Há 25 dias, Ângela Lopes de São José, 53 anos, moradora do Parque Estrela Dalva 2, bairro de Luziânia (GO), chora à espera de notícias sobre o paradeiro do filho Wesley Ícaro da Silva, 11. No último dia 4, a criança pegou o metrô em Taguatinga ; onde a família também tem uma casa ; por volta das 12h30, rumo à Escola Parque 308 Sul. O menino chegou a entrar na escola, mas não assistiu à aula. ;Ele disse para um amigo que não ia ficar porque estava com dor de cabeça;, conta Ângela, com base nos relatos do aluno.
Desesperada, no dia seguinte ao sumiço, a mulher registrou ocorrência na 17; DP (Taguatinga Centro) e também no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Luziânia. Entre as várias tentativas de encontrar Wesley, a ex-quiosqueira da Rodoviária do Plano Piloto já espalhou fotos em diversos locais do Plano Piloto e no Entorno. ;Sempre me perguntam se o meu filho não fugiu de casa, se ele usava drogas e ainda fazem piadinha. Ele é um ótimo aluno e nunca se envolveu com coisa errada. Também não tinha motivo para ir embora. Não sei o que pode ter acontecido, mas o Wesley tem medo de tudo;, afirma.
Ângela é tia de Márcio Luiz de Souza Lopes, 19 anos, assassinado pelo maníaco Ademar Jesus da Silva, que matou ainda outros seis adolescentes no ano passado (veja Memória). O pai de Márcio morreu em 3 de setembro, vítima de um enfarto. ;É muita coisa acontecendo. Não dá para suportar;, desabafa. Ângela conta ter emagrecido oito quilos. Desde o desaparecimento de Wesley, a senhora de cabelos grisalhos não dorme direito. Por diversas vezes, recebeu telefonemas de pessoas que diziam ter encontrado o garoto. ;Já me ligaram à meia-noite dizendo que ele estava numa parada de ônibus. Ontem mesmo, me ligaram falando que ele estava na Rodoviária do Plano Piloto. Eu fui lá, mas era só um menino parecido;, contou à reportagem.
Greve
Para piorar o drama, Ângela não consegue ajuda das polícias civil do DF e de Goiás. Em greve, as duas corporações só atendem casos de flagrantes ou fazem o registro de crimes hediondos. Na tarde de ontem, a mulher foi até a 17; DP para pegar a ocorrência e, com o documento em mãos, vai tentar auxílio com a Polícia Militar. ;Já fiz tudo o que eu podia. Não sei mais por onde procurar. Agora, vou ver se a PM me ajuda e faz diligências, pelo menos, por Luziânia. Eu não tenho carro para ir direto nos lugares e, cada tempo que eu perco, é precioso. Tenho fé que meu filho vai aparecer.; O Correio conversou com dois delegados da 17; DP a respeito do assunto, mas nenhum deles sabia da ocorrência.
Mesmo sem o apoio das autoridades públicas, Ângela não tem poupado esforços. Na última quinta-feira, ela participou de uma audiência pública na Câmara Municipal de Luziânia para discutir o aumento da violência no Entorno. A comerciante mostrou fotos do garoto e revelou o drama a toda a comunidade e aos deputados federais presentes ao encontro. A reclamação foi anexada a um documento e deve ser levada ao conhecimento do governo federal.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) do DF, mas não teve sucesso em virtude do feriado do Dia do Servidor, comemorado ontem em alguns órgãos do governo local. A direção da Escola Parque 308 Sul também não retornou as ligações.
Violência assustadora
A região que engloba 16 cidades é responsável por 19% das ocorrências de tráfico de drogas do território goiano. O Entorno registrou ainda um aumento de 22% no número de assassinatos, passando de 362 casos, entre janeiro e setembro de 2010, para 442 no mesmo período deste ano. Luziânia superou as demais localidades, com 115 mortes violentas contra 97 no ano passado.