No dia seguinte ao vazamento químico que fechou quatro lojas da 402 Sul, a lavanderia na qual ocorreu o acidente já funcionava normalmente. Com isso, deverá ser multada por descumprimento de interdição, já que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil ainda não inspecionaram o estabelecimento. Isso ocorrerá hoje, às 10h. A Polícia Civil também esteve no local, na tarde de ontem, para checar o que causou o vazamento. O laudo deve demorar alguns dias para sair.
A lavanderia informou que reabriu porque recebeu ontem uma liberação para tal. No entanto, o que houve foi a visita de um técnico do Ibram, que, informalmente, afirmou estar tudo em ordem para a reabertura. De acordo com o diretor da empresa José Tibério, vindo de São Paulo na noite de segunda-feira para ajudar a resolver o problema, esse foi um caso simples. ;A perícia foi feita. O problema foi sanado. Não tivemos prejuízos;, garante. Tibério diz que o produto atingiu cerca de 50 peças de roupa. Segundo o diretor, elas estarão limpas até sexta-feira. ;A solução é muito caseira. Esse produto é menos tóxico do que a gasolina, por exemplo. É igual a dor de barriga que se cura com chá e a pessoa quer ir ao hospital;, compara o diretor.
A lavanderia 5àSec afirmou, em nota, que o problema aconteceu durante o processo de manutenção preventiva de uma das máquinas. ;Os clientes não sofrerão qualquer tipo de dano material. O produto é usado para limpeza de têxteis há mais de 40 anos no mundo todo;, explica.
Umas das clientes, a dona de casa Regina Santana, 56 anos, achou prudente ir à loja verificar de perto o que estava acontecendo. ;Eu fiquei preocupada, por isso vim, mas era um só vestido que eu tinha aqui e eles já devolveram sem problema nenhum;, conta.
Na vizinhança, além de prejuízos pelo tempo em que os estabelecimentos permaneceram fechados na tarde de segunda-feira, também restaram as dúvidas em relação à extensão dos problemas causados pelo vazamento. Gerente da clínica ao lado da lavanderia, Katiana Colaci ficou assustada com o odor forte liberado. ;A gente não ouviu barulho de explosão, mas o cheiro estava insuportável. Funcionários e clientes foram embora com dor de cabeça, vômito, irritação nos olhos. Pensei que tivesse gente colocando veneno nos bueiros;, diz.
Sem proteção
Em outras lavanderias, o acidente despertou a discussão quanto ao manuseio correto do produto. Uma funcionária de uma loja da Asa Sul, que preferiu não se identificar, conta que as empresas nem sempre disponibilizam material adequado para proteção contra os efeitos do produto. ;O lugar não tem saída de ar. A gente tirava a roupa cheia do produto de uma máquina e passava para outra. O máximo que nos davam eram aquelas luvas de limpeza mesmo;, detalha.
Ela afirma ainda que já presenciou várias colegas passarem mal quando trabalhavam na lavagem à seco. ;Às vezes, quando a gente está lavando a roupa, o produto cai na nossa calça e aí fica uma mancha branca na pele. Várias meninas já saíram da lavanderia direto para o hospital, desmaiadas.; Gerente de outra lavanderia, Ana Cláudia Cavalcanti lembra que quem trabalha com o produto não tem total conhecimento dos efeitos dele. ;Uma vez fizeram um teste aqui para verificar o nível de perigo a que a gente estava exposto. Mas já faz tempo. Deveria haver uma fiscalização mais frequente porque estamos em contato com o percloroetileno diariamente;, acredita a funcionária.
A inspeção de lavanderias é feita na emissão do alvará de funcionamento do estabelecimento ; procedimento realizado por diversos órgãos, incluindo os ambientais, a administração regional e o Corpo de Bombeiros ; e a fiscalização é mantida pela Agefis. O Ibram é acionado em ocacisões de possíveis danos ambientais, como foi o caso da lavanderia 5àSec.
Nocivo
O percloroetileno é um composto químico usado como solvente no processo de lavagem a seco. É tóxico e quem o manuseia deve evitar o contato com os olhos ou com a pele. Se inalado, o perclorato pode provocar tonturas, náuseas e dores de cabeça. O contato prolongado com grandes quantidades do produto também tem efeito cancerígeno. Como é extremamente nocivo ao meio ambiente, não pode ser removido com água diretamente para o sistema de esgoto.