Os colégios particulares de Brasília decidiram subir o preço das mensalidades acima da inflação do período. Os valores pagos todo mês por pais ou responsáveis ficarão entre 11% e 14% mais caros em 2012, segundo levantamento do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) concluído esta semana. O reajuste médio de 12,5% supera em mais de cinco pontos percentuais o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) mais atualizado.
Desde 2008, os empresários da educação fazem contas e, com as mesmas justificativas, aplicam aumentos na casa de dois dígitos percentuais. O aumento acumulado nos últimos cinco anos, levando em conta os reajustes máximos, já chega a 73%. A inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no mesmo período não passa de 25%, quase três vezes menos.
Há um mês, o Correio publicou estimativa de reajuste para 2012 com base em consultas feitas a mais de 20 colégios. A variação informada à reportagem ; de 6% a 10% ; ficou aquém dos números finais. As unidades de ensino atribuem os aumentos à elevação dos preços de materiais de consumo, aluguel e tarifas públicas, além do salário dos professores que, no ano que vem, terão ganho real de 1,5%. Os investimentos em infraestrutura não entram nos cálculos.
Alterações na proposta pedagógica também são usadas como justificativa para os preços mais altos. Se a escola vai oferecer mais opções de língua estrangeira ou atividades culturais extras, por exemplo, as novidades inflacionam as previsões de gastos do estabelecimento e influenciam o valor das 12 mensalidades do ano seguinte. Geralmente, os colégios oferecem descontos para pagamento antecipado ou quando mais de um filho são matriculados.
O reajuste médio em Brasília não destoa do observado no restante do país, segundo a presidente do Sinepe-DF, Amábile Pácios, que também está à frente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). ;Não existe aumento. São apenas reajustes para que as escolas consigam arcar com os seus compromissos;, sustentou. As entidades representativas não interferem na definição dos aumentos anuais, mas auxiliam as escolas na elaboração da planilha de custos.
Em todo o DF, há cerca de 450 colégios particulares, sendo metade filiada ao sindicato. Os preços cobrados variam bastante. Em unidades do Plano Piloto, a mensalidade ultrapassa R$ 1,5 mil para alunos do ensino médio. No ensino fundamental, a taxa encosta nos R$ 1 mil nas opções mais caras. O período de matrículas começou no fim do mês passado. Até a primeira quinzena de novembro, todas as escolas terão aberto as portas para novos estudantes.
O administrador David Sabino, 49 anos, não gostou nem um pouco de saber que a mensalidade subirá bem acima da inflação. Os dois filhos, de 10 e 13 anos, estudam em escola particular. ;Mais uma vez, o cidadão leva a pior. O salário dos pais não aumenta no mesmo patamar;, observou. Há três meses, Sabino mudou-se de Goiânia para Brasília. Ele ainda não se adaptou ao alto custo de vida da capital federal. ;Tudo é mais caro. A mensalidade em Goiânia era 30% mais barata;, comparou.
Para as escolas, não há nada de anormal nos reajustes aplicados anualmente. ;Todo mundo vai reclamar de novo, mas não podemos fazer diferente. Definimos os aumentos uma vez por ano e ainda corremos o risco de a economia mudar e complicar nossa situação;, argumentou a presidente do Sinepe-DF. A lucratividade média das escolas do DF, segundo ela, é de 3%. A inadimplência se mantém em torno de 15%, sendo que metade dos devedores quita a dívida antes da virada do mês.
Colaborou Mariana Branco