O comércio do Distrito Federal mantém uma trajetória de crescimento, a despeito da política de aumento de juros e redução dos prazos de financiamento adotada pelo governo federal no início deste ano, com o objetivo de conter a inflação. No acumulado dos primeiros oito meses deste ano, as vendas do varejo local registraram alta de 5,19%. Na comparação entre agosto de 2010 e igual mês de 2011, o desempenho foi ainda melhor, com aumento de 16,27% nos lucros. Os dados estão na edição mais recente da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF).
O levantamento da Fecomércio-DF, feito com 401 empresários de Brasília e regiões administrativas, mostrou que na comparação entre julho e agosto últimos a elevação do volume de vendas foi modesta, de 2,14%. Ainda assim, o resultado foi comemorado pelo setor. ;É um dado expressivo, um percentual grande para o momento que estamos vivendo. Há algum impacto das medidas governamentais, pois houve inibição no uso do crédito. Mas se não tivesse acontecido a intervenção, a inflação seria muito maior. Além disso, há sinais de recuo das taxas de juro;, afirma Adelmir Santana, presidente da entidade.
De acordo com Santana, o crescimento pequeno poderia ter sido ainda menos expressivo. ;Ele reflete o aumento nas vendas registrado em razão do Dia dos Pais, celebrado em agosto;, explica. Meses anteriores, que não tiveram datas comemorativas, não tiveram desempenho tão bom. Foi o caso de junho deste ano, quando o faturamento do comércio em geral subiu 0,66% frente a maio.
Em relação à pesquisa conjuntural de setembro, a expectativa é de que o resultado seja inferior ao de agosto. Para o Natal, os empresários esperam crescimento no volume de negócios em ritmo semelhante ao de anos anteriores. Na visão da Fecomércio-DF, 2011 terminará com saldo positivo para o comércio local. ;Se conseguirmos manter o patamar atual e fechar com alta próxima de 16% frente a 2010, será excelente;, diz Adelmir Santana.
Para o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), o crescimento de 16,27% detectado pela pesquisa surpreende. ;À primeira vista, é um percentual acima do esperado. Estamos com uma previsão de aumento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas de um país) de 3,5% para este ano;, comenta.
Piscitelli acredita que a forte participação do funcionalismo público no consumo de bens e serviços na capital federal tenha contribuído para os números. ;Variações econômicas são menos sentidas no serviço público. Um eventual corte de gastos não acontece tão rápido quanto na iniciativa privada e os níveis de remuneração são mais estáveis. Da mesma forma, o crédito do servidor está menos sujeito a oscilações;, analisa.
A análise da Pesquisa Conjuntural da Fecomércio-DF por segmento do varejo revelou que o vestuário cravou a maior elevação de vendas em agosto na comparação com julho. Cresceu 15,53%, impulsionado pelas compras relacionadas ao Dia dos Pais. As lojas de instrumentos musicais, CDs e fitas vieram em segundo lugar, com aumento de 12,38% em seus lucros. Alguns setores tiveram retração. Foi o caso das papelarias, cujas vendas caíram 10,71%, e das lojas de móveis e decoração, com resultados 7,22% inferiores.
Entre as formas de pagamento mais utilizadas no mês passado, as vendas à vista constituíram 60,88% do total. A modalidade cartões de crédito contribuiu com 12,16%, e de cartão de débito com 6,74%. Operações a prazo, com cheques pré-datados, carnês e boletos responderam por 19,41% do total de negócios.
Restrições
Além de elevar cinco vezes a Selic, taxa básica de juros da economia, o Banco Central implementou uma série de medidas de restrição ao crédito a fim de conter a demanda por bens e serviços e, consequentemente, a pressão inflacionária. Entre elas, o aumento da alíquota dos depósitos compulsórios, enxugando R$ 61 bilhões da economia brasileira, novas regras para cartões de crédito e exigência de mais capital por parte dos bancos para operarem empréstimos de prazo maior. Em agosto, o BC surpreendeu analistas ao fazer uma redução de 0,5 na Selic, a primeira de 2011. Atualmente, a taxa está em 12%.