mês, mas até agora apenas duas empresas se interessaram pelo trabalho, uma de Goiânia e outra de Brasília. A publicação fica aberta até 7 de novembro. ;Mandamos um documento para a Procuradoria-Geral do DF, mas tivemos que reformulá-lo. Estamos receosos de não conseguir encontrar as empresas. Nós temos prazos a cumprir, caso contrário podemos perder os recursos;, alertou. A reforma do Catetinho custará R$ 753 mil aos cofres públicos. De acordo com o subsecretário, não falta interesse por parte da empresas. ;Trata-se dos requisitos que são solicitados, estamos sendo bastante rigorosos;, justificou.
Na primeira etapa da obra, técnicos da Secretaria de Cultura realizaram a descupinização do prédio. O trabalho foi feito em conjunto com a Universidade de Brasília (UnB). O acervo do Catetinho também ganhou atenção especial. Todos os objetos foram retirados e levados para a SC, onde foi montado um laboratório. São móveis, utensílios domésticos e até roupas do ex-presidente e de sua esposa, Sarah Kubitschek. ;Algumas peças ficavam muito expostas, como o próprio vestuário de JK, sem climatização adequada e com poeira;, explicou o gerente de acervo da secretaria, Paulo Lima.
Inventário
Segundo Lima, há pelo menos 170 peças do Catetinho já catalogadas. Todas passarão por uma higienização e por restauração, quando for preciso. O trabalho é realizado por uma técnica da Secretaria de Cultura. Independentemente das obras na estrutura, disse o gerente de acervo, a meta era concluir as obras no fim deste mês. Lima explicou que será feito um novo inventário após o restauro das peças. ;Além do laboratório, criamos a Gerência de Acervo e um grupo de trabalho. Isso mostra nossa preocupação em zelar pela memória de Brasília.;
Cláudio Villar de Queiroz, professor de projetos da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), não consegue entender por que o governo tem dificuldade de encontrar empresas especializadas nesse tipo de trabalho. ;Já houve duas ou três restaurações no Catetinho que foram, na verdade, reformas fidedignas;, lembra. Ele sugere que a Secretaria de Cultura defina os parâmetros da restauração por meio de um caderno de encargos detalhado, já feito para outras obras do gênero. ;Esse caderno é uma espécie de receituário, com todos os procedimentos e as maneiras de realizar a obra . Ele especifica todos os materiais, acabamentos, revestimentos. Isso é essencial para as normas de arte e, se a secretaria fizer isso, poderá contratar técnicos e artesãos habilitados para esse restauro;, concluiu.
PARA SABER MAIS
Tudo começou em um bar
Foi em 1956, em uma das mesas do Juca;s Bar, no Rio de Janeiro, que Oscar Niemeyer rabiscou o projeto da primeira residência do presidente Juscelino Kubitschek na então nova capital. A casa foi construída em 10 dias, com 20 pessoas trabalhando em turnos de 18 horas diárias. Mesmo tendo sido concluído em 27 de outubro de 1956, o Catetinho teve sua inauguração oficial em 10 de novembro daquele ano. Feito totalmente em madeira ; por isso, conhecido como Palácio de Tábuas ;, o prédio já apresentava o conceito de sustentação sob pilotis, marca dos prédios residenciais do Plano Piloto. Na área do Catetinho, existe uma fonte brotando da terra com água cristalina, descoberta por Juscelino em 2 de outubro de 1955. O presidente dizia aos amigos que lhe dava vigor e sorte. Quando estiveram em Brasília, Tom Jobim e Vinicius de Moraes ficaram encantados com aquele pequeno olho d;água e compuseram a música Água de beber. Em 1959, a pedido do próprio Juscelino, o Catetinho foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural de Brasília, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional ( Iphan).