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Com um passado sofrido, o palhaço Psiu abraçou o riso como meta de vida


Quando o palhaço para diante do espelho, a pessoa que ele enxerga refletida não é a que está do outro lado. A imagem mostra um homem sério, de olhos tristes, sem motivos para sorrir. Bem diferente daquele com rosto coberto por anilina prata, com peruca azul de pelúcia e roupas extravagantes. Na Certidão de Nascimento, ele é Genilson Ferreira Lopes, 35 anos. Na vida, é mais conhecido como palhaço Psiu e tem a idade que as crianças preferirem.

Passou a vida em um orfanato de Planaltina. Sem companhia, acostumou-se a conversar consigo mesmo, diante do próprio reflexo. Em momentos de aflição, fingia ; e ainda finge ; ser dois. Para ele, é como se o homem de cara limpa desse conselhos ao palhaço maquiado. Quando tinha 3 anos, Genilson e quatro irmãos ; três meninas de colo e o mais velho, de 7 ; foram deixados pela mãe em um abrigo.

O tempo no orfanato foi de sofrimento. Genilson e os irmãos eram frequentemente espancados. Os momentos de alegria se resumiam à chegada de visitantes com brinquedos. Genilson morou no abrigo até os 18 anos. Hoje, vive sozinho em uma chácara no Guará. Procura sempre encontrar graça na vida. Há sete anos, sem falhar em nenhum Natal, vestido como palhaço, ele faz campanha para arrecadar brinquedos novos para crianças carentes. Intitulou a ação como Psiu Noel Natal feliz. Na primeira edição, doou 300 presentes.

No ano passado, conseguiu 5 mil presentes. Teve ajuda do programa Correio Braziliense Solidário e de parceiros como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Bateu o recorde em quantidade. Em 2011, pretende alcançar 10 mil doações. A campanha começa amanhã e vai até 22 de dezembro. No dia seguinte ao fim da ação, Genilson vai acordar cedo, às 5h, para distribuir entre meninos de rua os melhores brinquedos que conseguir. O restante do que for arrecadado será levado para creches e orfanatos. ;Lembro de ficar muito feliz quando ganhava um presente, me sentia lembrado. Quero dar isso a essas crianças até meu último Natal;, disse.

O voluntário aceita somente brinquedos novos para doação. ;Pode ser algo de R$ 1,99, não tem problema. Só não dá para levar coisas velhas, quebradas. Eu senti o abandono na pele. Quando era pequeno, ganhei um carrinho de controle remoto que não funcionava. Amarrei um barbante nele e puxava para um lado e para outro o dia todo. Fiquei triste com isso, me sentia desvalorizado;, explicou.

Aos 18 anos, Genilson, que ainda não era o palhaço Psiu, deixou o abrigo. Casou-se e teve uma filha. Deu a ela o nome de Ranielly Dourado Lopes. A relação com a mãe da menina não durou. No começo deste ano, Ranielly morreu em um acidente de carro. Com esse histórico, ele não teria tantos motivos para espalhar a alegria. Ao fazer o bem, porém, Genilson encontrou o caminho para manter-se equilibrado. ;Procuro encontrar razões dentro de mim mesmo para sorrir. Eu me mantenho alegre com a energia que recebo das crianças. Divirto-as com todo o meu amor;, explicou.


Solidariedade
Nos Diários Associados, cada empresa tem autonomia para atuar em projetos de responsabilidade social que espelhem o mesmo espírito solidário demonstrado por Assis Chateaubriand. O Correio Braziliense Solidário foi lançado em 2003. Hoje, atende 14 instituições no Distrito Federal, beneficiando mais de 3 mil crianças de até 6 anos.


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