Jornal Correio Braziliense

Cidades

Pai é condenado a 17 anos de prisão pelo assassinato da filha há 12 anos

Doze anos após a morte da estudante Elaine Carneiro de Souza, assassinada a facadas e pancadas aos 19 anos de idade pelo próprio pai, a Justiça condenou o acusado ; Davi Carvalho de Souza, 55 anos ; a 17 anos e seis meses de reclusão em regime fechado. A decisão foi tomada na noite desta sexta-feira (21/10). A Justiça considerou que o crime foi praticado por meio cruel, já que a vítima não teve chances de defesa e quase foi decapitada. Ele pode recorrer da decisão. O julgamento do caso durou quase um dia. Começou na manhã de quinta-feira (20/10) e acabou suspenso depois das 22h. A sessão de hoje foi retomada às 8h30 e só terminou às 19h.

De acordo com os investigadores, Davi teria matado a estudante por ciúmes, pois ele não a via como filha e, sim, como mulher. "Ele chegou até a abusar sexualmente dela. Mas minha prima sempre escondeu isso da gente", contou a estudante Anna Paula Silva de Moraes, 21. Para a Justiça, a demora para se chegar à decisão judicial aconteceu devido ao fato de os investigadores não terem localizado, inicialmente, provas que levassem ao acusado. Até então, Davi não era considerado o suposto autor do crime. "Somente um ano depois, Davi foi apontado como sendo o principal suspeito do crime por conta do comportamento e da forma como ele tratava a minha sobrinha antes dela morrer", disse a tia da vítima, a professora Neli Alves Carneiro, 55 anos.

Pela primeira vez desde que o crime ocorreu, Davi sentou no banco dos réus. Ouviu os depoimentos da titular da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), Mabel de Faria, que o apontou como sendo o autor do homicídio qualificado, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) ; foi o órgão que entrou com o pedido de julgamento ; e as testemunhas de acusação. Ele estava sob os olhares de tios e primos da vítima.

Em juízo, Mabel de Faria declarou, ontem, que as investigações apontavam Davi como o autor do homicídio. "Foi concluído nos autos da investigação que o réu é o culpado por meio de provas periciais ao final das apurações policiais", concluiu a delegada. Autuado por homicídio qualificado, ele aguardava o julgamento em liberdade. No processo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e territórios (TJDFT)consta que o suspeito teria cometido "intromissões, ameaças e tentativas de suborno que, de acordo com a prova testemunhal, teria praticado no decorrer do inquérito".

Ao longo dos interrogatórios na Corvida, foi decidido que "os elementos colhidos ao longo de mais de dez anos de investigação policial, corroborados pela prova oral produzida em juízo, revelam indícios suficientes de autoria em desfavor do acusado".

Crime cruel
Elaine foi espancada e quase chegou a ser decapitada por conta de um corte profundo feito por um instrumento perfurocortante. Acredita-se que o crime tenha ocorrido entre às 20h do dia 19 de fevereiro de 1999 e às 6h do dia seguinte, quando ela foi encontrada sem vida em meio aos dejetos de um antigo lixão, que hoje fica próximo à unidade da Universidade de Brasília (UnB) do Gama. Até hoje também não se sabe o endereço que foi palco do crime. As dúvidas recaem na casa da família, localizada no Setor Sul do Gama, e na chácara pertencente a Davi, que fica na Ponte Alta. Conforme laudo de exame cadavérico presente nos autos, a morte de Elaine "ocorreu por choque hipovolêmico, devido a hemorragia externa".

[SAIBAMAIS]Segundo testemunhas, o pai tinha costume de agredir a filha com socos e pontapés. Ela era proibida de namorar e, por vezes, ficava sem poder sair de casa. Por conta de discussões com o suspeito, Elaine teria decido morar com os avós. Há uma aparente divisão na família. A mãe da vítima é testemunha de defesa, acompanhada pelos dois irmãos. Familiares por parte da mãe da estudante, afirmaram ao Correio que Davi não demonstrava sentimentos de tristeza com a morte da filha. "Ele chegou a dizer que até depois de morta ela dava trabalho. E no dia do enterro ele disse que ela até que estava uma ;defuntinha bonitinha;", relatou a prima de Elaine, a estudante Anna Paula.