Parentes e amigos dos professores Cristiane Mulim, 37 anos, e Marlon Pereira Silva, 38 ; duas das quatro pessoas que perderam a vida em uma tragédia envolvendo três veículos há dois meses, em Sobradinho ; voltaram a se emocionar durante uma homenagem a Cristiane, na manhã de ontem. Durante o evento, também foram lembradas as outras vítimas da fatalidade: o pedreiro Alan Jones Oliveira, 30 anos, e o mototaxista Erudá Barreira de Souza Filho, 21. Estudantes, professores e a administração da cidade decidiram imortalizar o nome da professora com um memorial montado na parada de ônibus da Quadra 11, localizado a poucos metros de onde ocorreu o acidente (ver Memória). O espaço, agora batizado de Parada de Leitura Cristiane Mulim, abriga um acervo de 300 livros.
O ponto ganhou pintura e uma frase grafitada que alerta aos motoristas e pedestres: ;Paz no trânsito pelo amor;. Parte do gramado que envolvia os arredores da parada foi retirada para dar lugar a um pequeno jardim. A mãe de Cristiane, a aposentada Izabel Mulim, 67 anos, plantou no local uma muda de ipê-amarelo. Estudantes da escola em que a professora trabalhava treinaram a voz durante uma semana para não fazer feio na hora de cantar a música preferida da ;tia; ; A paz, canção do grupo Roupa Nova. Cartazes com recadinhos produzidos por eles ficaram pregados até o fim do evento.
Emoção
;É muito forte estar de volta ao local onde minha filha morreu;, emocionou-se a mãe de Cristiane, Izabel Mulim, acompanhada do marido, o aposentado Leleir José Venceslau, 68, e a neta, filha de Cristiane e Marlon, de 3 anos. O pai de Marlon, o aposentado Ademir Antônio Silva, 67, também acompanhou a demonstração de afeto. ;Essa homenagem foi muito importante. Que ela não fique no esquecimento. Eu já me prontifiquei a cuidar da parada toda vez que passar por aqui;, prometeu.
A inauguração do ponto de leitura também foi um momento para selar as pazes com o motorista do ônibus que causou a tragédia. Wilson Augusto da Costa, 44 anos, chegou antes do início do evento. Não demorou muito para que o condutor do coletivo encontrasse os pais de Cristiane. O silêncio entre eles durou poucos segundos. Foi o pai da professora que quebrou o clima tenso: ;Eu não guardo qualquer mágoa de você;. Após a declaração, Wilson e o aposentado deram-se as mãos para registrar que ali não existia problema entre os dois. ;Esse acidente mexeu demais comigo;, definiu o motorista. ;Não tenho mágoas dele (Wilson), mas da empresa de ônibus, que deixou o veículo circular sem as devidas condições;, destacou Izabel.
Nove semanas após a tragédia, as circunstâncias do acidente ainda não foram esclarecidas. À época , o gerente de tráfego do grupo, Wilson Tavares da Silva, assegurou que o veículo estava apto para trafegar e que ;dependendo do estado de conservação do ônibus, a idade é o de menos;. Ele ainda frisou que, naquele dia, os fiscais do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) teriam aprovado a circulação do coletivo. A Polícia Civil do DF espera pelo resultado do laudo do Instituto de Criminalística (IC), que deverá apontar as condições do ônibus no dia em que ocorreu a fatalidade.
Memória
19 de agosto de 2011
O acidente, que vitimou cinco pessoas, ocorreu na Quadra 11 de Sobradinho 1. O motorista do ônibus da Linha 512.1 (Rodoviária de Sobradinho ; W3 Norte/W3Sul), Wilson Augusto da Costa, 44 anos, teria perdido o controle do coletivo e colidido na motocicleta pilotada por Erudá Barreira de Souza Filho, 21. Em seguida, bateu no Corsa de placa JGU-5189 / DF, ocupado pela professora Cristiane Mulim, 37, e pelo marido, Marlon Pereira Silva, 38. Após as duas colisões, o ônibus atropelou o pedreiro Alan Jones Oliveira, 30, que andava na calçada. Cristiane, Erudá e Alan morreram na hora. Em 13 de setembro, Marlon morreu, após vários dias internado no Hospital Regional de Sobradinho.