Médicos, enfermeiros, vigilantes e moradores de Santa Maria estão comovidos com a história de uma recém-nascida abandonada na última quinta-feira pela mãe, em uma área próxima a entulhos, na QR100 da cidade. Pelo menos 30 pessoas afirmam ter interesse em adotar a menina de cabelos pretos e pele negra. Prematuro de 28 semanas e pesando apenas 915 gramas, o bebê tem chance de sobreviver e, no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), todos estão engajados para salvar a criança. Maria Flor, como é chamada na unidade de saúde, está internada na UTI neonatal respirando com ajuda de um ventilador mecânico. Como não tem capacidade gástrica para se alimentar, todos os nutrientes são recebidos diretamente na veia. A pequena está sendo medicada com surfactante pulmonar, mistura constituída por lipídeos e proteínas que facilita a absorção de oxigênio pelo organismo.
Segundo o gerente administrativo do hospital, Ivan Rodrigues, 36 anos, a menina emocionou os profissionais de saúde. Entre os interessados em adotá-la, há três médicos ; um deles é recém-casado e ainda não tem filhos. ;Maria Flor é linda, vermelhinha e cabeluda. Não tem como olhar para ela e não se apaixonar;, disse. Amanhã à tarde, Rodrigues garante que irá procurar a seção de adoção da Vara da Infância e da Juventude (VIJ) para se cadastrar e entrar na fila para adotar a menina. ;Já liguei para lá na sexta-feira e me disseram que era para eu esperar porque a mãe ainda pode aparecer. Mas o que essa mãe fez foi uma loucura, uma insanidade e não pode ficar com a neném. Vou lutar para que a Maria Flor seja minha filha;, disse, emocionado.
Rodrigues conta que muitos moradores da região têm ligado no hospital em busca de informações sobre o estado de saúde da criança. ;Virou febre. A torcida é grande para que tudo dê certo. A história comoveu demais todo mundo;, afirmou. O diretor acredita ter condições de oferecer um lar seguro, repleto de amor e atenção à criança. ;Minha mulher é assistente social e vamos organizar a vida para poder adotá-la. Tenho dois filhos, de 11 e 9 anos, que adoraram a ideia. Faremos da nossa casa o melhor lugar para ela viver;, garantiu.
Na lista dos pretendentes está ainda o vigilante Luiz Carlos Alves da Silva, 51 anos. Foi ele quem recebeu a criança das mãos de uma moça de 18 anos, que encontrou ouviu os gemidos da recém-nascida quando passava por uma rua próxima ao hospital. A mulher se deparou com a criança, que estava dentro de uma bolsa feminina, ainda com o cordão umbilical, e correu até a guarita do HRSM, onde entregou a menina ao vigilante. Luiz Carlos é pai de três filhos, de 19, 21 e 29 anos. ;Quando eu peguei ela no colo e vi que estava viva, corri para entregar aos médicos. Me emocionei demais;, contou ao Correio.
Investigação
A polícia ainda não tem pistas da mãe da criança. Investigadores da 33; Delegacia de Polícia (Santa Maria) têm buscado informações nos hospitais públicos para saber se alguma mulher deu entrada com hemorragia ou infecção uterina. Gestantes que fizeram pré-natal, mas não finalizaram o acompanhamento, também serão monitoradas. Quem tiver qualquer informação, pode fazer uma denúncia anônima pelo Disque 197, da Polícia Civil.