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Vila Telebrasília perde o jeito de invasão e ganha atrativos turísticos

postado em 18/10/2011 07:59
A casa de madeira, muito bem preservada, tem mais de 50 anos. Fazia parte do antigo acampamento da construtora Camargo Corrêa e há quase 40 anos é ocupada pela servidora pública Vera Lúcia Trevisol  e sua família

A casa mais bonita da Vila Telebrasília deveria estar nos livros de história de Brasília. É de madeira, está bem conservada e deve ter servido de moradia para algum engenheiro da construtora Camargo Corrêa. Com exceção de uma das paredes da cozinha, dos banheiros e do assoalho, toda ela permanece com as características originais. Os atuais moradores não têm documento que regularize a propriedade. A servidora pública aposentada Vera Lúcia Trevisol vive no terreno (que hoje tem três casas) há 46 anos. Ela, o marido e os três filhos cuidam da casa com esmero. A pintura da fachada é nova, os armários de madeira continuam em boas condições de uso, o teto segue coberto com tiras finas de madeira, as telhas têm a marca de uma cerâmica de Anápolis e as esquadrias das janelas também são as de origem.

;Os arquitetos que vêm aqui sempre se surpreendem;, conta Vera Lúcia, que nunca recebeu visita de representantes da proteção ao patrimônio histórico da cidade. Sempre que muda o governo, aparece alguém para ver a casa e cria-se uma confusão que acaba não dando em nada. Só a família de Vera cuida, por gosto, da proteção de uma das poucas e mais bem preservadas casas de madeira dos acampamentos do período da construção de Brasília.

As irmãs cozinheiras Flávia, Kuezia e Patrícia são três das quatro irmãs que, com a mãe Ilza, cuidam do Cantinho da Vila, restaurante pequeno e com receitas únicas
Depois de quase meio século de aflição, de tentativas de remoção dos moradores, de ameaças e conflitos, em 2008, o governo emitiu as escrituras de todos os lotes da vila, quando muitos moradores já haviam sido transferidos para o Riacho Fundo 1. Com a chegada do saneamento básico, da energia elétrica, do asfalto e da praça, o bairro do fim da Asa Sul perdeu o jeito de invasão e ganhou atrativos turísticos, como o Restaurante Cantinho da Vila, que oferece, entre outras iguarias singulares, a lasanha de pamonha e a quenga. Criação da família de cozinheiras ; mãe e quatro irmãs ;, a quenga é um cozido de frango com milho e coco. As moças fazem curso universitário (uma já se formou), trabalham fora e cuidam do empreendimento familiar.

Num outro cantinho da vila, a boleira Francisca Jesuíno fabrica bolos, tortas, docinhos, bem-casados, cupcakes. Num outro, revestido de azulejos azuis e brancos, Adevaldo Teles vende móveis usados. Na entrada da vila, Madalena Brito Costa planta flores no jardim da Igreja Batista Atos da Vida, que anuncia os cultos em enorme letreiro digital instalado na fachada. Dentro da vila, a Capela São Pedro Nolasco reluz seu azul-celeste e sua arquitetura singela. Contra a vontade de quem estava na prancheta, a vila conquistou o direito de existir.

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