Jornal Correio Braziliense

Cidades

Amigos e parentes de Alencar Sete Cordas reverenciaram o mestre com canções

A emoção e o som de choros melodiosos deram o tom de melancolia e saudade ao velório de Alencar Sete Cordas, na manhã de ontem, na capela 6 do Cemitério Campo da Esperança. A cerimônia antecedeu o sepultamento do músico e professor de violão, ocorrido às 11h e assistido por familiares, amigos, colegas e discípulos. Aproximadamente 500 pessoas foram reverenciar uma das raras unanimidades do meio musical brasiliense.

Vítima de um enfarte, no começo da madrugada de quarta-feira, depois de participar de show do pianista Antônio Carlos Bigonha, quando o acompanhou em Carta a Niemeyer, Alencar, aos 60 anos, morreu no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), onde chegou depois das 23h, ainda com vida. Natural de Ipu (CE), o instrumentista, que profissionalmente iniciou a carreira na capital cearense, veio para Brasília em 1971.

Na capital do país, assim que se instalou, passou a frequentar as rodas de choro, no apartamento da flautista Odete Ernest Dias. Ao lado de músicos, como o cavaquinista Waldir Azevedo, Bide da Flauta, Pernambuco do Pandeiro, o saxofonista Tio Nilo, o trombonista Tio João e o citarista Avena de Castro ; todos falecidos ; Carlinhos Bombril, Eli do Cavaco e tantos outros, movimentava as tardes de sábado na 312 Sul, tocando clássicos dos mestres do gênero. Naquele local, surgiu a ideia da criação do hoje trintão Clube do Choro, do qual Alencar foi um dos fundadores.

Entre os que foram despedir-se do violonista estava Odete Ernest Dias, que veio do Rio de Janeiro para a cerimônia. Em tributo ao amigo, ela tocou Só para moer, de Viriato Correia, e Evocação a Jacob, de Avena de Castro. Consternada e ao lado do caixão, com os familiares de Alencar, lembrou: ;Só para moer é do LP A história da flauta brasileira, que lancei pelo selo Eldorado, em 1981, e o Alencar gravou pela primeira vez;.

Cerimônia
Depois da cerimônia da encomendação da alma pelo diácono João Batista, Odete se juntou a outros músicos numa grande roda de choro no próprio local. Durante meia hora, ouviram-se chorinhos clássicos, como Naquele tempo e Vou vivendo, de Pixinguinha; Vibrações, de Jacob do Bandolim; e, também, duas composições de Alencar: Lucas e É do parangolé.

Eustáquio Pereira (violão), Beth Ernest Dias (flauta), Rogério Caetano (violão), Jorge Cardoso (bandolim), Paulo André (violão), Sérgio Moraes (flauta), Rafael dos Anjos (violão), Dudu Maia (cavaquinho), Henrique Neto (violão) e Bruno Patrício (sax) foram alguns dos músicos que tomaram parte da roda. Já ao lado do túmulo, um pouco antes do sepultamento, ouviu-se o belo Pedacinhos do céu, de Waldir Azevedo ; mestre do bandolim, que morava em Brasília, quando morreu em 23 de setembro de 1980.

Rogério Caetano, ex-discípulo de Alencar, chorou durante toda a cerimônia. ;Brasília e o Brasil perdem um mestre do violão sete cordas. Com ele aprendi muito e, a partir dos seus ensinamentos, pude levar a carreira adiante;, afirmou o violonista, que, além de ter discos solo lançados, participou dos últimos CDs e DVDs de Zeca Pagodinho. ;Vamos produzir um disco com as músicas do Alencar, que será uma prova do nosso reconhecimento ao seu legado.;

Outra homenagem que o, desde já, saudoso violonista receberá foi anunciada por Henrique Santos Filho, o Reco do Bandolim, presidente do Clube do Choro. ;A Sala 1, da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, passará a ter o nome de Alencar Sete Cordas.; O músico deixou como um dos legados mais importantes um método de ensino revolucionário, que, sem necessidade de cifra, facilita a vida de quem pretende aprender a tocar violão e outros instrumentos de cordas.