Jornal Correio Braziliense

Cidades

Ex-gestores dos Transportes queriam mudar recibo para escapar da Regin

O ex-secretário adjunto de Transportes do DF Júlio Luis Urnau e o ex-subsecretário José Geraldo de Melo voltaram ontem à Divisão de Crimes Contra a Administração Pública (Decap), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), para prestar depoimento. Os dois são acusados de terem praticado crime de extorsão quando ocupavam cargos públicos. Em horários distintos, eles chegaram algemados à unidade no período da tarde. A polícia não deu detalhes sobre as declarações dadas por Urnau e Melo e passou o dia ouvindo o relato de testemunhas e analisando as provas colhidas na última sexta-feira, quando foi deflagrada a Operação Regin, destinada a investigar a participação de servidores públicos em um esquema de pagamento de propina para beneficiar cooperativas de transporte.

Entre os objetos analisados, há celulares, notebooks, pen drives, manuscritos, notas fiscais, cadernetas, cartões de memória, agendas, entre outros. Ao todo, 11 pessoas, entre servidores públicos e ex-diretores de cooperativas, são investigados. O Correio teve acesso à decisão da juíza titular da Vara Criminal e do Tribunal do Júri da Núcleo Bandeirante, Delma Santos Ribeiro. No documento, a magistrada fundamentou a determinação da prisão de Urnau, Geraldo e de outras três pessoas que integravam os quadros da Cooperativa dos Profissionais do Transporte Alternativo do Gama (Coopatag): dos diretores Josenildo Batista da Silva e José Estelito Lopes e do consultor Adevandro Pereira da Silva.

O mandado de prisão foi expedido após a juíza identificar indícios de vazamento da operação da Polícia Civil e constatar que o grupo tentava produzir documentos falsos com a finalidade de evitar a anulação pela Secretaria de Transportes da decisão que autorizou a transferência irregular de recursos entre a Coopatag e a Cooperativa Brasiliense de Transportes Autônomos, Escolares, Turismo e Especiais do DF (Coobrataete). Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça apontaram que José Geraldo, Adevandro e Josenildo combinaram a confecção de um documento com data retroativa.

Por telefone, eles chegaram a comentar como fariam para envelhecer os papéis para passar a impressão de que eles haviam sido produzidos à época em que José Geraldo ainda ocupava o cargo de secretário adjunto de Transportes. Em outro diálogo, José Geraldo fala com Josenildo sobre a necessidade de elaborar um recibo falso para comprovar o pagamento de dívida com Adevandro.

Celular grampeado
Na decisão, a magistrada afirma ainda que Júlio Urnau atuou em conluio com José Geraldo para fraudar licitações realizada pelo GDF. Em alguns trechos de diálogos interceptados, Júlio parece preocupado e diz ao interlocutor que ;estão falando muito ao telefone e que o celular dele está grampeado;. Alguns dos representantes ainda buscaram esconder o patrimônio adquirido com recursos levantados por meio das atividades irregulares colocando os bens em nome de terceiros.

Também são foco da investigação o ex-secretário de Transportes Alberto Fraga e o ex-governador José Roberto Arruda. Segundo denúncias recebidas pela Decap, os gestores da secretaria teriam cobrado R$ 800 mil para que a Coopatag pudesse operar no sistema. Segundo André Luiz Figueira Cardoso, advogado de defesa de Josenildo e de José Estelito, os clientes ganharam o direito de operar linhas no Gama, por meio de licitação, mas estavam impedidos de circular. Após a Coopatag adquirir 50 micro-ônibus e investir na contratação de pessoal e na construção de garagens, eles se viram obrigados a pagar propina aos funcionários da Secretaria de Transportes do DF para iniciar as atividades. ;A cooperativa fez um investimento pesado e assumiram dívidas. A situação era desesperadora;, disse André.

Foragidos da Justiça
Júlio Urnau e José Geraldo estão detidos em virtude da concessão de prisão temporária. Eles não foram encontrados no dia em que foi realizada a Operação Regin, e a polícia declarou que ambos eram foragidos. Geraldo e Júlio se entregaram na terça-feira e quarta-feira passadas, respectivamente, acompanhados de advogados. Eles devem ganhar a liberdade neste fim de semana, quando vence a prisão. A Polícia Civil não informou se vai pretende pedir a prorrogação da medida.