Os sequestros relâmpagos continuam em ascensão na capital do país. A Secretaria de Segurança Pública contabilizou 455 casos somente nos primeiros nove meses de 2011 ; em média, há uma ocorrência a cada 14 horas. O índice é 27,8% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Um dos ataques mais recentes aconteceu na noite da última segunda-feira, quando uma senhora de 69 anos acabou alvo de dois criminosos na 106 Norte. A vítima ficou sob a mira de um revólver por cerca de 40 minutos. Foi liberada na DF-001, nas proximidades de Santa Maria. Em Sobradinho, um estudante de 23 anos também sofreu um roubo com restrição de liberdade no mesmo dia.
A vítima da Asa Norte, uma assistente social aposentada, sofreu a abordagem dos bandidos por volta das 19h30. Ela chegava ao prédio da filha. Dois homens, um deles armado, se aproximaram no momento em que ela abriu a porta do veículo, um Honda Fit. ;Eles não sabiam andar pelo Plano (Piloto) e eu fui guiando. No caminho, passamos por vários carros de polícia. Tive vontade de gritar, mas eles me mandaram ficar quieta. Não dá para descrever o pânico que eu passei;, contou. Alguns moradores viram o sequestro e ligaram para a polícia.
Mapeamento
Ao longo do trajeto, a mulher disse que pensou apenas nos cinco filhos. ;Eu estava muito nervosa, mas me segurei neles e na minha mãe, que faleceu há pouco tempo, e consegui manter a calma;, explicou. Segundo ela, os criminosos tinham boa aparência e fumaram maconha no veículo. ;Mas eles não me agrediram. Ofereceram até um cigarro. Falavam que precisavam só do carro. O que dirigia recebeu duas ligações no caminho e falou: ;Já estamos chegando;;, revelou. Depois de abandonada pela dupla, a vítima caminhou por cerca de 500m até conseguir ajuda. ;Fui até o posto da Polícia Rodoviária Federal na BR-040 e liguei para a minha família. Quando eles chegaram lá, eu desabei.;
A investigação do sequestro relâmpago ficou sob responsabilidade da 2; Delegacia de Polícia, na Asa Norte. O retrato falado dos suspeitos, no entanto, só poderá ser confeccionado após o fim da paralisação da Polícia Civil do DF, previsto para a manhã de quinta-feira. Para evitar que os vizinhos sejam alvos de outros criminosos, a família da mulher sequestrada divulgou uma carta aos moradores (veja fac-símile). ;Queremos que as pessoas tenham conhecimento do que aconteceu com a minha mãe e fiquem mais atentas ao chegar à quadra;, contou uma das filhas, de 31 anos.
De acordo com o subsecretário de Operações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, coronel Jooziel de Melo Freire, o órgão fez um mapeamento dos pontos mais críticos do DF. A 106 Norte, segundo o oficial, não aparece como área de risco. ;Lá, não temos uma concentração criminal;, afirmou. Em relação ao aumento considerável nos registros de sequestros relâmpagos na capital do país, o subsecretário garantiu que existe um plano de combate. ;Aumentamos o efetivo, aplicamos policiamento em todas as áreas que têm mostrado vulnerabilidade e fizemos muitas prisões.; Apesar disso, a frequência com que acontece o crime continua a assustar a população.
Reconhecidos
Duas horas depois do sequestro relâmpago registrado na Asa Norte, um estudante de 23 anos também acabou levado por bandidos na Quadra 6 de Sobradinho. Por volta das 21h30, o jovem parou em um comércio da região e foi abordado por três criminosos ao retornar ao Fiat Palio dele. A vítima dirigiu por algum tempo, com os suspeitos no veículo, mas depois foi obrigada a se sentar no banco traseiro. Um segundo carro deu cobertura ao trio. O estudante foi abandonado após cerca de meia hora em poder dos bandidos, em uma pista localizada nas proximidades do Paranoá.
Ontem à tarde, policiais militares do 14; Batalhão de Polícia Militar, em Planaltina, localizaram o veículo roubado pelos sequestradores, no Setor de Oficinas da cidade. Quatro pessoas, entre elas dois adultos e dois adolescentes de 16 anos, estavam próximas ao Fiat e foram encaminhadas à 31; DP. Na unidade policial, o estudante reconheceu os dois maiores de 18 anos como os supostos responsáveis pelo crime. O revólver calibre .38 usado para render o jovem estava escondido no carro.
"O meu medo era grande"
;Eu combinei de chegar à casa da minha filha, na Asa Norte, às 19h, mas fiquei assistindo à novela e me atrasei. Cheguei meia hora mais tarde. Foi o tempo para eles estarem me esperando. Desliguei o carro e, quando abri a porta, um deles colocou a arma na minha cabeça e me mandou passar para o lado do passageiro. Fiquei totalmente em pânico e ainda precisei ensinar o que assumiu a direção a dirigir o carro automático. Assim que entramos no carro, o que ficou no banco traseiro colocou a arma na minha cabeça, mas depois tirou. Falei que eu tinha pressão alta e pedi que me deixassem em uma parada. Eu conversei muito e eles falaram que, por isso, era ruim sequestrar mulher. Foram pegando o caminho para sair de Brasília e, quanto mais se distanciavam, mais eu ficava desesperada. Eles falavam que era para eu dar graças a Deus que eles eram bonzinhos e só queriam o carro. O meu medo era tão grande que as minhas mãos e os meus pés ficaram dormentes. A gente nunca pensa que isso pode acontecer com a gente.;
RAPTO EM CEILÂNDIA
Na última segunda-feira, policiais militares do 8; Batalhão de Polícia Militar, em Ceilândia, prenderam três homens em um Renault Clio, na QNN 09. De acordo com os PMs, os suspeitos tentaram fugir ao perceber a presença dos policiais. Na 15; Delegacia de Polícia, em Ceilândia Centro, ficou provado que o veículo havia sido roubado no último dia 6 durante um sequestro relâmpago. Na ocasião, um jovem foi abordado quando chegava em casa, no Setor O, e levado pelos três criminosos. A vítima só foi liberada próximo a Águas Lindas (GO), a 47km de Brasília.